Na sequência das eleições nos EUA, tenho lido e ouvido muita gente afirmar que ‘as sondagens se enganaram’. Não posso discordar mais desta afirmação.
Durante as três semanas que antecederam o ato eleitoral estive na NOW a comentar a evolução da campanha, com especial incidência nas projeções dos estados decisivos, os chamados ‘swing states’. Nessas semanas, e considerando o risco de uma ou outra sondagem, optei por utilizar a média das mesmas dos sites especializados em política nos EUA. Podemos perentoriamente afirmar que não houve um único resultado dos estados que se consideravam em disputa (Arizona, Carolina do Norte, Geórgia, Michigan, Nevada, Pensilvânia e Wisconsin) que caísse fora da margem de erro daquela média.
Note-se que, nessa média de sondagens, desde o dia 17 de setembro que Donald Trump surgia à frente de Kamala Harris nas intenções de voto dos estados em disputa. Desde o início de setembro que Harris caiu progressivamente nas intenções de voto. A duas semanas das eleições Trump liderava em todos os Estados decisivos. Apenas na última semana de outubro, que antecedeu o dia de votação (5 de novembro), a candidata democrata ultrapassou o republicano, primeiro no Michigan e, posteriormente, no Wisconsin, sempre em margens curtas, que caíam dentro das margens de erro. Note-se, ainda, que Harris, no mês que antecedeu as eleições, nunca esteve à frente de Trump na Pensilvânia, estado que, perdendo, a obrigava a ganhar dois outros estados decisivos.
Na realidade, houve quem quisesse enganar, quem fosse enganado e quem quisesse ser enganado. A informação esteve sempre disponível. Se estivermos recordados, no fim de semana que antecedeu a eleição, foi muito noticiada uma sondagem que dava Harris à frente de Trump no estado do Iowa, por 3%. No dia seguinte dessa sondagem ser muito divulgada na comunicação social, disse no NOW que, no mesmo dia, tinha sido divulgada uma sondagem naquele estado que dava a Trump uma vantagem de 9%. A média das sondagens do Iowa dava ao republicano uma vantagem de cerca de 10%, o que está dentro da margem de erro do resultado.
Nas análises à campanha e aos resultados eleitorais houve, sobretudo, mais preconceito do que análise real. Não se ganham eleições com adjetivos. Não se vence um fenómeno político que não se compreende. Compreender implica afastamento e racionalização.
Não me recordo de ver noticiado nas televisões portuguesas, por exemplo, que, em relação a 2020, estava muito menos gente afiliada aos democratas a registar-se para votar. Isso, por si só, explica que Trump, mesmo sem subir substancialmente a votação vence. Vence também porque a sua adversária não conseguiu motivar o seu eleitorado a comparecer.
É compreensível que Donald Trump seja uma figura política pouco simpática aos olhos da maioria das pessoas (entre os quais me incluo), mas tem de haver outra seriedade na informação que é transmitida e nas análises que se fazem, sob pena de ser a própria comunicação social a responsável pela sua desacreditação. Não é uma questão de ‘estado de alma’, é adesão à realidade e de primado da verdade.