O Homem que Plantava Árvores é um dos livros recomendados pelo Plano Nacional de Leitura e tem sido publicado por várias editoras portuguesas. É um verdadeiro conto de encantar que nos abre as portas para a rica e tocante obra de um autor que ainda nos guarda surpresas. Prova disso é publicação, prevista para o início de Outubro, do seu caderno de notas inédito Voyage à pied dans la Haute-Drôme, escrito em 1939.
Jean Giono (1895 – 1970) nasceu, viveu e morreu em Manosque, na Provença. Só a Grande Guerra, as ocasionais idas a Marselha e três breves viagens para fora de França o afastariam da sua terra. Para muitos era um «viajante imóvel». A sua experiência na Primeira Guerra Mundial, onde viu morrer o seu melhor amigo e inúmeros camaradas, torná-lo-ia um pacifista até ao fim da vida. O seu amor à terra inspira a sua visão panteísta. Há no encontro do Homem e da Natureza uma libertação pagã – é essa a espiritualidade de Giono. Opõe-se, por isso, ao mundo moderno e à sua loucura mecânica.
Durante a Segunda Guerra Mundial, mantém-se fiel ao seu pacifismo. Vê em Vichy a paz necessária e continua a sua vida pacata, dedicando-se à escrita, sendo a sua obra bastante apreciada. A seguir, durante o período da persecutória depuração feita durante a chamada «Libertação» da França, Giono é um dos nomes que constam na lista negra feita pelo Comité Nacional de Escritores, um órgão dominado pelos comunistas, ao lado de escritores «colaboracionistas» como Drieu la Rochelle, Louis-Ferdinand Céline, Alphonse de Châteaubriant, Charles Maurras ou Henri de Montherlant. Só nos anos 50 do século XX a sua obra e o seu talento seriam de novo reconhecidos.
O Homem que Plantava Árvores conta a história de Elzéard Bouffier, um homem solitário que decide dedicar a sua vida a fazer nascer, pacientemente, toda uma floresta numa região antes árida e inóspita. Esta é a atitude demonstra verdadeiramente o carácter de um homem. Como afirma Giono: «Para que o carácter de um ser humano revele qualidades verdadeiramente excepcionais, é preciso ter a sorte de poder observar os seus actos durante muitos anos. Se esses actos forem desprovidos de todo o egoísmo, se o ideal que os conduz resulta de uma generosidade sem par, se for absolutamente certo que não procuram recompensa alguma e se, além disso, ainda deixam no mundo marcas visíveis, estamos então, sem sombra de dúvida, perante um carácter inesquecível.»
Será esta uma história verdadeira? A questão foi colocada por muitos e para alguns esta era inspirada numa pessoa real, ou até na vida do próprio autor. Giono via nessa dúvida um reconhecimento e o que é facto é que esta sua pequena, mas grande, obra inspirou muitos plantadores de árvores reais.
Numa carta de 1957 ao Conservador das Águas e das Florestas de Digne, Giono, lamentando decepcioná-lo, esclarecia que Elzéard Bouffier era uma personagem inventada e que o objectivo do texto era fazer com que as pessoas gostassem de plantar árvores; por isso, havia cedido graciosamente os direitos de autor para motivar a sua tradução e publicação. Esta missiva só seria tornada pública em 1975, razão por que o «mistério» se manteve.
No mundo de hoje, cada vez mais urbanizado, uniformizado, descaracterizado e, consequentemente, mais desenraizado, impõe-se (re)ler este livro. Que a sua simplicidade tocante sirva para (re)encontrarmos a necessária ligação entre o homem e a terra.