EUA. Ameaças de bomba no estado da Geórgia espelham preocupação com segurança

Nesta eleição, as ameaças de segurança, incluindo as recentes na Geórgia, uma delas atribuída a fontes russas, espelham o aumento de tensões políticas e a disseminação de desinformação.

EUA. Ameaças de bomba no estado da Geórgia espelham preocupação com segurança

O secretário de estado da Geórgia, Brad Raffensperger, confirmou nesta terça-feira uma ameaça de bomba contra um local de votação no estado, atribuindo a origem da ameaça a fontes russas. Apesar de considerar o incidente sem credibilidade, Raffensperger destacou a importância de investigar qualquer ameaça à segurança pública.

“Verificamos sempre essas situações por uma questão de segurança pública”, afirmou Raffensperger numa conferência de imprensa. “Parece que eles [os russos] estão sempre prontos para causar problemas. Eles não querem que tenhamos uma eleição tranquila, justa e precisa”, sublinhou.

A ameaça de bomba ocorre no contexto de uma série de eventos que têm sido associados a interferências estrangeiras nas eleições da Geórgia. A 14 de outubro, uma tentativa de ataque cibernético visou o site do gabinete do secretário de estado.

O ataque tinha o objetivo de interromper o sistema de solicitação de boletins para votação por correspondência. Para neutralizar a investida, a equipa do estado acrescentou um sistema de verificação de utilizadores para confirmar que cada visitante era humano. Segundo Gabriel Sterling, diretor de operações do gabinete, o ataque foi identificado como sendo de origem estrangeira, com indícios de origem russa.

Raffensperger expressou confiança de que a recente ameaça de bomba também teria sido orquestrada a partir da Rússia, embora não tenha especificado os métodos usados para confirmar essa suspeita. “Isso diz-nos algo sobre os russos: eles não são nossos amigos”, disse, acrescentando: “Qualquer um que pense o contrário não está a acompanhar as notícias”.

Outro incidente envolve trabalhador eleitoral

Num caso separado, o FBI prendeu um trabalhador eleitoral do condado de Jones, acusado de enviar uma carta com ameaças a outros trabalhadores eleitorais, incluindo uma ameaça de abuso sexual, agressão e explosão de bomba.

Nicholas Wimbish, de 25 anos, que trabalhava no Escritório Eleitoral de Jones County, ter-se-á envolvido numa altercação verbal com um eleitor no dia 16 de outubro. No dia seguinte, enviou uma carta ao superintendente eleitoral do condado, tentando fazer parecer que a correspondência vinha do eleitor com quem havia discutido.

De acordo com o Departamento de Justiça dos EUA (DOJ), a carta continha acusações de que Wimbish estava “a manipular votos” e a tentar distrair eleitores. Em tom ameaçador, a mensagem afirmava que Wimbish e outros trabalhadores eleitorais deveriam “ficar de olho” e que ele “daria uma coça” a qualquer um que tentasse enfrentá-lo. A carta incluía também ameaças de “violação com raiva” contra trabalhadoras eleitorais e uma nota final manuscrita mencionando uma suposta “bomba no local de votação antecipada”.

Wimbish agora enfrenta acusações por envio de ameaças de bomba, divulgação de informações falsas sobre ameaça de bomba, além de ameaças por correspondência e declarações falsas ao FBI. O FBI de Atlanta está a conduzir as investigações.

As autoridades locais, incluindo o Gabinete do Secretário de Estado, continuam em alerta para garantir a segurança dos eleitores e dos locais de votação, enquanto monitorizam a situação de perto para impedir qualquer interferência estrangeira ou ameaças à integridade do processo eleitoral.

Para além do FBI, tendo em conta que as ameaças de bomba estão a afetar a Geórgia durante o dia de hoje, o Departamento de Polícia do Condado de Fulton deixou claro que respondeu a várias chamadas sobre ameaças nos locais de votação daquele condado desde que as urnas foram abertas de manhã. Nas redes sociais, aquela força de segurança esclareceu que “a interrupção do processo de votação é um crime e os indivíduos que fizerem ameaças perturbadoras enfrentarão acusações”.

