Durante a semana da alimentação, depois de alguns pais terem ido à escola partilhar ou preparar uma receita saudável, quando as crianças se sentaram à mesa para almoçar esmoreceu para algumas o conceito de saudável, se entendermos que isso implica muito mais do que ingerir os nutrientes necessários.
As críticas gerais às refeições servidas em muitas escolas públicas são sobejamente conhecidas: peixe espapaçado ou sem sabor, carne seca e dura, sopa demasiado líquida ou fria e até alimentos malcozinhados. Desta panóplia de queixas os mais pequenos regalam-se quando lhes calha no prato douradinhos ou atum.
Podemos encontrar todas as razões para que as refeições servidas na escola não tenham a mesma qualidade das que confecionamos em casa, também haverá escolas com refeições melhores do que outras e nas piores talvez a comida não seja má todos os dias. Mas claramente as refeições da escola pública são um problema. Que se torna ainda mais evidente quando a qualidade e variedade são comparadas com as das escolas vizinhas de regime privado.
Não seria de esperar que todas as crianças, independentemente do tipo de ensino, pudessem reconfortar o estômago com uma refeição de qualidade? Ou é natural assumir que para terem uma refeição de qualidade têm de esperar pelo jantar ou por um dia de sorte? Sendo que, para algumas, esse jantar ou esse dia podem demorar demasiado tempo a chegar.
Não parece nada justo que, depois de uma manhã inteira a trabalhar, para algumas crianças o momento do almoço se torne rapidamente num martírio em vez de um momento de prazer.
Quando crescem já podem escolher entre a comida que muitos descrevem como intragável, trincar umas coisas no bar ou simplesmente não almoçar. Muitos espreitam o prato e se não lhes agrada picam o ponto (para não levantarem suspeitas quando os pais verificarem o sistema) e vão ocupar o intervalo de uma forma mais apetecível.
Claro que, em teoria, os alunos podem levar comida de casa, mas nem todos os pais terão possibilidade de a preparar. Há quem diga: «Se as crianças são esquisitas têm bom remédio. Levem comida de casa.» Não, não são as crianças que são esquisitas. A comida é que, não raras vezes, é muito esquisita. Tão esquisita ao ponto de os mais novos às vezes não conseguirem identificar se é carne ou peixe. E se sabemos que nem todas as crianças têm ‘uma boca santa’, mais uma razão para lhes apresentarmos bons pratos, para as estimularmos com comidas variadas e saborosas que as vão convencendo aos poucos de que o peixe ou os legumes nem sempre são assim tão maus. Em vez de transformar o almoço num castigo mesmo para quem gosta de comer. Isso sim, pode tornar a relação com a alimentação muito pouco saudável.
Psicóloga na ClinicaLab Rita de Botton
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