Carlos Queiroz foi ontem homenageado pela Universidade Lusófona com o título de Doutor Honoris Causa, após intervenção do Magnífico Reitor Professor Doutor José Bragança de Miranda. Um momento bonito na carreira daquele que a devido tempo soube reestruturar o futebol em Portugal.
Carlos Queiroz foi ontem, no Auditório Agostinho da Silva da Universidade Lusófona, elevado à categoria de Doutor Honoris Causa, numa cerimónia que teve como pontos altos a intervenção do Magnífico Reitor Professor Doutor José Bragança de Miranda, o discurso do Administrador e Presidente da COFAC (Cooperativa de Formação e Animação Cultural) Professor Doutor Manuel de Almeida Damásio e do elogio ao novo Doutor pelo padrinho académico Professor Doutor Júlio Garganta. Depois seguiu-se a atribuição solene do título pelo reitor e o discurso de um dos homens que mexeu mais profundamente com a reestruturação do futebol português.
O currículo fala por ele e estende-se. Começou por aprender com um conterrâneo de Moçambique, o Grande Capitão Mário Wilson, de quem foi adjunto no Estoril. Tinha sido um guarda-redes sem grande jeito, como o próprio reconhece, no Ferroviário de Nampula, a cidade onde nasceu no dia 1 de Março de 1953. Dedicou-se ao futebol jovem, lançou a revolução de base que fez com que tantos talentos se afirmassem nas seleções de sub-16, sub-17, sub-19 e sub-21 e, com isso, passassem a poder exigir um lugar nos seus clubes.
Peço-lhe, nesta altura de reconhecimento, que olhe para os anos que passaram e diga o que sente. Fá-lo assim: «Tenho usado algum do meu tempo a olhar lá para trás, bem do começo… E sem dúvida que me faltou a virtude de devolver e oferecer mais à vida do que aquilo que ela me presenteou. Foi divertido e valeu a pena. Esta distinção significa que vou ter a oportunidade de partilhar a minha gratidão com todos aqueles que me apoiaram e confiaram em mim».
Aos 71 anos é sempre tempo para se olhar lá para trás. Para o encantamento que criou em todos os portugueses quando nos fez campeões do mundo de juniores em 1989 (na Arábia Saudita) e em 1991 (em Lisboa, num Estádio da Luz que rebentou totalmente pelas costuras com mais de 120 mil almas nas bancadas). Todos começaram a olhar para ele de outra maneira: o homem e a sua metodologia. Até politicamente foi aproveitado para revitalizar a imagem de uma nova gesta de portugueses que largavam a vergonha de pertencer a este país pequenino e ousavam vencer os grandes.
Daí para cá, como acontece com todos nós, acumulou sucessos e insucessos. Em Inglaterra, como coach do manager Alex Ferguson, provou que a organização era a sua arma mais poderosa. A passagem infeliz pelo Real Madrid mostrou a sua faceta de não ter paciência para aturar egos descabidos.
Aqui chegado, Carlos Queiroz passou mais tempo da sua vida a treinar no estrangeiro do que do lado de cá da fronteira. Estados Unidos, Japão, Emirados, África do Sul, Irão, Egipto, Colômbia, Qatar… Talvez os portugueses continuem ainda a embirrar com ele por ter dito verdades em momentos que prefeririam ouvir mentiras. Ou talvez tenha chegado o momento de se reconciliarem com ele. E, convenhamos, não precisa de ser doutor para isso.