“Queremos garantir aos eleitores que a sua segurança é a nossa maior prioridade. Os eleitores verão oficiais em todos os 177 locais de votação hoje. O Departamento de Polícia do Condado de Fulton também está em coordenação com cada uma das agências de aplicação da lei do Condado de Fulton para prevenir e responder rapidamente a quaisquer incidentes”, frisou.

As ameaças de segurança no âmbito das eleições norte-americanas

A Geórgia é um estado decisivo nestas eleições e tem sido alvo de desinformação russa no último mês. Raffensperger culpou anteriormente os russos por um ataque cibernético ao site do seu departamento a 14 de outubro. No entanto, este não é um caso isolado: espelha aquilo que se vive nas últimas décadas, principalmente após os ataques de 11 de setembro de 2001. Houve um aumento na vigilância e na resposta a ameaças de segurança durante eventos cívicos importantes, incluindo eleições.

Embora muitas dessas ameaças sejam posteriormente identificadas como falsas, o impacto psicológico e o potencial de interrupção nos locais de votação são reais, exigindo respostas rápidas das autoridades. Durante as eleições intercalares de 2018, por exemplo, ameaças de bomba e pacotes suspeitos foram relatados em diferentes locais dos EUA. Embora nenhum dos incidentes tenha resultado em explosões, levaram ao fecho temporário de alguns locais de votação e ao aumento da segurança em várias regiões.

Mas, já a partir de 2016, as autoridades dos EUA intensificaram as investigações de segurança cibernética e de possíveis ameaças físicas ligadas a interferências estrangeiras. Em algumas eleições subsequentes, como em 2020 e 2022, ameaças foram registadas, inclusive algumas que se acreditava serem incentivadas por grupos estrangeiros que tentavam criar caos e desconfiança no sistema eleitoral.

Durante a eleição presidencial de 2020, marcada pela alta polarização política e pela pandemia de COVID-19, houve ameaças generalizadas, incluindo ameaças de bomba em alguns estados. No meio de preocupações com a segurança, as autoridades locais e federais estavam em alerta máximo para evitar incidentes. Mesmo que muitas ameaças não se concretizassem, resultaram numa presença policial reforçada nos centros de votação.

Estas ameaças têm levado as autoridades a investir em sistemas de monitorização de segurança, tanto física quanto cibernética, para proteger o processo eleitoral e garantir a tranquilidade dos eleitores. Em muitos casos, ameaças de bomba em dia de eleição são tratadas com extrema seriedade, levando à evacuação e ao reforço da segurança nos locais de votação, mesmo quando são consideradas de baixo risco.

O que se passa na Geórgia?

Regressando à Geórgia é relevante dizer que se trata, tradicionalmente, de um estado de tendência republicana, mas nos últimos anos tornou-se um dos principais “swing states” dos EUA. Este termo refere-se a estados onde não existe um domínio claro de um partido e que podem, portanto, ser ganhos por democratas ou republicanos, dependendo das condições eleitorais e das campanhas.

Durante várias décadas, a Geórgia foi um reduto republicano, com o partido a ganhar a maioria das eleições presidenciais e estaduais. De 1996 a 2016, por exemplo, os candidatos republicanos venceram consistentemente nas eleições presidenciais. Porém, a eleição de 2020 marcou uma viragem significativa. Joe Biden, o candidato democrata, venceu na Geórgia por uma margem estreita, tornando-se o primeiro democrata a ganhar o estado desde Bill Clinton, em 1992. Tal chamou atenção nacional para o estado como um campo de batalha importante.

A Geórgia tem vivido um rápido crescimento populacional nas últimas décadas, especialmente na área metropolitana de Atlanta. Essa região tem uma população mais diversificada e uma proporção maior de jovens e minorias, grupos que tendem a votar maioritariamente em candidatos democratas. Essa mudança demográfica é uma das principais razões para a crescente competitividade eleitoral do estado. Tanto que em 2021, por exemplo, o estado elegeu dois senadores democratas (Raphael Warnock e Jon Ossoff) numa eleição especial que determinou o controlo do Senado dos EUA.

Atualmente, a Geórgia continua a ser observada de perto, com resultados que dependem muito da participação de eleitores em áreas urbanas versus áreas rurais, onde os republicanos ainda têm um forte apoio. Deste modo, não se pode afirmar que é totalmente republicano ou totalmente democrata.