Os últimos dias têm sido verdadeiramente abrasadores. Contudo, não deve ser apenas a temperatura momentânea ou a sensação térmica a alarmar-nos nestes últimos dias de Verão.
Os primeiros registos e estudos da temperatura média da Terra remontam à década de 40 e foram da iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU). No mês de Julho foram registadas as duas temperaturas médias mais altas de sempre – ambas na mesma semana e em dias consecutivos. O dia 22 de Julho tornou-se o dia mais quente desde que há registos, tendo-se atingido a temperatura média de 17,16°C na Terra, calculada pelo Copernicus Climate Change Service – programa de observação da Terra da União Europeia. No dia anterior, 21 de Julho, a temperatura média no planeta já havia atingido os 17,09°C, superando a marca anterior que remontava ao mês de Julho do ano de 2023, em que, ao sexto dia do mês a temperatura média chegou aos 17,08°C.
O pico anual de temperatura média global é atingido, por norma, entre o final do mês de Junho e o início do mês de Agosto. Estes meses, que coincidem com o Verão no Hemisfério Norte, têm um peso substantivo na determinação das temperaturas médias globais. Por esta altura, e com as temperaturas registadas nessa semana, não só já se registou, muito possivelmente, o pico de temperatura média para este ano civil, como ainda o pico de temperatura mais alto de sempre, fruto, evidentemente, do aumento do número de dias extremamente quentes bem como às elevadas temperaturas nestes atingidas.
São vários os elementos da fauna e da flora que sugerem que a tendência crescente das temperaturas não é um mero fenómeno transitório nem tampouco aleatório. Estão a atingir-se níveis de temperatura semelhantes aos que se supõe terem sido a realidade há milhares de anos. Nessa altura, a atmosfera encontrava-se sobrecarregada por gases com efeito de estufa e, apesar de as emissões de dióxido de carbono produzidas na Terra ainda não nos terem levado a esse nível, aproximar-nos-emos dele a um ritmo tanto maior, quanto menor for o nosso grau de comprometimento com a alteração dos nossos hábitos diários – sejam eles individuais ou colectivos.
Olhando para estes dados, torna-se difícil não colocar a questão evidente: estaremos a viver o ano mais quente de sempre?
O ano ainda não terminou, é certo, e para se atingir esta (infeliz) meta será necessário que se registem mais dias de calor extremo. Contudo, a probabilidade de 2024 ser o ano mais quente desde que há registos é uma hipótese que, não só não pode ser descartada, como poderá, efectivamente vir a confirmar-se. Para que tal suceda, é necessário que nos meses remanescentes do ano sejam superadas as temperaturas médias que se verificaram no período homólogo em 2023 – que foram mais quentes que o habitual e correspondem a meses em que as temperaturas baixam com a chegada do Outono e o aproximar do Inverno.
Estudos apontam que caso esta tendência não venha a ser alterada, a Terra poderá, num futuro muito distante, tornar-se tão quente quanto Vénus, tornando a vida tal qual a conhecemos, impossível. Apesar de ser difícil prever quando esta escalada de temperaturas irá parar, o certo é que com o passar dos anos a nossa capacidade de resistir ao calor será levada ao limite e os desastres naturais serão cada vez mais frequentes e dramáticos.
Apesar dos temas relacionados com a defesa e a segurança marcarem, não raras vezes, a agenda do dia nos corredores de Bruxelas, é vital que a Comissão Europeia e os Estados-membros não secundarizem nem descurem o caminho a percorrer por forma a atingir as metas que foram estabelecidas para fomentar a transição verde com vista a atingir a neutralidade carbónica e contribuir decisivamente no combate ao aquecimento global. Sendo este um esforço que deve ser de todos, devemos garantir que, quer enquanto país, quer enquanto União, estamos na linha da frente desta luta.