O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) manifestou solidariedade para com a família de Odair Moniz, cidadão cabo-verdiano de 43 anos que morreu baleado pela Polícia de Segurança Pública (PSP) na segunda-feira, em Lisboa. Em declarações no sábado à agência Ecclesia, à margem da reunião do Sínodo no Vaticano, José Ornelas, também bispo de Leiria-Fátima, expressou “profunda proximidade” à família de Odair, lamentando a tragédia. “Ninguém pode ser assim tratado,” declarou.
Ornelas também demonstrou “grande respeito” pelos que promovem a ordem pública de forma pacífica, reconhecendo que todos enfrentam desafios. “Ninguém tem uma missão fácil nestes tempos,” afirmou o bispo, sublinhando a importância de uma “colaboração de todos” para evitar a violência, tanto por parte das autoridades quanto da população em resposta a possíveis abusos.
Nas suas declarações, José Ornelas destacou a necessidade de Portugal saber conviver com as diferenças, recordando o histórico do país em receber e integrar a diversidade. “Temos de escutar-nos mutuamente, seja com as pessoas que já estão entre nós, seja com aqueles que chegam de fora e querem viver connosco,” afirmou. Ornelas sublinhou que essa convivência é essencial para o progresso e a paz social: “Sem isso, não há paz, não há progresso, não há humanização”.
A morte de Odair Moniz, morador do Bairro do Zambujal, ocorreu na madrugada de segunda-feira no Bairro Cova da Moura, na Amadora, no distrito de Lisboa. A Inspeção-Geral da Administração Interna e a PSP abriram inquéritos ao incidente, e o agente envolvido foi constituído arguido.
Desde o incidente, a Área Metropolitana de Lisboa registou mais de 100 ocorrências de distúrbios públicos e várias detenções. No sábado, milhares de pessoas participaram numa manifestação pacífica organizada pelo movimento Vida Justa, que apelava a mais justiça e igualdade social, enquanto uma contramanifestação foi promovida pelo partido Chega. Segundo a PSP, ambas as manifestações ocorreram de forma “pacífica e com civismo”. O funeral de Odair Moniz realiza-se hoje, na Buraca, após quase uma semana de manifestações e distúrbios.