Outono da vida

Querida avó, Eis que começou o mês de outubro, trazendo o outono, as noites um pouco mais frias, embora com dias bastante ensolarados. Recentemente, li um estudo em que referia que nós, os humanos, passamos por dois picos importantes de mudanças moleculares – algo que os autores associam ao envelhecimento – um por volta dos…

Querida avó,

Eis que começou o mês de outubro, trazendo o outono, as noites um pouco mais frias, embora com dias bastante ensolarados. Recentemente, li um estudo em que referia que nós, os humanos, passamos por dois picos importantes de mudanças moleculares – algo que os autores associam ao envelhecimento – um por volta dos 44 anos, e outro aos 60 anos. Isso quer dizer que, sem dar por isso, estou no “Outono da Vida”. Em poucos anos chego ao segundo pico do envelhecimento, que nervos!

O Dia Internacional do Idoso celebra-se anualmente a 1 de outubro. Este dia tem como objetivo salientar a importância do idoso na sociedade, bem como consciencializar para as oportunidades e desafios do envelhecimento no nosso tempo. Muitos municípios realizam atividades com os mais velhos (os que estão no “Inverno da Vida”) ao longo de todo o mês. 

Tu, como tantos outros, mesmo depois dos 80 anos, continuas a fazer o que queres, sem dar satisfações a ninguém. O que eu acho lindamente!

Enviaram-me um texto, precisamente sobre esta temática, que partilho contigo, infelizmente desconheço o autor.

«Quando os pais envelhecem, deixa-os viver!

Deixa-os envelhecer com o mesmo amor que eles te deixaram crescer… deixa-os falar e contar repetidamente as histórias com a mesma paciência e interesse que eles escutaram as tuas quando eras criança… deixa-os vencer, como tantas vezes eles te deixaram ganhar… deixa-os conviver com os seus amigos, conversar com os seus netos… deixa-os viver entre os objetos que os acompanharam ao longo do tempo para não sentirem que lhes arrancas pedaços das suas vidas… deixa-os enganarem-se, como tantas vezes tu te enganaste… DEIXA-OS VIVER e procura fazê-los felizes na última parte do caminho que lhes falta percorrer, do mesmo modo que eles te deram a mão quando iniciavas o teu».

Não vejo a hora de começar a sentir o cheiro das castanhas assadas. 

Querido neto,

Como sabes, cada vez que diziam à minha prima, Maria Lamas, «A idade é um estado de alma», ela respondia logo «É bem verdade, mas não me ajuda a descer as escadas!». Sobre este tema partilho contigo o refrão da canção “Não se sintam só”, do meu amigo Emanuel: «Pai, Mãe, nunca se sintam sós/ Os vossos netos enviam um beijinho/ Com muito amor e muito carinho/ Pai, Mãe… Não se sintam sós!»

Muito obrigado pelo link que me enviaste com a música “Quando Formos Velhinhos” do Rogério Charraz. Adoro o teledisco (creio que agora, só os da minha idade sabem o que é um teledisco) com o grande Ruy de Carvalho (o ator português mais velho no ativo) e a inesquecível Eunice Muñoz.

«Quando nós formos velhinhos/ Cá em casa os dois, sozinhos/ De pantufas e roupão/ Se ainda me deres ouvidos/ Vou buscar-te os comprimidos e cuidar-te da tensão/ Se a pensão der pra pagar/ E se o tempo nos chegar/ Vou levar-te de viagem/ Podemos ir num cruzeiro/ Ver os dois o mundo inteiro, nem que seja à outra margem…».

Obrigada por partilhares estas preciosidades com esta avó que tanto te ama.

Não te esqueças que, dia 5, celebramos a “Implantação da República”! Os mais novos não devem esquecer o significado dos feriados, mesmo quando estes calham ao sábado.

Aproveita para ler o livro “Diário de um Adolescente na Lisboa de 1910”; «Joaquim José é um jovem lisboeta de 14 anos em 1910. Pai republicano, avó monárquica, criada com namorado da Carbonária e aluno de um dos homens que mataram D. Carlos e D. Filipe, facilmente se compreende a confusão que vai na sua cabeça. O seu diário é o registo bem-humorado desses dias de sobressalto que vão dar ao 5 de Outubro». Deu-me uma grande trabalheira a escrever, foram meses de pesquisa, como sabes.

Ainda não me contaste NADA dos dias que passaste nos Açores.

Espero que não tenha sido só trabalho!

Bjs