Muitas das vezes, quando pensamos em dinheiro, a visão da perda do mesmo é inevitável. Mas o nosso medo tem justificação. Por exemplo, quando se fala de ações não é de estranhar que fiquemos com receio. Algo que Rafael (nome fictício), de 42 anos, não teve inicialmente. Hoje arrepende-se profundamente dos seus atos. “Comecei com grandes expectativas, acreditando que poderia ter retornos rápidos. Subestimei a complexidade do mercado e acabei por seguir dicas sem fazer a minha própria análise”, conta.
“A falta de disciplina foi um grande obstáculo. Deixei as emoções guiarem as minhas decisões. Em vez de manter a calma, cedi ao medo e à ganância, aumentando o risco sem uma estratégia sólida”, constata agora. “Fatores externos como mudanças repentinas no mercado tiveram muito impacto na minha vida financeira, mas percebo agora que as minhas reações a esses eventos – o meu comportamento e as minhas decisões impulsivas – foram a verdadeira causa das perdas”, lamenta, destacando que hoje encara o dinheiro “com muito mais cautela”.
“Antes, era impaciente e estava disposto a arriscar tudo pelos lucros rápidos. Agora, a minha abordagem é muito mais conservadora e focada na preservação de capital”, sublinha. “Se estivesse na mesma situação hoje, faria questão de estudar mais, seguir uma estratégia com metas realistas e, principalmente, ter um plano de gestão de risco claro. Também evitaria confiar em conselhos de fontes duvidosas e estaria focado na aprendizagem a longo prazo”, explica, deixando conselhos a quem pensa em começar a investir: “Diria para estudarem a fundo esta realidade e nunca investirem mais do que estão dispostos a perder. O mercado não perdoa impulsos e falta de preparação. Com paciência e disciplina, as probabilidades de sucesso aumentam muito”.
Rafael não é a única pessoa que se deu mal com o mundo das ações. E em Why 90% of Stock Market Traders are in Loss?, artigo científico publicado este ano no Journal of Advanced Research in Accounting and Finance Management, percebe-se isso mesmo. Neste estudo, os autores examinam as razões pelas quais aproximadamente 90% dos investidores/traders do mercado de ações registam perdas, concentrando-se em erros comuns de principiantes e na falta de preparação técnica. A principal causa é a ausência de uma sólida educação financeira e o desconhecimento de estratégias de gestão de risco. Muitos traders iniciantes têm expectativas irrealistas, procurando retornos rápidos sem compreender as complexidades do mercado. Além disso, o artigo destaca o impacto negativo das redes sociais, onde conselhos de investimento muitas vezes são propagados indiscriminadamente.
Outros fatores incluem decisões impulsivas motivadas por emoções, como medo e ganância, o que aumenta os riscos. Os autores enfatizam a importância de práticas de longo prazo e paciência, além de uma abordagem disciplinada e fundamentada em análises. Em contraste com a procura por lucros imediatos, os investidores bem-sucedidos tendem a focar-se na construção gradual de um portefólio diversificado e no desenvolvimento de habilidades analíticas robustas. O artigo conclui que, para evitar perdas, os traders devem investir na própria aprendizagem, adotar um sistema de gestão de risco eficaz e ignorar ruídos externos, dando prioridade a uma visão estratégica. Os autores frisam que as medidas são essenciais para alcançar resultados consistentes e sustentáveis no mercado financeiro.
As moedas de mercados emergentes e as criptomoedas
Além do tradicional mercado das ações, há outros que emergem e podem levar a perdas substanciais. Por exemplo, em junho, o Financial Times noticiava que as moedas de mercados emergentes enfrentavam um dos piores primeiros semestres desde 2020, em consequência da valorização do dólar e da interrupção de operações de ‘carry trade’ – um mecanismo muito utilizado para tentar obter lucros com base na diferença entre a taxa de juros de dois países – populares na América Latina. Isto é particularmente preocupante porque há muitos investidores que se focam nestas moedas. Compram ações de empresas locais que possam beneficiar da valorização da moeda; envolvem-se no Forex Trading para negociar moedas, aproveitando a volatilidade das moedas emergentes; investem em títulos emitidos por governos ou empresas em mercados emergentes, que geralmente oferecem rendimentos mais altos; investem em fundos que se concentram em ativos de mercados emergentes para diversificação ou exploram a exportação e importação de mercadorias, onde a moeda local pode influenciar os preços.
