Quando uma Consultora internacional publica um estudo sobre um determinado produto ou serviço, temos que ter plena consciência de dois fatores totalmente antagónicos: por um lado, esses estudos que são profundos, pormenorizados, complexos, são geralmente encomendados por um cliente que, conhecedor do seu produto, não receia as conclusões nem as comparações que serão facultadas ao mercado, e, na sua perspetiva, vale o investimento que é seguramente caro; por outro lado, essas mesmas Consultoras, defendendo certamente o interesse do seu cliente, têm elas próprias um interesse superior, o de defender a sua reputação como entidade idónea e consciente. É dessa credibilidade que vivem! Se a perdem…Por isso os seus estudos são práticos e objetivos.
Vem isto a propósito do estudo que a EY fez sobre as consequências, para a economia portuguesa, da exclusão da Huawei do 5G na rede nacional. Nele refere que sem a participação da respeitada tecnológica chinesa, o 5G em Portugal ficará não só mais lento, como bem mais caro.
E é óbvio que, no fim, a decisão compete aos Governos, mas quem vai ‘pagar’ não só uma eventual qualidade inferior do serviço mas, acima de tudo, um preço mais caro, vamos ser todos nós, os consumidores. E estamos num domínio em que as operadoras instaladas em Portugal já praticam preços comparativamente bem mais altos que as congéneres no espaço europeu, um custo (e um lucro) bem mais inaceitável se compararmos os níveis de rendimento no nosso país com o dos nossos parceiros.
Estamos também num domínio em que a evolução tecnológica avança (felizmente) a uma velocidade vertiginosa, e por isso o que hoje é o topo da tecnologia passa a obsoleto numa década! Por isso a precaução em termos de investimento tem que ser ainda mais ponderada.
Por outro lado vivemos num período demasiado conturbado a nível internacional, com polos que buscam mais do que a sua afirmação, o domínio e a hegemonia nos vários setores. E por vezes vale tudo! Inclusive usar o medo e o papão da segurança individual e coletiva.
Sem entrar em grandes detalhes, o referido estudo aponta para um custo suplementar de cerca de mil milhões de euros se se excluir e tiver que se substituir a Huawei por outras tecnologias ocidentais. Destes, e em números mais concretos, 339 milhões de euros em investimentos de substituição e 193 milhões de euros em investimentos futuros. Só aqui já estão bem mais que 500 milhões. Que vamos pagar cada um de nós.
A segurança é algo de extremamente importante, poderemos mesmo dizer que não tem preço! Mas aqui há também 2 raciocínios que são essenciais:
– nunca foi demonstrado, por ninguém, que através da Huawei a China poderia ter acesso a dados que devem ser exclusivamente pessoais, empresariais ou nacionais, incluindo no domínio da segurança interna, coletiva e internacional. Tal como nunca foi demonstrado o contrário relativamente às grandes tecnológicas americanas, japonesas, sul-coreanas ou outras. E todos sabemos que o Big Brother nos observa, a todos, a todo o momento, em toda a parte, por métodos muitas vezes a ultrapassar os limites da ilegalidade. Não sabemos (nem imaginamos) é como! E ficamos muito surpresos e indignados cada vez que se desvenda um qualquer Pegasus! TODOS têm, só não os conhecemos!
– não podemos ser tão ingénuos para pensar que esse mesmo receio relativamente à segurança não possa estar a ser usado para efeitos de extraordinárias vantagens competitivas, industriais e económicas! Porque está!
O que as Sociedades têm que fazer é garantir a cada cidadão, a cada empresa, a cada Estado, o seu direito à inviolabilidade das suas comunicações. Ao mesmo tempo que tem que aprofundar, no respeito pelo Estado de Direito, a luta contra o terrorismo e o crime organizado. E tratar todos, a Huawei e todas as outras concorrentes internacionais, de forma igualitária, sem estados de alma, baseando-nos em factos!
O Governo de Portugal tem uma oportunidade de seguir o caminho da Alemanha que tomou uma decisão equilibrada nesta matéria e deixar de pôr em causa centenas de milhões de euros que serão pagos por todos, para além de colocar totalmente em causa a relação com a segunda maior economia do Mundo com quem temos uma parceria estratégica (e que, por isto, nos deixou de fora do programa de liberalização de vistos recentemente lançado).
Economista