Melides e Comporta. A ‘mina de ouro’ no Alentejo que tem atraído cada vez mais celebridades mundiais

Eram lugares pacatos, onde as pessoas da região do Alentejo iam passar férias. Acampava-se na praia, comia-se e bebia-se a preços muito baixos. O tempo foi passando e só o pôr do sol se manteve o mesmo. Melides e Comporta têm sido cada vez mais escolhidos como destinos turísticos dos famosos. Há uns anos, começaram…

Eram lugares pacatos, onde as pessoas da região do Alentejo iam passar férias. Acampava-se na praia, comia-se e bebia-se a preços muito baixos. O tempo foi passando e só o pôr do sol se manteve o mesmo. Melides e Comporta têm sido cada vez mais escolhidos como destinos turísticos dos famosos. Há uns anos, começaram a construção de projetos de luxo que têm atraído investidores internacionais. Os moradores estão descontentes e temem qual será o futuro da sua ‘casa’. Tornar-se-ão estas duas regiões exclusivas para quem tem dinheiro?

Passaram-se mais de cinco anos desde a última vez que fui à Comporta no verão para um petisco. Pela afluência de turistas e os preços praticados, voltei para trás. A Melides, vou com mais frequência, já que é o sítio preferido da minha mãe e de uma das suas duas irmãs que moram em França, mas que faz questão de regressar todos os anos ao lugar onde passaram os seus verões de adolescência. Contam-me como eram livres… Acampavam na praia perto das barraquinhas dos pescadores que já não existem. Chamavam-lhe «a pequena aldeia de casinhas de madeira à beira mar».


Faziam-se fogueiras, partilhavam-se histórias, dançava-se na areia, davam-se os primeiros beijos, comia-se e bebia-se «muito baratinho», nos restaurantes locais. «Melides era um lugar mágico onde estava toda a gente conhecida. Acampávamos nas dunas entre a lagoa e o mar, perto das casas de banho e dos cafés da altura. Vínhamos de França. Agosto, era um mês de alegria e felicidade que nos permitia aguentar o resto do ano em França. Os que não gostavam de acampar, tinham barracas de madeira que pareciam uma pequena aldeia», conta Luísa Porto, de 60 anos. «Agora, vendo bem, parecia um bairro de lata… Mas fomos tão felizes!», frisa.


Durante o dia aproveitavam a praia, almoçavam na tenda ou nos restaurantes. «Depois à noite, havia o Bar do Lança onde os jovens se reuniam. Também convivíamos na areia junto a fogueiras e, nos fins de semana, havia bailes», lembra. «Conhecemos muitos estrangeiros, sobretudo hippies alemães. Partilhávamos as mantas, já que estava sempre muito frio. Lembro-me que o cheiro não era agradável, mas que até isso era especial», acrescenta a sua irmã, Isabel Pereira, de 55 anos. Assim que chega a Portugal, uma das primeiras coisas que faz é ir certificar-se que a praia ainda lá está e que, apesar do passar dos tempos, o pôr do sol continua a ser o mesmo. «Fomos tão felizes aqui», repetem todos os anos depois de tirarem uma fotografia juntas. Infelizmente, apenas o mar e o pôr do sol saíram ilesos de todas as mudanças que têm ocorrido nesta região nos últimos anos. «A única coisa que deixaram ficar foi a pequena fonte onde lavávamos os pés depois da praia», garante Luísa Porto.

Projetos de luxo e investimento de celebridades
Se antes se pensava nestas duas regiões como o local ideal para encontrar o silêncio, preços baixos e espaço para colocar a toalha – fugindo à afluência das praias algarvias -, atualmente, são cada vez mais os portugueses que se queixam que, tanto Melides como a Comporta, têm-se transformados em zonas de elevado interesse turístico… E de luxo! Há muitos anos que estas têm sido escolhidas como destino de férias de inúmeras celebridades. No entanto, recentemente, são cada vez mais as que optam por ficar e comprar casa. «Escondido na paisagem deslumbrante entre a Comporta e Melides, é o refúgio de luxo ideal para famílias que procuram uma comunidade residencial costeira focada num estilo de vida autêntico», lê-se no site oficial do resort Costa Terra Golf & Ocean Club, em Melides, concelho de Grândola. O espaço é composto por 300 residências em 722 acres: tem um campo de golfe de 18 buracos, com design de Tom Fazio – o arquiteto já desenhou mais de 200 campos nos EUA e 46 deles são considerados os melhores do país, segundo a Golf Digest -, um centro equestre, um clube de praia, uma horta orgânica, spa, um centro de saúde, cafetaria e restaurante. O preço mínimo de um lote é, atualmente, de 3,4 milhões de euros. A criação das áreas comuns é da responsabilidade de Alexandra Champalimaud, uma designer de interiores portuguesa com residência em Nova Iorque.
Um dos primeiros nomes a ser falado foi o do ator George Clooney. Em 2021, os meios de comunicação escreviam que o artista pretendia comprar um lote de terreno neste lugar. Recorde-se que o Costa Terra Golf & Ocean Club, foi comprado em 2019 pelos norte-americanos da Discovery Land Company, que até então – desde 2008 – estava nas mãos da Semapa, ‘holding’ da família Queiroz Pereira.


