O discurso sobre o aumento da imigração, na Europa e nos Estados Unidos, tem sido dominado por narrativas populistas que associam o afluxo de imigrantes a um suposto aumento da insegurança. A extrema-direita europeia, oportunista e desprovida de princípios, tem explorado esse filão para ganhar terreno político e Portugal parece não escapar incólume à disseminação dessas ideologias nefastas.
A criação de centros de acolhimento de imigrantes, entre outras medidas securitárias anunciadas por Luís Montenegro no encerramento do Congresso do PSD, aproxima-se perigosamente de um discurso que desumaniza os imigrantes e os trata como uma ameaça. Ora, este tipo de abordagem não resolve os problemas estruturais que levam à imigração irregular, pelo contrário, apenas reforça o medo e a xenofobia.
Em Portugal, os dados oficiais não sustentam a ligação entre aumento de imigração e aumento de criminalidade. Na realidade, estudos indicam que as verdadeiras causas da criminalidade estão mais ligadas à marginalização social e à pobreza do que à condição de imigrante.
Muitos dos estereótipos que ligam imigrantes à criminalidade são, com efeito, alimentados por percepções distorcidas. E, sublinhe-se, muita da culpa radica na cobertura mediática desproporcional de casos isolados envolvendo imigrantes, com promoção de narrativas sensacionalistas que inflamam o medo e a desconfiança.
Importa, mais do que nunca, ter presentes as palavras do Papa Francisco: “não podemos deixar que os medos nos impeçam de acolher quem precisa. A falta de solidariedade constrói muros e agrava a exclusão”.
Não haja dúvidas de que o verdadeiro perigo, em Portugal como no resto do Mundo, não é a imigração, mas sim a cedência ao populismo e às suas soluções simplistas, sempre ilusórias e com consequências que podem ser muito pouco virtuosas.
Presidente da Cooperativa Milho-Rei