Se vencer as eleições em novembro, Kamala Harris, de 59 anos, tornar-se-á a primeira mulher presidente dos EUA. Ao mesmo tempo, o seu companheiro, Douglas Emhoff, com a mesma idade, chamado socialmente de ‘Doug’ e, carinhosamente, de ‘Dougie’ pela sua esposa, será o «primeiro-cavalheiro». Se assim for, o casal fará história, ao tornar-se o primeiro casal inter-racial na presidência. São descontraídos, cúmplices e bem dispostos. Estão quase sempre a rir e é visível o amor que os une.
De acordo com a BBC, quando Kamala descobriu que o presidente Joe Biden se ia afastar da corrida presidencial de 2024, ligou imediatamente para o marido. No entanto, Emhoff estava ocupado a 3.200 km de distância. O ex-advogado – que já contou esta história várias vezes –, encontrava-se a fazer uma aula de ciclismo com amigos em Los Angeles. Quando os seus amigos lhe mostraram as notícias nos seus telemóveis, este correu até o carro para pegar no seu, que já estava «a pegar fogo». Quando ligou à esposa, esta atendeu perguntando: «Onde é que tu estavas? Preciso de ti!». Segundo a agência de notícias americana, o casal sempre teve um relacionamento público muito agradável, por isso, não é uma surpresa que ambos partilhem estes episódios da sua vida pessoal com os meios de comunicação. Mas afinal, quem é Douglas Emhoff? Qual a história de amor entre ele e a candidata à presidência dos EUA?
O homem que faz brilhar os olhos de Kamala
Douglas Emhoff nasceu no dia 13 de outubro de 1964, no Brooklyn, Nova Iorque, e passou a infância em Old Bridge e Matawan, Nova Jersey, com os seus pais e irmãos. Na adolescência, a sua família mudou-se para o sul da Califórnia. Segundo a revista People, Emhoff formou-se na University of California, Northridge e obteve o seu diploma de ‘Juris Doctor’, pela University of Southern California Gould School of Law. Emhoff tornou-se assim advogado e especializou-se nas áreas do direito do entretenimento, desporto e media. Um dos seus primeiros casos foi defender a Hollywood Video numa disputa com a Fox, o que o levou ao trabalho contínuo com os estúdios — e à representação de dezenas de empresas de produção numa ação coletiva de pagamento atrasado em toda a indústria no início dos anos 2000. No mesmo ano, abriu o seu próprio escritório em Beverly Hills. Em seis anos, o espaço já contava com 12 advogados, antes de ser vendido. Emhoff esteve no ramo durante 30 anos.
Kamala e Doug conheceram-se em 2013 e, um ano depois, casaram-se. «Estou velho demais para brincar ou ‘esconder a bola’», disse Emhoff na época, de acordo com Harris, que detalhou o princípio do namoro nas suas memórias de 2013, The Truths We Hold. «Eu gosto mesmo de ti e quero ver se juntos conseguimos que isto funcione», acrescentou. No livro, Kamala Harris conta a história ao pormenor: desde a primeira troca de mensagens (que aconteceu enquanto Emhoff estava num jogo dos Los Angeles Lakers), até à mensagem de voz «ridícula» que este lhe enviou um dia depois – e que ouvem em todos os aniversários de namoro –, aos biscoitos que lhe levava quando conheceu os seus filhos. Emhoff tem dois filhos, Cole e Ella, do seu anterior casamento com a produtora cinematográfica Kerstin Emhoff, com quem manteve um relacionamento entre 1992 e 2008. De acordo com a BBC, o ex-advogado tem as iniciais dos filhos tatuadas no pulso esquerdo: «Queria um lembrete do que é importante para mim. Um lembrete visceral deles», explicou numa entrevista. Segundo a revista ELLE, os enteados tratam Kamala pelo nome carinhoso «Momala» – uma combinação do seu primeiro nome e uma palavra em iídiche (uma língua da família indo-europeia) para «mãezinha».
