Não sei sei se fartote é uma palavra apropriada, mas o que quero exprimir, sem querer hiperbolizar o ambiente político em que o Governo se meteu, exige desassombro. Deixem-me então amplificar o adjetivo e ensaiar uma tentativa de análise.
Aparentemente não escapa um: o das Finanças segue a linha da duplicidade de discurso, recuperando a tática de dizer umas coisas simpáticas em Portugal e engrossando o tom em Bruxelas. Foi isso que fez com as contas públicas, que lhe foram entregues imaculadas e com as quais quis criar uma realidade alternativa. Ao ser confrontado, atrapalhou-se ao ponto de se esborrachar contra a realidade. Mas, foi também o que fez com o plano de médio prazo entregue em Bruxelas, que contraria as suas próprias previsões do cenário macroeconómico da propaganda das eleições. Desta vez, para escapar ao vexame da contradição, escondeu-se num artigo sobre mitos, que não sendo sobre mitos urbanos, faz lembrar a tese que o Elvis Presley continua vivo algures numa ilha, porventura do leste da Europa, daquelas onde o PIB cresce desmesuradamente.
Andávamos nesta discussão e a da Saúde já metia os pés pelas mãos quanto ao plano de emergência, que passou rapidamente a plano de médio prazo, para acabar estacionado no longo prazo, onde quase tudo correu pior do que o prometido! Pelo caminho, o da Educação, que aparentemente tinha os pés assentes na terra, baralhou números, ou usou-os deliberadamente a seu favor, sendo premiado por mais um polígrafo que o desmentiu em toda a linha. A trama continuou com o homem das Infraestruturas: cheio de ar e de confiança, desatou a inaugurar casas e linhas férreas, querendo fazer acreditar que elas eram possíveis de se construírem em três meses, sem revelar o verdadeiro autor das iniciativas. Quanto à privatização da TAP, o mesmo que já a tinha privatizado debaixo de uma escada, pela noite dentro com os fundos da gaveta da própria companhia, promoveu reuniões discretas (é assim que agora se diz ‘secretas’) e em lugares mais ou menos escondidos, sem avisar o PR, que antes, quando o PS governava, vetara um diploma que dizia, preto no branco, que havia falta de transparência e exigia saber o que ia acontecer. Agora, estamos num mundo novo. Como não há diploma, não sabemos o que vai acontecer, nem com quem ou onde. Mas, ao que parece, Belém abandonou essa preocupação: agora a transparência exigida como que se ilumina a si própria na obscuridade!
Sem parar esta roda viva com power-points em perfeito atropelo uns com os outros, a Defesa entra de rompante em Olivença e quase que abre um conflito diplomático (com o próprio Governo, entenda-se, porque em Espanha ninguém ligou nenhuma). Ao que parece, conhecem-no há anos das deambulações em Bruxelas e arde sempre daquela maneira, mas nunca chega a queimar! Irrelevante por isso. Já para o dos Negócios Estrangeiros não foi muito irrelevante, porque se era para dizer alguma coisa, sobre aquele incontornável tema, então que tivesse sido ele. Irritou-se, mas conteve-se! Mas só até ao dia que todos esperavam que explodisse… e explodiu: entre ‘burros!’ e ‘camelos’! lá tentou abrir caminho a meio de uma pista onde só deviam estar aviões de guerra! O ‘Primeiro’, que dizem ser muito bom porque está sempre calado, segurou aquela epifania com tenacidade e reafirmou que a confiança é coisa que os impropérios da zoofilia não abalam. Mas vale a pena terminar numa boa pândega: entre vinho e água, o da Agricultura escolheu o vinho e aconselhou os portugueses a pouparem na água, que faz mal à saúde. De resto, os ginásios já estão a substituir a água por Casal Garcia e/ou Gatão, tinto ou branco. No fim do dia, para quem preferir gostos que exigem mais delicadeza e serem consumidos com a vagareza que o momento exige, falem então com o da Presidência que soletrará com a paciência suficiente o veredicto que entenderem. Também desta forma ocupa o tempo que não pode ser dado à da administração interna para evitar queimar ainda mais!
Camelos, água, Elvis Presley, burros, mitos e Casal Garcia
Os ginásios já estão a substituir a água por Casal Garcia e/ou Gatão, tinto ou branco…