Filipa Caçador. Postais: Uma viagem pelo mundo através da correspondência

Com uma coleção de 5.000 postais – sendo mil deles internacionais -, Filipa segue firme na paixão pela sua coleção e nas histórias que cada postal carrega. Reforça que o colecionismo é mais do que apenas acumular itens: é uma maneira de preservar e partilhar momentos e culturas.

Filipa Caçador, hoje com 32 anos, começou a sua coleção de postais muito nova. No entanto, foi em 2010 que deu o primeiro passo sério nesta paixão. Através de um amigo, conheceu a plataforma Postcrossing e foi nesse momento que a sua coleção, que antes se limitava a postais distribuídos em cafés e museus de Lisboa, ganhou uma nova dimensão. «Colecionava postais publicitários, aqueles que encontrava por Lisboa, até que um amigo me falou sobre o Postcrossing e desde então não parei», conta Filipa, que já possui uma coleção impressionante.


Hoje, estima ter cerca de 5.000 postais, sendo 1.000 deles de trocas internacionais, mas admite que já perdeu a conta exata. Entre os seus postais favoritos, um em particular emociona-a: um postal 3D da Disney que recebeu pela primeira vez através do Postcrossing. «Quando o recebi, fiquei maravilhada, nunca tinha visto algo assim antes».
Embora o envio de postais tenha ficado mais caro ao longo dos anos – de 0,80€ para 1,30€ por envio -, Filipa continua a manter viva a sua paixão, embora com algumas restrições. «Há 10 anos, enviava até 30 postais por mês. Hoje em dia, envio cerca de 10 a 15. O preço dos selos dificulta um pouco, mas ainda assim tento manter a rotina», diz.


Os postais que recebe vêm de países como Alemanha e Estados Unidos, mas também guarda alguns bastante raros, como os provenientes de lugares como o Irão ou a Papua Nova Guiné, países pouco comuns entre os colecionadores. «Receber postais de lugares tão distantes e pouco conhecidos é sempre uma surpresa», afirma. Aliás, ainda se recorda com carinho de um postal raro que recebeu do Irão e de um pequeno país entre a Papua Nova Guiné e a Austrália, do qual recebeu o 12º postal enviado para todo o mundo.


A troca de postais tem um significado especial para Filipa, que não só aprendeu a melhorar o seu inglês, como também a interagir com pessoas de diferentes culturas. «Não sabia muito sobre certos países e fui motivada a pesquisar mais sobre eles», revela. Para ela, o Postcrossing não é apenas uma forma de colecionar, mas também uma forma de expandir horizontes e criar laços, ainda que virtuais.

Jornada de uma colecionadora


Durante a conversa, Filipa partilhou algumas das experiências mais marcantes da sua jornada como colecionadora de postais. Falou sobre as dinâmicas de troca, especialmente durante os períodos de crise, como a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que afetou o envio de postais entre os países. «Durante o início da guerra, alguns países estavam bloqueados, o que fez com que eu recebesse postais de apenas três: Alemanha, Países Baixos e Estados Unidos», comenta.


Filipa lamenta as perdas de algumas mensagens que não foram arquivadas na plataforma e as dificuldades que surgem quando os correios danificam os postais durante o transporte. «Infelizmente, os postais chegam muitas vezes danificados, o que é uma pena, porque os colecionadores prezam muito pela integridade dos itens», explica. Ainda lembra que alguns países pedem para que os postais sejam enviados dentro de envelopes, justamente para evitar danos.


A troca de itens vai além dos postais em si. Filipa, como muitos colecionadores, também recebeu surpresas adicionais dentro de alguns postais. «Já recebi moedas, notas, marcadores, saquinhos de chá e até selos para colecionar», conta. O que parece ser uma simples troca de postais entre países acaba por se tornar uma troca de cultura e de gestos significativos.

A personalização dos postais


Filipa também fala sobre a crescente tendência de personalização dos postais, com destaque para a decoração e o uso de autocolantes. «Agora, as pessoas dedicam-se muito à estética dos postais, especialmente no Japão e na China, onde a caligrafia e o design são simplesmente impressionantes», afirma, destacando o seu pedido especial para que escrevam o seu nome na língua local, o que faz a sua coleção ainda mais única.
Quando questionada sobre o que pensa sobre o colecionismo em Portugal, Filipa explicou que, em geral, as pessoas tendem a ver o colecionismo com uma visão mais crítica, muitas vezes associando-o a uma prática de acumulação ou, em casos mais extremos, chamando os colecionadores de fanáticos.


Filipa partilha ainda um conselho para quem deseja aventurar-se no colecionismo: «Colecionem o que gostarem, não se importem com as críticas. As coleções podem parecer excêntricas para alguns, mas refletem a nossa personalidade e a nossa história». Numa nota mais pessoal, revela também que, recentemente, teve a sua caixa de correio assaltada, o que resultou na perda de correspondência importante. Apesar dos obstáculos, Filipa segue firme na paixão pela sua coleção e nas histórias que cada postal carrega. Reforça que o colecionismo é mais do que apenas acumular itens: é uma maneira de preservar e partilhar momentos e culturas.