Na semana passada, a televisão mostrou milhares de venezuelanos a entrarem no Brasil. Volta e meia, a televisão mostra milhares de brasileiros a entrarem em Portugal. Por fim, a televisão informa que milhares de portugueses continuam a entrar noutros países – sem vontade regressar.
Estes três países de onde fogem os seus cidadãos têm algo em comum: são socialistas, como Portugal e o Brasil, ou comunistas como a Venezuela. É certo que na entrevista a José Rodrigues dos Santos a Dra. Marta Temido negou que a classe média portuguesa estivesse a emigrar, mas isto é porque a Dra. Temido acredita que a Terra é plana e que os médicos do setor privado tiraram o curso por correspondência.
A exposição do cérebro humano a ideias comunistas provoca fenómenos estranhos, como a referida tendência para dar à sola, aos quais nem as crianças escapam. Estudos recentes demonstram que metade das crianças e adolescentes que viram aqueles filmes mostrados por Vasco Granja que no fim diziam Koniec emigraram para países capitalistas. Eu próprio quando via esses desenhos animados, onde praticamente nada acontecia ou o que acontecia era nada, sentia um impulso de fugir para a casa de um amigo.
Desde saltar o muro de Berlim – e arriscar-se a ser abatido pelas costas – a ir de boia de Cuba para Miami – e arriscar-se a ser comido por tubarões -, nada deteve os cidadãos de países comunistas na sua fuga para países dominados pelo grande capital.
No entanto, os intelectuais comunistas negam que estes atos radicais possam ser semanticamente enquadrados na definição de fuga, deserção, desejo de uma vida melhor ou estou farto desta ditadura. É outra coisa. Para fundamentar a sua argumentação, socorrem-se dos próprios cidadãos capitalistas e de personagens históricos. Os cidadãos burgueses, embrutecidos pela cultura de massas capitalista, também arriscam a vida nesta nova moda de turismo de radical que os leva para o meio de guerras, revoluções e Chernobyl, de onde poderão nunca regressar. E que dizer do viajante Fernão Mendes Pinto que, sem necessidade nenhuma, arriscou a vida a calcorrear a Ásia? Estaria Mendes Pinto a fugir de uma monarquia comunista? Não, Mendes Pinto foi o inventor do turismo exótico, tendo sido o primeiro a reconhecer o potencial das Maldivas e ainda o inventor do snorkeling.
Os intelectuais comunistas são tramados. Têm resposta para tudo. De dialética em riste, esgrimem argumentos contra qualquer atrevido que os contradiga e nunca se consideram derrotados. Na melhor das hipóteses, é a realidade que se derrotou a si própria por não lhes dar ouvidos.
Entretanto, alguns daqueles venezuelanos que preferem o pão à dialética já devem estar a pensar fugir do Brasil para Portugal e, depois, para a Alemanha. Obviamente, quando se tornarem burgueses embrutecidos sem fome, irão levar a família a fazer um piquenique ao lado do reator de Chernobyl.
Escritor