De acordo com o The Hollywood Reporter, o casal conheceu-se num encontro às cegas marcado pela consultora de relações públicas, Chrisette Hudlin, quando Harris se tinha tornado procuradora-geral da Califórnia. Embora Harris tenha dito que Hudlin lhe disse para encarar o possível romance com a «mente aberta», esta admitiu mais tarde que pesquisou Emhoff no Google antes destes começarem a namorar. Facto que surpreendeu o seu marido.
De advogado a professor
Emhoff pediu Harris em casamento no seu apartamento no dia 27 de março de 2014, após cerca de um ano de namoro, «no meio de uma conversa nada romântica» (ela estava a decidir entre pad thai de frango ou camarão para a refeição). O casamento decorreu no tribunal de Santa Barbara, no estado norte-americano, e foi uma festa intimista e pequena onde o casal honrou heranças culturais de ambos. O marido usou uma grinalda de flores como homenagem à herança indiana de Kamala através da mãe, e ela quebrou um copo honrando a tradição judia de Emhoff.
Em 2016, o casal mudou-se para Washington, DC e Emhoff tornou-se sócio do escritório DLA Piper. Os seus clientes incluíam a empresa farmacêutica Merck, o traficante de armas Dolarian Capital e o Walmart, de acordo com o The New York Times. Depois da escolha de Harris como companheira de campanha do presidente Joe Biden, Emhoff tirou uma licença da empresa onde trabalhava para ajudar a mulher. Acabou por abandonar a advocacia em 2021, antes da posse de Harris como vice-presidente. Desde então, leciona na Georgetown Law. «Há muito tempo que queria ensinar e servir a próxima geração de jovens advogados. Não poderia estar mais animado por me juntar à comunidade de Georgetown», disse, na altura, à NPR.
Emhoff apoia a sua mulher com várias publicações nas redes sociais que mostram o orgulho que sente pelo seu percurso. «Sinto-me muito honrado por ser o primeiro marido homem de um presidente ou vice-presidente americano», partilhou. «Mas vou sempre lembrar as gerações de mulheres que serviram esta função antes de mim — muitas vezes sem muitos elogios e reconhecimentos. É o legado de progresso delas que construirei», acrescentou.
Da cozinha ao sentido de humor
Das suas paixões fazem parte a cozinha – Kamala já afirmou que o seu marido é o seu «subchefe preferido» –, e adora golfe, futebol americano e a banda Nirvana.
À People, Harris já confidenciou duas das coisas que mais ama em Emhoff: o seu sentido de humor e a sua paciência, especialmente nos dias mais stressantes. «Estamos a falar sobre um mundo livre, mas estes são sérios, com desafios muito incrivelmente sérios! Mas nós não nos levamos muito a sério no nosso relacionamento. Só é preciso deixar fluir e saberes o que é que é realmente importante», explicou.
Além das tarefas típicas que implicam apoiar a vice-presidente, uma coisa que Emhoff quer realizar no seu papel é combater a masculinidade tóxica. À CNN, contou que foi o seu pai, um designer de calçados femininos, que o ajudou a desenvolver «ideias mais saudáveis e diversas sobre o que significa masculinidade». «Masculinidade é amar a família, importar-se com ela, estar lá para ela (…) Tendemos a misturar o conceito – de que se de alguma forma um homem demonstra gentileza, empatia e consideração pelos outros, isso de alguma forma não é masculino. Isso não é aceitável, nem verdade!», alertou.
Além disso, Emhoff também se opôs abertamente ao antissemitismo e visitou o Museu do Holocausto em Auschwitz no Dia da Memória do Holocausto em janeiro de 2023. Este trabalhou com Joe Biden na Estratégia Nacional dos EUA para Combater o Antissemitismo em 2023. «Este ódio, este antissemitismo, é um veneno», disse durante uma arrecadação de fundos em agosto. «Como vosso ‘primeiro-cavalheiro’, e primeira pessoa judia na Casa Branca, prometo que continuarei esta luta», assegurou.
Emhoff foi rotulado como o «Pai Judeu Gostoso» na internet e, muitas vezes, faz referência à sua fé nas redes sociais.