Além do ator norte-americano, sabe-se que também a atriz Sharon Stone já comprou casa na herdade. Acredita-se que a propriedade de aproximadamente um hectare custou cerca de dez milhões de euros à protagonista do filme de culto Instinto Fatal. Também Paris Hilton comprou recentemente casa no local e, nas últimas semanas, começaram a surgir notícias sobre a possível mudança do príncipe Harry e Meghan para Melides. Em 2022, a Princesa Eugenie, prima de Harry, e o seu marido, Jack Brooksbank, adquiriram uma casa no Costa Terra. A compra da casa em Portugal, segundo o jornal britânico, pode ter como objetivo permitir aos Duques de Sussex usufruir de um visto gold, sendo que Meghan é cidadã norte-americana. Em setembro de 2023, os duques fizeram uma visita a Portugal e terão passado uns dias no Alentejo que poderão ter servido também para sondar o mercado imobiliário da região.
Com a vitória de Donald Trump nas presidenciais, surgem indícios de que a compra poderá mesmo estar relacionada com o novo presidente dos EUA e que o casal poderá mesmo estar a ponderar mudar-se definitivamente para o nosso país. Recorde-se que Trump ameaçou deportar Harry caso voltasse a ser presidente dos EUA. Além deles, parece que Elon Musk e Oprah Winfrey também têm planos de apostar na região.

Moradores descontentes
O ambiente já não é o mesmo. Os moradores estão descontentes por se estar a perder a essência dos lugares. «Eles não nos querem aqui. Não quero falar. Não tenho nada para dizer. É só uma vergonha. Sabemos bem a beleza que a nossa zona tem. Vivemos aqui uma vida inteira… Descobriram uma mina de ouro! Agora vêm os ricos e transformam isto», queixa-se um morador, perto do café central de Melides. Não se vê quase ninguém. Apesar de ser novembro, estão mais de 20 graus e ainda não são 10 da manhã.
António Jacinto está a ler o jornal, sentado na esplanada do café A Tabanca. Vive aqui desde sempre. «Para mim é muito importante que se saiba que Comporta é uma coisa, e Melides é outra!», começa por afirmar o senhor de 75 anos. Sobre a evolução da sua terra – com a chegada de grandes investidores e o nascimento de inúmeros projetos de milhões -, o morador diz que «já se previa». «É uma zona privilegiada. Temos aqui zonas de praia como há poucas… É claro que isso nos traz coisas positivas e negativas! Trabalho não falta… Tem vindo muita gente de fora, porque aqui não há. Ao mesmo tempo, o custo de vida aumentou, principalmente para nós, que somos cá da terra. Além disso, há mais insegurança», explica.
António Jacinto nasceu naquilo que é hoje a praia da Aberta Nova, nos terrenos do Costa Terra. «Há 20 anos eu deixava o carro aberto, com a carteira à vista. Hoje, até aqui no café estou atento», admite. Segundo o mesmo, em Melides, não há muitas habitações. «Não vou culpar ninguém, mas os jovens tiveram de ir todos embora. Ficaram muito poucos. Os meus filhos moram cá porque eu tenho casas que são minhas», explica. Sobre o Costa Terra, confidencia que os moradores sabem muito pouco. «Não é zona para nós. Sabemos que aquilo é uma construção ‘monstruosa’. Não podemos entrar. Aquilo está tudo vedado, incluindo as praias! Agora só temos a praia de Melides. Fui criado na praia da Aberta Nova. Os meus filhos foram criados nesse lugar, tal como os meus netos. Agora é quase impossível ir lá», lamenta. «Aquilo está muito limitado», acrescenta. «Outra coisa que eu estou contra… Na Praia da Comporta – que agora se fala muito -, a filha do Amorim fez um restaurante. Para fazê-lo, levaram máquinas e máquinas para a praia. Se nós deixarmos um carro na duna, somos multados», aponta. «Eu estou reformado, tenho o suficiente para viver. Tenho uma boa casa. Para a juventude, vejo isto um bocadinho negro», sublinha.
Há mesmo quem lhe chame a nova «dona da Comporta». Paula Amorim – que detém a GALP e é herdeira do império deixado por Américo Amorim – e o marido, Miguel Guedes de Sousa compraram a Herdade da Comporta, inauguraram uma loja Fashion Clinic em pleno Carvalhal e ainda o JNcQUOI Beach Club na Praia do Pêgo, desalojando o mítico Sal (dos Espírito Santo).

