Esta semana a TV matracou os telespectadores com os recentes acontecimentos nos bairros periféricos de Lisboa. Houve de tudo a explicar aquela revolta contra a Lei e o Estado. De repente, toda a gente, incluindo os analistas, teve medo, tal era o desaforo dos delinquentes contra a Autoridade. Quatro autocarros arderam em sintonia com centenas de caixotes do lixo incendiados, criando uma imagem feérica como não estamos habituados a contemplar. A coisa metia medo. Note-se que durante esta semana o Mundo desapareceu. Na televisão portuguesa, todos os dias, em todos os canais, em todas as horas, o tema único foi o incêndio da periferia.
Medo. Justificado, pois bem. Visível em muitos ou todos dos intervenientes na TV que, com raras excepções, pronunciaram o impronunciável, a saber, que a maioria dos insurrectos eram jovens pretos. Trata-se de jovens que crescem ao Deus dará, com mães que saem de casa às cinco horas da manhã para virem para o centro limpar escritórios, hotéis, etc., e que depois regressam a desoras para cozinhar um jantar miserável. Não têm tempo nem energia para averiguar como os seus filhos passaram o dia. Não têm tempo para os educar.
Aconteceu que um jovem preto foi assassinado por um polícia branco. Tudo explodiu. Noites e noites de vandalismo violento como só estávamos habituados a ver em França, Inglaterra e Estados Unidos. A moda chegou a Portugal, trazida pela televisão e circulada pelas redes sociais, que facilitam o toque a reunir dos mais permeáveis à acção violenta. Mas nós estamos em Portugal, onde estes costumes não eram habituais nem nunca atingiram esta proporção.
Muitos imigrantes vêm para Portugal convencidos de que aqui gozarão de uma vida melhor. Engano. Portugal será menos miserável do que muitos dos países asiáticos e africanos donde provém uma grande parte dos imigrantes. Mas ainda assim não garante uma vida decente, com casa para habitar e salário que dê ao menos para viver modestamente. Estes imigrantes iludidos, na esmagadora maioria de cor, vê-se, chegado à entrada no País e depois de superado o inferno burocrático para obter autorização de residência, condenado a amontoar-se nos bairros periféricos, já de si empanturrados de gente desgraçada.
Talvez que no país de origem as condições de vida fossem ainda piores, mas este facto – a ser verdadeiro – não altera as condições deploráveis em que por cá se abrigam. Nas periferias lisboetas (por enquanto) acumulam-se toneladas de frustração, o que explica que o assassinato de um preto por um polícia branco tenha espoletado a sucessão de violências a que temos assistido. A Polícia é bruta e excede-se ? Possivelmente. Mas nem a polícia suíça conseguiria, nas actuais condições da economia e cultura portuguesas, lidar a bem com este problema. Por cá, segundo tenho ouvido, recomenda-se muito que a Polícia entre amigavelmente nos bairros e conviva também amigavelmente com os residentes. Mas os residentes, ou melhor, os jovens residentes odeiam-na, porque vêem nela uma mera força de repressão.
Remédio ? Em primeiro lugar, Portugal tornar-se um País rico que possa integrar os imigrantes e, talvez, treinar mais a polícia para saber atirar ao alvo, em vez de atirar logo a matar.
Pobreza e integração
A moda chegou a Portugal, trazida pela televisão e circulada pelas redes sociais, que facilitam o toque a reunir dos mais permeáveis à acção violenta.