Acidente em Coruche. Como lidar com o trauma depois da tragédia

Bebé de dois meses da família Ribeiro Telles perdeu a vida num acidente rodoviário esta quarta-feira, na EN119, em Coruche. A mãe ia ao volante. A psicóloga Sara Cruz explica como lidar com o trauma e fazer o luto

Foi pelas 15h30 desta quarta-feira que um acidente trágico veio deixar a família Ribeiro Telles de luto. Ao volante da carrinha de sete lugares ia Graça Ribeiro Telles Caldeira, de 36 anos – filha do antigo cavaleiro João Palha Ribeiro Telles e irmã do cavaleiro João Ribeiro Telles –, onde seguiam também os seus cinco filhos: um bebé de dois meses, duas gémeas de seis anos e duas crianças de sete e nove anos.

Graça Caldeira seguia pela longa reta da Estrada Nacional 119, quando terá perdido o controlo e embatido em dois outros veículos antes de se despistar e capotar para uma berma da estrada, perto de Biscainho, em Coruche.

Da colisão resultou uma vítima mortal: o bebé de dois meses, neto de João Ribeiro Telles. A mãe e as quatro irmãs da vítima, que seguiam na carrinha, foram transportadas para o hospital com ferimentos graves.

Os dois ocupantes dos outros dois veículos, de 51 e 62 anos, sofreram ferimentos ligeiros e uma nona pessoa foi assistida, sem necessidade de tratamento hospitalar.

O acidente obrigou ainda ao corte do trânsito em ambos os sentidos na EN119 e mobilizou 36 operacionais apoiados por 15 viaturas de socorro, entre as quais sete ambulâncias e o helicóptero do INEM.

Até ao momento, o que se sabe é que uma das meninas já foi operada a uma hemorragia cerebral e várias fracturas; outra das vítimas sofreu uma fratura na coluna vertebral e perdeu a sensibilidade nas pernas, correndo o risco de ficar paraplégica; outra sofreu um traumatismo e algumas hemorragias e a quarta está em observação por suspeita de ter sofrido uma hemorragia abdominal.

A mãe, apesar de algumas fraturas, está fora de perigo, e já foi informada da trágica morte do filho bebé.

Depois de tratados os traumas físicos, resta saber como fazer o luto e lidar com o trauma psicológico das próprias circunstâncias violentas do acidente.
«O apoio psicológico imediato é essencial. Normalmente este apoio é realizado por psicólogos das unidades de intervenção do INEM e dos serviços que têm os primeiros contactos com as vítimas», explica a psicóloga clinica Sara Cruz.

«A intervenção a longo prazo depende das necessidades de cada um, no entanto, tende a ser uma mais-valia na gestão emocional e na adaptação a uma nova realidade após a perda», acrescenta.

O sentimento de culpa ou autocrítica de quem ia ao volante pode vir a ser um problema. SegundoSara Cruz, «a forma como  [Graça Caldeira] ‘olhar’ para o acidente vai ser preditor de como se vai sentir. Uma pessoa pode ter um acidente e ter consciência de que ‘não podia ter controlado esta situação’ ou, por outro lado, ‘a culpa foi toda minha’. A forma como se vai sentir vai depender da sua ‘leitura’ da situação», avalia.

Após o acidente, podem surgir diversas reações e sintomas. A nível emocional, os mais comuns são depressão, choque emocional , culpa, raiva, desespero; a nível cognitivo, a atenção dispersa, dificuldade em em tomar decisões, alterações de memória, confusão, preocupação; e reações físicas, como taquicardia, fadiga, insónias e alterações no apetite.

Outra questão importante é saber como ajudar as crianças a expressarem e lidarem com as emoções que surgem após a perda do irmão mais novo. «As crianças percebem a morte de uma forma diferente dependendo da idade. Dos 5 aos 9 anos as crianças tendem a perceber a morte como algo irreversível, reagindo com angústia a perda. Nesta faixa etária normalmente há um grande interesse para perceber e questionar o que acontece com a pessoa que faleceu após a morte».

A psicóloga Sara Cruz alerta ainda que, apesar de poder ser angustiante para os adultos, evitar falar com as crianças sobre a morte não é o melhor caminho e «pode mesmo ser um fator de risco».