Vivemos numa sociedade em que a diferença entre estratégia e poder é francamente curta, e o contexto das ações e decisões das pessoas é muitas vezes interpretado através dessas duas perspetivas. Afinal, até que ponto as escolhas que fazemos são impulsionadas por uma verdadeira estratégia ou pela simples vontade de exercer poder sobre os outros?
A estratégia, por definição, implica um planeamento cuidado, uma visão a longo prazo e uma adaptação constante às circunstâncias. Um estratega é alguém que antecipa desafios, cria planos complexos e considera as consequências das suas ações. Esta abordagem é mais do que uma simples execução de poder, trata-se de encontrar o caminho mais eficiente e sustentável para alcançar objetivos, respeitando as limitações do contexto e agindo de forma calculada para garantir o êxito.
No contexto empresarial, por exemplo, as melhores lideranças são aquelas que se destacam pela habilidade de articular estratégias claras e eficazes, que incentivam o progresso e o desenvolvimento coletivo. Estas lideranças raramente recorrem ao poder bruto para impor vontades; antes pelo contrário, utilizam a influência, a motivação e a cooperação para alcançar as metas desejadas.
Por outro lado, o fascínio pelo poder, quando exercido sem estratégia, tem uma natureza diferente, cria ilusão. Pode ser um impulso instintivo, uma necessidade de controlar ou dominar. Em muitos casos, o poder sem estratégia pode levar à loucura, pois o desejo de exercer autoridade acima de tudo pode cegar quem o detém para as consequências dos seus atos. E, na verdade, a sociedade mostra-nos muitos exemplos de pessoas que confundem o ato de chefiar com o ato de dominar, esquecendo-se que o poder, quando não temperado com propósito, tende a ser transitório e destrutivo.
A história oferece-nos exemplos de líderes que abusaram do poder para impor a sua vontade, sem qualquer estratégia que beneficiasse a comunidade a longo prazo. E, muitas vezes, esse tipo de liderança resulta em resistência, revolta e queda. Afinal, o poder exercido por si só não cria lealdade, não gera inovação e, sobretudo, não constrói pontes.
Se o poder, por si só, pode ser perigoso, a estratégia, sem uma certa dose de poder, pode revelar-se ineficaz. Em muitas situações, o poder é o que confere ao estratega a capacidade de implementar as suas ideias, transformar planos em realidade e conduzir as mudanças necessárias. Portanto, quando equilibrados, estratégia e poder podem trabalhar juntos, são uma combinação necessária para alcançar resultados duradouros e significativos.
O verdadeiro desafio, então, é encontrar este equilíbrio e ter a capacidade de se manter fiel aos objetivos estratégicos, sem se perder na tentação do poder puro. Ao agir com estratégia, uma pessoa ou uma instituição molda o seu poder de forma consciente, assegurando que as suas ações beneficiam não só os seus interesses imediatos, mas também os dos que estão ao seu redor.
Vivemos numa época em que, mais do que nunca, é essencial questionar a natureza das lideranças e das decisões que moldam o nosso mundo. O que vemos hoje são líderes e organizações que oscilam entre o uso estratégico do seu poder e o uso do poder sem estratégia, levando-nos a ponderar: é estratégia ou é poder? A resposta, talvez, seja que o ideal reside em reconhecer o valor de ambos, mas sem nos deixarmos consumir por nenhum. Estratégia e poder, quando bem utilizados, têm o potencial de criar um impacto positivo, duradouro e responsável, capaz de transformar realidades e de inspirar futuras gerações.
Doutorando em História Contemporânea NOVAFCSH