Rúben Amorim ainda não desembarcou em Manchester e já provoca pesadelos ao City. Pesadelos esses que tiveram início na terça-feira à noite em Alvalade com a explosiva vitória do Sporting por 4-1 frente ao conjunto de Pep Guardiola. Claro que as coisas podiam ter corrido de forma inversa, há que assumi-lo sem rebuço. A primeira parte do jogo mostrou-nos um Sporting amedrontado e atrapalhado e um City a desperdiçar uma boa meia dúzia de oportunidades de golo. Apequena isso o triunfo português? De forma alguma! Mal seria que um clube com a dimensão do City não assustasse seja que adversário for e não provoque danos de várias espécies. A vitória do Sporting tem de ficar na parede da memória de uma das mais brilhantes de um conjunto nacional na Liga dos Campeões. E ficará, não tenham dúvidas. Não há ninguém que tenha estado na fantástica noite de Alvalade que vá esquecer o que viu. Por mais que o tempo passe.
Apesar de tudo, e curiosamente, o Sporting-City também foi um daqueles jogos que não passou grandemente pela estratégia do seu técnico. Se há um responsável maior pela dinamitação da defesa inglesa, esse é um sueco com nome húngaro, Gyökeres. Foi ele que soube desinquietar, na primeira parte, uma defesa contrária que caiu no disparate inconcebível que querer jogar com os seus elementos em linha em cima do meio campo contrário, foi ele que na segunda parte apavorou os infelizes que o vigiavam como se em vez de um indivíduo só fosse a tropa completa de Átila, o Huno.
Tenho por Rúben Amorim a maior das simpatias. Não o conheço bem, mas lembro-me de uma tarde no Seixal, em 2010, que ao longo de uma entrevista mostrou ser um homem com uma clareza de ideias e de um trato fácil e encantador. Era, nessa altura, jogador do Benfica, e nunca teve pejo em se assumir como benfiquista, embora neste momento, não duvido, o verde passou a tomar grande parte do seu coração. E para todos aqueles adeptos encarnados que se lamentam de os seus dirigentes não terem sabido tirar proveito das suas mais que visíveis e previsíveis qualidades, recordo uma frase que o próprio Rúben proferiu na altura e está publicada ipsis verbis: «Estive no Benfica cinco anos. Cinco anos fantásticos durante os quais aprendi muito. Depois acabaram com as equipas B e fui mandado embora. Depois fui ao Sporting, mas não consegui ficar lá e não voltei…». Não chorem, portanto, sobre esse leite derramado porque também em Alvalade não souberam perceber a pérola que estava dentro da concha.
Parte e deixa saudades um jovem treinador que, não tenho dúvidas, é o melhor de todos os treinadores portugueses. Chegará ao lado de lá da Mancha como um Lorde inglês elevado a cavaleiro pela Ordem do Leão. Será feliz num clube que, como acontece com o United, vive dias de total desarrumação? Tem tudo para isso. Foi sobre os seus ombros que o Sporting se transformou no campeão que é, a léguas de distância dos seus dois rivais que nem rivais são por agora. Por mim, desejo-lhe todas as venturas. Provou sempre ser um Homem por inteiro.
O jogo dos tristes
Domingo, pelas 20h45, hora absolutamente indecente para chamar ao estádio pessoas que no dia seguinte se levantam cedo para trabalhar (a indigência da Liga do emproado Proença atinge o limite da estupidez incompetente!), o Benfica recebe o FC Porto no jogo dos tristes que se batem pela honra de serem segundos. Nada nos faz esperar o que quer que seja de bom. Sobretudo pela parte de um Benfica que, já se viu, escolheu precipitada e inconscientemente o substituto de Roger Schmidt que continua a teimar não cair no esquecimento porque as exibições dos encarnados de Lage estão ao mesmo nível do das do tempo inenarrável do alemão. Depois do raio de luz na água fria que foi aquela goleada ao_Atlético de Madrid, o Benfica arrasta-se em campo sem conseguir tirar proveito de alguns dos seus jogadores mais talentosos (Kokçu por exemplo), com uma defesa de papel que se rasga ao mínimo puxão de rapidez contrária e com um meio campo no qual ninguém percebe bem o que tem de fazer o quê, se deixarmos de parte a exceção de Florentino que serve de pau para toda a obra, na realidade o único que tem escola de processos defensivos – já se viu que Bruno Lage não sabe que posição atribuir a Aursnes, o único que poderia acrescentar músculo e clarividência àquela zona do terreno. O seu Benfica de Munique, cobarde e inoperante, envergonhou os adeptos do clube, envergonhou uma História feita de jogadores enormes e de grandes mestres e envergonhou o futebol português. O discurso oco de Lage, o seu estilo molenga e a sua mentalidade pequenina diminuem a equipa e candidata-a a perder tudo. Até a alma.
Apesar das suas debilidades, o FC Porto, que no único jogo difícil que teve até agora no campeonato (o de Alvalade) tremeu como varas verdes e se sujeitou a uma goleada, é uma equipa melhor construída e mais sólida. Trabalho de treinador, sem dúvida. E não há como não o ver favorito para ganhar os três pontos e deixar o Benfica a, como diz o povo, pão e laranjas, sem mais objetivos esta época. E ainda é só Novembro…