Trump e o PSD

O Partido Republicano, por mero oportunismo eleitoral, deixou-se capturar numa teia que ofende o seu património político, que desvirtua a memória e o legado das anteriores administrações republicanas e que, no limite, descaraterizou, por completo, a identidade genética do GOP.

Mais do que em 2016, as eleições norte-americanas de 2024 constituem um verdadeiro barómetro político. Hoje, ninguém desconhece a montanha de casos que envolve o ex-presidente norte-americano, nem tampouco ignora a sua retórica radical e odiosa. É, por isso, indecoroso assistir à espargata ideológica que, a propósito das eleições norte-americanas, contaminou boa parte das famílias políticas conservadoras.

Confrontado com a perspetiva de ter Donald Trump ou Kamala Harris sentados na sala oval, o espetro partidário à direita do Partido Socialista (PSD, CDS, IL e Chega) oscilou entre aqueles que não consideram haver grande diferença entre um e outro e aqueles que assumidamente torcem pela vitória do candidato republicano. Se a escolha mais à direita preconizada, sobretudo, por dirigentes do Chega e do CDS não surpreende, o mesmo já não se pode dizer do PSD.

O Partido Republicano, por mero oportunismo eleitoral, deixou-se capturar numa teia que ofende o seu património político, que desvirtua a memória e o legado das anteriores administrações republicanas e que, no limite, descaraterizou, por completo, a identidade genética do GOP. Transformou-se numa amálgama de interesses corporativos e religiosos e um oásis para quem vê o exercício da atividade política apenas como campo de exclusões, de afirmação de ressentimentos e de divisionismos.

Também, por isso, ver e ouvir dirigentes do PSD a defender a candidatura de Trump diz muito sobre o mundo perigoso em que estamos a viver e do relativismo moral em que alguns nos querem mergulhar.

Não vale nem pode valer tudo na política. Fechar os olhos e os ouvidos à perigosa retórica de Trump para, com isso, procurar a sua normalização, é prestar um mau serviço à democracia. Não é à toa que, de 2014 para cá, as autocracias têm vindo a ganhar terreno perante o declínio das democracias. O que pensariam os fundadores do PSD ao ver vários dirigentes social-democratas a defender Trump e a entregarem-se, assim, de livre vontade, sem rebuço ou constrangimento, a uma ofensa histórica aos valores fundacionais do PSD? Realmente, “a política sem risco é uma chatice, mas sem ética é uma vergonha”.

Eurodeputado eleito pelo PS