O índice de câmbio de mercados emergentes do JPMorgan havia caído 4,4% desde o início do ano, influenciado pela revisão de expectativas de cortes de juros nos EUA e preocupações com políticas fiscais expansivas em economias emergentes como a Chile e o Brasil. A incerteza política em países como o México, onde a vitória do partido Morena gerou dúvidas sobre a política fiscal, agravou a volatilidade cambial.
As moedas latino-americanas, como o peso mexicano, o peso colombiano e o real brasileiro, sofreram com a liquidação dessas posições, que estavam sobrecarregadas em ativos de alto rendimento. Os investidores, observando a incerteza política, ajustaram as expectativas de taxa de juros, reduzindo o apelo das moedas desses mercados e migrando para economias menores e emergentes, como as da Nigéria e do Egito, onde as políticas ainda tornam os títulos locais atraentes.
A fraqueza no mercado de câmbio também atingiu moedas asiáticas, incluindo o won sul-coreano, que caiu 7% frente ao dólar, e o baht tailandês e a rupia indonésia, que caíram 6,5% cada. A resiliência da economia dos EUA, acompanhada de inflação persistente, contribuiu para a força do dólar, reduzindo as previsões de cortes nas taxas de juros pela Reserva Federal, o que também impactou moedas de mercados emergentes.
Além das moedas de mercados emergentes, há riscos relacionados com as criptomoedas. No fim da semana passada, foi noticiado que o mercado de criptomoedas está a enfrentar perdas significativas, com destaque para a Solana (SOL) – cuja principal inovação é o mecanismo de consenso chamado ‘Proof of History’ (PoH), que aumenta a velocidade e a eficiência das transações, sendo que ganhou popularidade devido a taxas de transação baixas e tempos de processamento rápidos – e a Binance Coin (BNB) – é utilizada numa variedade de serviços, incluindo negociação, staking e participação em ofertas iniciais de moeda (IEOs), sendo que tem visto crescimento significativo em valor, impulsionado pela expansão dos serviços da Binance –, que caíram 7,1% e 4,7%, respetivamente.
Essa queda alinha-se com uma tendência de desvalorização que afeta outras criptomoedas importantes, como Ethereum e XRP. Essas perdas refletem a volatilidade típica do mercado de criptomoedas, exacerbada por incertezas económicas e mudanças nas condições do mercado. A pressão sobre esses ativos pode ser atribuída a fatores como a especulação e o medo de mudanças nas políticas regulatórias que afetam o setor. Como resultado, os investidores estão a adotar uma postura cautelosa, ajustando os seus passos de acordo com as flutuações recentes.
Por outro lado, algumas moedas, como Dogecoin e Bitcoin, mostraram leve recuperação, sugerindo um comportamento misto entre os ativos. O caso da primeira é muito interessante porque começou como uma piada, a partir de um meme. “Comecei a investir na Dogecoin porque a comunidade é incrivelmente divertida e unida. A ideia de que uma criptomoeda começou como uma piada e tornou-se um fenómeno global é fascinante para mim”, começa por dizer Rodrigo, de 29 anos, ao i. “A volatilidade é uma preocupação constante, mas acredito que esse risco vem acompanhado de oportunidades. É importante diversificar e não investir mais do que posso perder”, diz.
“Acredito que, à medida que mais empresas aceitam a Dogecoin como forma de pagamento e a comunidade continua a crescer, há potencial para valorização. No entanto, isso depende de fatores externos também, como o mercado de criptomoedas em geral”, afirma. “Estou sempre atento às atualizações e tendências do mercado. Informar-me é essencial para fazer decisões de investimento mais conscientes”, acrescenta, concluindo: “A minha estratégia é manter uma abordagem de longo prazo. Comprei Dogecoin quando estava mais acessível e planeio manter os meus investimentos, pois acredito que a moeda pode crescer com o tempo”.