Segundo os números mais conservadores do Eurostat, 4,1 milhões de ucranianos fugidos da invasão de Putin há mais de 30 meses beneficiam de apoios sociais na União Europeia. Uma medida justa para quem tudo perdeu para manter a vida. Destes 22% (entre 900 mil e 1 milhão) são homens com idade para serem incorporados nas Forças Armadas Ucranianas. Na prática serão considerados desertores.
Desde o início da Guerra que Putin sabe que a demografia e o tempo jogam a seu favor: sendo a Rússia muito mais populosa que a Ucrânia, com dezenas de milhões de cidadãos a viverem (com as suas família) na miséria num país vastíssimo, com uma poderosa máquina de propaganda omnipresente a intoxicar e a mentir todos os dias deliberadamente, um sistema político sem qualquer pejo em utilizar massivamente ‘carne para canhão’, a capacidade de recrutamento é infinitamente maior que a da Ucrânia. E quando não é suficiente enviam-se os maiores facinoras e criminosos presos para a frente de combate, com a promessa de que, se sobreviverem uns quantos meses, serão novamente livres. Ou recrutam-se no estrangeiro mercenários por umas curtas centenas de dólares mensais (ironia, não são aliciados com rublos), muitas vezes iludidos que vêm com um contrato de trabalho e vão diretos para a frente de batalha (veja-se o caso dos cidadãos indianos que o primeiro-ministro Modi exigiu que pudessem regressar à Índia quando da sua recente visita a Moscovo). Sem qualquer treino militar e com a ‘forte dissuasão’ de serem mortos pelos próprios camaradas se tentarem recuar perante os ucranianos.
Kiev enfrenta uma outra bem mais dura realidade: muito menos gente, gente mais informada do quotidiano da Guerra, com fronteiras diretas para o Ocidente. Zelensky já teve que baixar a idade de recrutamento dos 27 para os 25 anos, e a lei marcial proibiu a saída do País de todos os homens dos 18 aos 60 anos sem uma autorização especial. Por isso tantos deixaram tudo, mas absolutamente tudo para trás: família (muitos ancestrais resignados a ficarem no ‘seu’ lugar), casa e pertences, amigos, emprego, sonhos futuros! A salto! A família pela fronteira terrestre e os homens por montes e vales, na calada da noite.
Voltemos ao nosso tema: sexta-feira 13 de Setembro de 2024, em Kiev. Na Conferência da YES (a Estratégia Europeia de Yalta), o ministro dos Negócios Estrangeiros da Polónia, Radoslaw Sikorski, faz uma proposta bombástica: «Os Estados-Membros da União Europeia devem deixar de prestar apoio social aos homens ucranianos em idade de combater que se encontram refugiados nos seus países. Para ajudar o esforço de guerra da Ucrânia, não deveria haver incentivos financeiros para evitar o recrutamento na Ucrânia».
Um azar, numa sexta 13, pode ocorrer a qualquer um. Mas para que não houvesse dúvidas, horas depois, num encontro com a Imprensa junto com o seu novo colega Ucrâniano, repete integralmente o que dissera!
E acrescentou que as poupanças conseguidas deveriam ser canalizadas para a prevenção de violações do espaço aéreo dos países da NATO (como aconteceu recentemente na Letónia e na Roménia), o que ajudaria tanto a Ucrânia como a Europa. «Como sabem, uma parte significativa dos mísseis e drones russos desaparece”, afirmou. «Os russos perdem o controlo sobre eles. Como já foi dito, até os bielorrussos estão a ter de os abater». Mais um pouco de demagogia: «Já equacionaram se um destes drones cai numa Central Nuclear ucraniana, em Zaporíjia por exemplo?». Ou «tal atitude ajudará a combater a extrema-direita na UE porque poupará dezenas de milhares de milhões de euros»! Troca-se uma vida por um voto! Há dias em que não se pode sair de casa e aqui fica outra pérola: «Não é um direito humano ser pago para fugir à mobilização militar, para defender a sua Pátria!».
A frustração de não ter sido indigitado para Comissário pelo seu País como tanto ambicionava (e até tinha expresso que queria a pasta do Alargamento), não pode justificar tamanha atoarda! Vontade de ser citado? Desempenha um posto demasiado importante!
Para mais um polaco! Que sugere fazer a esses homens? Deportá-los? Em vagões sem janelas com cães pastores alemães atiçados às pernas? De nada lhe serviram os horrores que os polacos tiveram que testemunhar e os crimes contra a humanidade em Auschwitz, Treblinka ou Birkenau?
Será este o prenúncio das propostas que nos reserva o Governo da Polónia a partir de janeiro de 2025, quando exercer a Presidência rotativa do Conselho da União Europeia? Livem-nos disto! Senhor Donald Tusk: obviamente, demita-o!
Especialista em Relações Internacionais
Este artigo de opinião recebeu um direito de resposta da Embaixada da Polónia