Ponto prévio e óbvio, ninguém deve tolerar a discriminação com base na cor da pele. Mas quase tão repugnante como o racismo, é a sua manipulação e uso para obtenção de vantagem política, comercial, etc. sem pensar nas consequências.
O racismo é abjeto e consiste na discriminação de pessoas e grupos, atribuindo características negativas que resultariam precisamente da cor da pele, universalizando-se até qualquer aspeto do caráter ou comportamento devido a essa cor. É incompreensível quando nos relacionamos com alguém, como pretendem os ativismos, que vejamos a cor ou a orientação sexual, e não, principalmente, uma pessoa. Ora, particularmente nas últimas décadas nos EUA, os ativismos de esquerda e o ‘sistema’, naquilo que chegou também à Europa, nomeadamente com as políticas identitárias, têm feito um esforço extremo por ressuscitar o racismo, praticando eles próprios o racismo e o respetivo discurso em nome do antirracismo. Quando afirmo que a identidade de alguém se baseia principalmente na cor da pele, que só os brancos são racistas, que a opinião de alguém tem sempre a cor como critério, considerando que o negro é unicamente vítima e o branco unicamente um carrasco inato, estou a ser racista. Esta política do ódio ignora deliberadamente a lição de Martin Luther King sobre a cor e o caráter e o significado da luta dos movimentos civis.
Outro exemplo paradigmático desse tipo de ativismo maniqueísta e fundamentalista é o SOS racismo francês, fundado no ano de 1984 por Julien Dray um antigo trotskista e depois socialista com o objetivo de captar o eleitorado jovem. O primeiro passo foi o de estabelecer um novo dogma que devia ser exaustivamente difundido pelos média, ou se é da nova esquerda ou se é racista e defensor de uma sociedade injusta. Esse é o modelo marcusiano para o ‘novo bem’, tudo o que é da esquerda deve ser considerado bom, e tudo o que não é deve ser considerado mau. O racismo dos antirracistas, como o designou Taguieff, iniciou uma nova era, o negócio do racismo.
Em Portugal assistimos a um episódio típico dessa ideologia perigosa e oportunista. No bairro da Cova da Moura, na periferia de Lisboa morreu um homem numa operação policial, não há uma única evidência que o móbil fosse o racismo, mas essa foi a narrativa irresponsável promovida por alguns média e partidos políticos. Essa narrativa pretendeu também legitimar uma vaga de destruição criminosa que alegadamente pretenderia vingar essa morte. Um desfecho trágico foi aproveitado politicamente para suscitar a ideia que a polícia é racista assim como uma parte do país. Os extremos dominaram o debate político, tentando influenciar a opinião pública. Os média regozijaram com a boçalidade maniqueísta e indigna do polícia mau e racista de um lado e do polícia unicamente bom que devia até disparar mais vezes para pôr a malandragem na ordem.
Acabamos também com o óbvio, a polícia não é racista, os pobres negros e brancos não são bandidos, a pobreza não justifica a violência, a polícia está mal equipada e até organizada, mas o mesmo tipo de políticos medíocres e as más políticas predominam eleições após eleições. O racismo é aqui um bode expiatório útil para manipular as massas e usado como arma política por gente sem escrúpulos e médias irresponsáveis.