A Santa Repressão…

Colocarmo-nos na pele de quem provocou o fim de uma vida é um sentimento que não conseguimos percorrer.

A Santa Inquisição acabou já há 200 anos, mas deu lugar à Santa Repressão. As técnicas são as mesmas… pouco mudou… porque os objetivos são os mesmos: controlar a sociedade.

Um homem está no seu carro, tranquilo, vai a passar e os malandros dos inquisidores – os polícias – mandam-no parar. Ele resiste! E os mesmos inquisidores resolvem o assunto, não já na fogueira, mas com um tiro.

É desta forma, simplista, que os debates públicos estão a encarar o trágico acontecimento que resultou na morte de um homem de 42 anos e em tumultos inqualificáveis nas nossas cidades… Olha-se para os polícias como inimigos do povo e nós, as vítimas, os que foram abusados tragicamente por estas almas superiores.

Eu não sei o que aconteceu. Aliás, ninguém sabe… e o que se sabe é desdito todos os dias… Parece que os polícias foram ameaçados com uma arma branca, mas, depois, parece que não foram ameaçados e que não havia uma arma branca…

A pressa de dar a última notícia e de reagir aos acontecimentos, empolgados pela comunicação social, leva-nos, muitas vezes, a comentar acontecimentos que nunca aconteceram. Porque o jornalismo, servo da verdade, não pode esperar que se apurem os factos e lança-se a comentar o que ninguém sabe…

Naturalmente, a falta de informação empolga as emoções e as revoltas…

Sinceramente… Sou padre… e admiro os que no Século XXI ainda pensam em abraçar esta vocação… Sinto-me amarrado a um papel que não foi aquele que abracei… eu abracei um personagem que dispõe da sua vida para servir os outros, mas a comunicação e a esquerda conseguiu pintar-nos de maus, vilões e pedófilos…

Se colocarmos as mãos na consciência, tendo em conta as notícias dos últimos 20 anos, também nos devemos admirar de alguém escolher a política como atividade permanente na sua vida… Hoje, vai para político, quem não tem amor à sua vida ou deseja ser mártir… Na realidade, o que se diz deles e a imagem que nos fazem acreditar sobre a atividade política é muito pouco recomendável…

Para terminar, eu ainda me pergunto: a ganhar uma miséria, quem é que ainda hoje pretende fazer parte do corpo de Polícia? Quem é que pretende ver a sua vida posta em risco e, mais ainda, a sua vida destruída para sempre…

De todos os comentários que tenho acompanhado nos diferentes meios de comunicação social, não ouvi, ainda, algum que considere o estado de espírito daquele que infligiu, no exercício da sua profissão, a bala que conduziu à morte daquele homem…É evidente que alguns pensarão que será melhor dar um tiro e continuar vivo do que andar de carro, ser parado e ir desta para ‘melhor’, eu diria, ‘pior’. No entanto, eu não sei se será verdade: na realidade, um jovem polícia, com um ano de serviço (pelo que se sabe), durante a sua hora de trabalho, ter o infortúnio de levar um homem à morte – independentemente das culpas de quem quer que seja – desejaria mais morrer do que ficar vivo.

Será sempre fácil pormo-nos na pele de quem morre. Até porque morreu e morrer é coisa que ninguém quer! Porém, colocarmo-nos na pele de quem, tendo escapado à morte, levou outro ao fim da sua vida é um sentimento que não conseguimos percorrer. Para nós, quem mata é sempre injusto e quem morre é sempre o melhor homem do mundo… independentemente do seu cadastro.

As leis são para ser cumpridas! E, na realidade, são para ser cumpridas não apenas pelos polícias, mas por todos… todos… todos…

Qual vai ser o futuro destes debates? Nada!

Daqui a um ano ainda vamos estar a ouvir os políticos a dizer que não têm dinheiro para contratar mais polícias, as populações a dizerem que não se sentem seguras e que, dada a malvadez de todos estes profissionais de segurança, mais vale acabar com os agentes de autoridade!