Se há pessoas solteiras ou casais sem filhos que têm dificuldade em esticar o ordenado até ao final do mês, imaginemos algumas famílias numerosas… E quando falamos em poupar, torna-se ainda mais complicado! Mas, com a ajuda de alguns truques, nada é impossível.
Segundo a definição da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas (APFN), uma família numerosa é aquela que contribui para que a média nacional seja superior a dois filhos por casal. “Internacionalmente é também este o padrão seguido. Outra maneira de ver esta questão é olhando para o índice sintético (2,1) que permite a reposição da população. Só as famílias com 3 ou mais filhos é que contribuem para a reposição da população”, explica a associação no seu site oficial.
Mãe de quatro
Carla Cerqueira, bancária, tem 49 anos e quatro filhos, com 15, 23, 25 e 27 anos. Quais os maiores desafios de ter uma família numerosa? Sem dúvida os gastos, principalmente, da alimentação, luz, água, gás de casa, roupa e calçado. “Transportar toda a família obrigou-nos a adquirir uma viatura maior e claro que foi uma despesa extra. Neste momento, por avaria e posterior venda, estamos a usar dois carros normais. Uma viagem com todos significa combustíveis e portagens a duplicar”, explica. Outra coisa muito complicada para esta família é ir a restaurantes: “Comer fora é praticamente impossível, pois uma refeição para seis num restaurante pode representar valores suficientes para uma semana de alimentação em casa, ou seja , raramente acontece”, admite. Existem, porém, truques para poupar. “Eu uso imensos!”, revela.
A bancária faz render os pontos em cartões de supermercado e tenta fazer as compras “dos básicos de mercearia”, uma vez por mês. Além disso, quando compra em supermercados, opta pelas marcas brancas. “Comida de panela rende muito mais. Fazemos marmitas para o almoço de quem tem condições para levar para o trabalho e aquecer”, conta. Carla também começou a usar aplicações como Too Good to Go – que conecta clientes a restaurantes e lojas que possuem sobras de alimentos não vendidos – para comprar uma box de fruta/legumes por semana a preços bastante em conta. “Por vezes, também compramos uma box de mercearia ou pastelaria”, continua. Refrigerantes e sobremesas, só ao fim de semana.
No que toca às férias, começaram a ser passadas maioritariamente em campos de campismo. Nas festas de aniversário, vão apenas pessoas muito próximas. “O aniversariante escolhe o menu e fazemos uma grande festa”, admite. No Natal, optam por fazer o jogo do “amigo oculto”. “Rimos à brava… Deixamos à imaginação de cada um”, explica. Para outras compras, Carla Cerqueira começou a acompanhar grupos de reciclagem e doação de artigos. “Dar o que não serve, pedir o que seja necessário, evitando comprar”, continua. Outros truques eficazes passam por verificar contratos de operadoras e seguros e apostar em sites de inquéritos remunerados. Além disso, acrescenta Carla Cerqueira, os animais de estimação passaram a tomar banho em casa. O que é que mais custa neste processo? “Poupar e tentar ir reforçando sem mexer é dificílimo. Os ordenados não acompanham o custo de vida”, lamenta a bancária.
Mãe de cinco Esta é uma realidade próxima à de Filipa Azevedo, doméstica, com 39 anos e cinco filhos: Miguel com 12 anos, Simão com oito, Ester com cinco, Aurora com três e Eli com 21 meses. “Hoje dia as pessoas olham para uma família com muitos filhos e fazem os comentários mais absurdos, que vão de um extremo ao outro. Ou ganhamos muito bem ou vivemos de abonos. Há pessoas que ficam mesmo incomodadas”, confidencia ao i. A maior fatia dos rendimentos da família, revela vai para “a conta do supermercado”. “Por semana gastamos uma média de 12 litros de leite e 16 iogurtes, por exemplo”. Para evitar gastos excessivos, tenta fazer compras uma vez por semana, com exceção da fruta. “Tanto as refeições como os lanches são muito bem planeados com antecedência. Temos preferência por comidas de ‘tacho’ que acabam sempre por render”, frisa.
“Também vamos muitas vezes às cooperativas aqui na zona, onde podemos comprar alimentos de melhor qualidade em maior quantidade e a preços mais simpáticos”, revela. “Refrigerantes, cereais, bolachas e tudo o que seja industrializado é uma exceção cá em casa… Preferimos limonadas e fazer tudo o que podemos e quando nos apetece em casa”, acrescenta. Em relação à roupa, a família aproveita sempre a época de saldos para comprar para o ano seguinte. “Assim estamos sempre prevenidos e acabamos por poupar”, explica. No que diz respeito aos tarifários de electricidade, internet, seguro de saúde, etc., diz: “O meu marido é muito atento e consegue sempre fazer as escolhas mais acertadas”. “Uma decisão que tomamos, especialmente quando decidimos que eu ficaria em casa, foi optar por ficar só com um carro”, afirma ainda.
Mãe de seis
Filipa Pereira tem 50 anos, é mãe de seis (dos 24 aos 13) e tudo faz para que se poupe lá em casa. “Aprendi muitas técnicas com a minha mãe, que também teve muitos filhos”, afirma. “Alguns dos meus já são maiores de idade e vão ajudando, não dando tantas despesas”, continua. A primeira coisa que se tem de meter na cabeça, aponta, é que só se pode comprar o essencial. “O que não há, não se gasta, não é?”, diz, em tom de brincadeira. “Por exemplo, se eu comprar fiambre e queijo, vai tudo à vida em pouco tempo. Mais vale comprar só queijo”, explica. Nas compras, a mãe aposta quase sempre em produtos de marca branca. “Lá em casa fazemos uma máquina de roupa por dia”, revela. Só compra roupa de marca se for para passar de uns filhos para os outros, “na lógica que acabam por durar muito mais tempo”. “Evitamos pré-cozinhados e apostamos mais em comidas de tacho. O forno liga-se apenas quando fazemos vários pratos de seguida. Ligá-lo e desligá-lo gasta imenso”, alerta.
Uma outra técnica é ter sempre pão em casa. “Sopa, pão e fruta à descrição. Se comprarmos outro tipo de coisa sai muito caro e desaparece num instante”, admite. “Misturamos também os cereais, os mais baratos tipo corn flakes simples, com outros melhores”, sugere. No que toca aos banhos, quando demoram, “ligo a água quente noutro lado, assim desligam logo”, brinca. Relativamente ao material escolar, o segredo é “reciclar tudo o que se conseguir”: “Guardar de ano para ano religiosamente. Mas há coisas que têm mesmo de ser boas para passarem de uns para os outros, como mochilas ou chuteiras… Tenho chuteiras com mais de dez anos”, revela.
Nas férias, a família aluga uma casa. “Não há viagens! Só quando crescem e vai-se com um de cada vez. Assim é mais suave e aproveita-se para estar só com um filho”, acrescenta ainda. Já os presentes de Natal… “Um presente bom e outro baratinho. Começámos a comprar os presentes meses antes. E com os aniversários acontece a mesma coisa”, sublinha.