Michaela DePrince. Da miséria até ao sonho

1955-2024 . Uma bailarina que fez história.

Nasceu no seio de uma família muçulmana. No entanto, a vida encarregou-se de lhe mostrar o pior que há no mundo quando os seus pais morreram, tinha ela apenas três anos. Primeiro o pai, assassinado. Depois a mãe, à fome. Cresceu, por isso, órfã na Serra Leoa no meio de uma guerra civil. Subnutrida, com uma doença de pele que provoca despigmentação e abandonada pelo seu tio, viu-se obrigada, pouco tempo depois, a fugir para um campo de refugiados após o seu orfanato ter sido bombardeado.

Felizmente, com quarto anos, foi adotada por Elaine e Charles DePrince, um casal de Nova Jersey, e levada para os EUA. Foi lá que se apaixonou pela dança inspirada por uma foto de uma bailarina quando era muito jovem. Michaela DePrince, morreu na terça-feira, dia 10 de setembro, aos 29 anos, anunciou a equipa da dançarina numa publicação nas redes sociais. A causa da sua morte ainda não foi divulgada. «É com o coração pesado que tivemos conhecimento da morte da bailarina estrela Michaela Mabinty DePrince, cuja arte tocou inúmeros corações e cujo espírito inspirou tantos outros, deixando uma marca indelével no mundo do ballet e não só», lê-se na publicação. «Embora o seu tempo connosco tenha sido demasiado breve, o seu brilho e legado continuarão a marcar os corações de todos os que foram tocados pela sua história, durante as gerações vindouras», acrescenta a nota. A jovem fez história ao tornar-se a mais jovem bailarina principal do Dance Theatre of Harlem (em Nova Iorque). Depois disso, rumou aos Países Baixos para dançar no Ballet Nacional Neerlandês e depois impulsionar a carreira no Boston Ballet, regressando aos EUA. Além disso, Michaela DePince foi uma das protagonistas do documentário First Position, de Bess Kargman, lançado em 2011.

Surpreendentemente, um dia depois da sua morte, a sua mãe adotiva faleceu. Segundo o The Guardian, Elaine morreu durante «um procedimento de rotina em preparação para uma cirurgia», sem saber da morte da sua filha. Ela e o seu marido, que morreu em 2020, adotaram três meninos com hemofilia na década de 1980. Os três contraíram e morreram de HIV na década de 90. Nove anos depois, voaram para Serra Leoa para adotar uma menina órfã.