A crescente desmotivação dos alunos tem sido sentida com preocupação tanto pelos pais como pelos professores. Sabemos que muitos, sobretudo a partir do 2.º ciclo, consideram as aulas maçudas, pouco interessantes e o currículo difícil e demasiado extenso.
A parte mais motivadora do tempo que passam na escola é com os amigos no recreio – o que é extremamente importante em vários aspetos – e muitas das aulas são, na melhor das hipóteses, sofríveis.
Há ainda muitos jovens que acham que têm de ter boas notas só para os pais ficarem satisfeitos, que estão na escola para lhes fazerem um favor ou simplesmente por obrigação. São poucos os que conseguem estabelecer uma relação direta entre a escola e o seu futuro e, como sabemos, é impossível ter motivação para fazer uma caminhada de 1000 km se não houver um objetivo pessoal bem definido.
Quando os alunos chegam ao segundo ciclo sentem um enorme choque e geralmente ficam muito perdidos. Deixam de ter um tutor que os guia e, no auge da sua vida frenética, cheia de mudanças, solicitações, emoções e desafios – como bons jovens que são –, rapidamente perdem o fio à meada, enquanto tentam acompanhar a matéria, os testes e os trabalhos, que vão sendo projetados por uma espécie de lançador de bolas de ténis acelerado. Ainda conseguem apanhar as primeiras, mas depois já não têm onde as guardar, nem mãos para as apanhar, e acabam por se dar por vencidos. Sentem-se só mais um, perdido e esquecido, entre os professores e as disciplinas que se atropelam, os conteúdos demasiado desligados da sua realidade, do que lhes parece útil e fundamental.
À medida que os anos vão avançando, o quadro mantém-se e só os alunos mais responsáveis, que têm maior maturidade ou que gostam muito de estudar ou agradar, conseguem acompanhar os estudos. E isso não é de estranhar.
O ensino, de uma forma geral, não respeita os alunos, porque não vai ao encontro dos seus interesses, da sua curiosidade e objetivos, da sua forma de aprender e de pensar. É um ensino teimoso e empertigado, que avança sem olhar à volta e, apesar de se deparar com aulas cheias de alunos desmotivados, insiste em manter-se igual. É um ensino em massa, que não se adapta às especificidades de cada aluno, sem atender às suas capacidades e interesses. Que não apoia aqueles que têm necessidades específicas. Que não se preocupa e não reflete o facto de haver cada vez mais alunos medicados para conseguirem acompanhar aulas de 90 minutos depois de um dia inteiro de escola. Que não pára para os observar, ouvir e entender. Para refletir sobre as notas, sobre o desânimo.
É um ensino feito por e para adultos, que insiste teimosamente que os jovens o sigam mesmo que desmotivados, desinteressados ou entediados. Mesmo que seja às custas da sua frustração e do seu sentimento de incapacidade por não conseguirem ‘ingerir’ uma enorme quantidade de ‘palha’, que é o alimento oferecido àqueles pobres animais a quem colocam uma rédea curta e duas palas nos olhos para reduzir o campo de visão e seguirem cabisbaixos na direção pretendida. Um alimento muito pouco nutritivo, inútil para a vida futura, que acaba por desaproveitar uma série de competências e abafar as matérias que são realmente essenciais. Não haverá uma iguaria mais fortificante, desafiante, que os faça pensar e serem os protagonistas das suas aprendizagens, um petisco enriquecedor para oferecer aos nossos alunos, que estão no auge das suas capacidades, da curiosidade, criatividade e originalidade?
Serão eles os incapazes ou somos nós que estamos a exigir demasiado e a oferecer muito pouco?
Psicóloga na ClinicaLab Rita de Botton
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