Nem todos se podem dar ao luxo de ver o seu nome transformar-se num adjetivo. Mas, numa era muito napoleónica, Donatien Alphonse François, o Marquês de Sade, trouxe para os dicionários os termos sádico e sadismo. Cumprem-se no próximo mês de Dezembro 210 anos sobre a sua morte. Ia a caminho das 75 Primaveras, logo ele que mergulhou nas profundezas da libertinagem e pagou caro por isso. As acusações foram várias: blasfémia, pornografia, crimes sexuais em geral. Quem esperaria tal coisa de um filho de gente fina como Jean Baptiste François Joseph, seu pai, Conde de Sade, e de Marie Eléonore de Maillé de Carman, sua mãe, prima do rei de França, que o deu à luz num quarto de luxo do Hôtel de Condé, em Paris, no dia 2 de Junho de 1740. Pois… mas nem toda a família era formada por flores que se cheirassem. E Donatien acabou entregue aos cuidados de um tio padre, o abade de Sade, um pedófilo sem escrúpulos que o sujeitou a sessões de pancadaria e de sodomização. Seguiu-se a Academia Militar, especialidade de cavalaria, e os campos de batalha durante a Guerra dos Sete Anos. Saiu dela com a patente de capitão e a fama de ser um antissocial com tendência para abusar das mulheres que se dispunham a dar-lhe acesso às alcovas.
Bem, não estou aqui para escrever a biografia do figurão, há muitas e boas e seria fastidioso para uma crónica, pelo que vou direto ao dia da sua morte. Nessa altura já conhecia de cor e salteado um nunca mais acabar de cárceres. E nunca a prisão foi capaz de conter os seus excessos. Sendo por várias vezes castigado com a mais dura das penas, a de não o deixarem escrever enquanto enclausurado, não foi por isso que deixou de ir publicando obras que chocavam até ao fundo da alma alguns seres afetados na sua pudicícia. Publicava aqui, era proibido ali, de tempos a tempos lá vinha a ordem de lhe arrestarem os livros, retirando-os das livrarias, envelheceu cada vez mais amargo e inspecionado pelos deuses e demónios da medicina de então que o consideraram doente mental e a necessitar de «tratamento moral», fosse lá isso o que fosse. Os seus 74 anos não o impediam de continuar a participar em orgias. Nem de iniciar uma relação com uma rapariguinha com menos quase 60 anos do que ele chamada Madeleine Leclerc. O romance durou pouco. Internado no asilo de Charenton, Donatien Alphonse François, o Marquês de Sade, morreu num sofrimento atroz provocado por gangrenas.Sádico, portanto, até no momento de entregar a alma ao criador. Se é que alguém o criou…