‘Melides será sempre a nossa casa’
Damos uma volta pela freguesia. As poucas pessoas que se vêm, tomam o pequeno almoço nos cafés. As escolas estão em greve e há muitas lojas fechadas. Durante o verão, os restaurantes estão cheios e as pequenas ruas movimentadas. Na Panificadora, o Presidente da Junta de Freguesia de Melides, come um pastel de nata acompanhado de um café. «Moro em Melides há 31 anos. Nascido e criado! Andamos na escola até aos 10 anos e depois vamos para Grândola. É o que acontece com quase todos. Depois há quem vá para fora. Outros ficam. Esta será sempre a nossa casa», conta Bruno Mateus. Interrogado sobre aquilo que atrai as pessoas, o governante responde: «Temos 45 km de uma costa única. Sabemos acolher, somos hospitaleiros, temos boa gastronomia… Estão a começar a aparecer os grandes projetos, como o Costa Terra… Projetos macro, pensados há muitos anos que estão a ser hoje implementados… Há 20 anos, o governo do Estado Central tornou alguns destes projetos de interesse público. Hoje em dia, existe uma grande contestação ao Município de Grândola, mas a verdade é que pouco ou nada se consegue fazer», garante. Segundo o Presidente da Junta, tal como dizia António Jacinto, estes novos projetos empregam muita gente. «Malta de 20 e 30 anos consegue ter ordenados como antes não conseguia. No entanto, claro que o custo de vida aumenta. Em Melides ainda é possível beber um café por 0,80 cêntimos, ao contrário do que acontece na Comporta», afirma. Além disso, continua, a visita de mais «famosos», ao contrário do que muitos dizem, não interfere com a essência de Melides. «Melides continua a ser o mesmo. Há dois ou três caminhos onde não se consegue passar, mas estão dentro de propriedades privadas. A Câmara de tudo tem feito para alterar isso, para os tornar acessíveis», assegura. «Acredito que daqui a dez anos, vai haver mais pessoas a habitar em Melides. Já que vai haver mais trabalho, tem de se criar mais habitação. A Câmara Municipal de Grândola fez há poucos meses um investimento. Comprou um terreno com três hectares para habitação a custos controlados. Está agora em fase de projeto de mapeamento», lembra.

Investidores milionários
Segundo um antigo funcionário do resort, existe um contrato de sigilo que não permite aos funcionários revelar qualquer informação sobre o que se passa dentro do Costa Terra. «Não podemos dizer quem vimos, o que é que essas pessoas fizeram, com quem estavam… Não podemos pedir fotografias. Um antigo colaborador, resolveu tirar uma fotografia com a Cindy Crawford e publicar nas redes sociais. Não foi preciso muito até ser despedido», revela. De acordo com o mesmo, Jason Statham e Tom Holland já lá estiveram e são uns grandes amantes de golfe. Além disso, o dono do resort, o empresário Michael Meldman, frequenta os cafés locais. «Vem sempre com muita segurança e leva as próprias garrafas da Casamigos, do qual também é proprietário», confidencia.
Outro dos grandes investidores estrangeiros desta região é o conhecido «rei dos sapatos de sola vermelha», Christian Louboutin, que descobriu Melides há 12 anos. Primeiro, comprou e restaurou uma antiga casa de pescador e começou a desenhar sempre a sua coleção de inverno por aqui. No ano passado, inaugurou o Hotel Vermelho que recentemente, foi incluído na lista dos melhores destinos de 2024, segundo a revista Time. Entre os hóspedes notáveis, destaca-se a cantora Janet Jackson, irmã de Michael Jackson. «Quando Christian Louboutin decidiu conceber o seu primeiro hotel, criou um ambiente tão vibrante e meticulosamente trabalhado quanto os seus icónicos saltos altos», destaca a revista. O espaço, com o nome da sua cor favorita – Vermelho -, possui três andares e 13 quartos, cada um com características exclusivas. Os preços do quarto para duas pessoas rondam os 300 euros.

O declínio do comércio da Comporta
Fazemos o caminho até à Comporta… Sobreiros dos dois lados da estrada, várias casinhas alentejanas isoladas pintam um quadro daquilo que há de mais bonito nesta zona do país. Ao aproximarmo-nos do destino, placas publicitam novos hotéis, adegas e resorts. Ao chegar ao centro, somos surpreendidos pelo vazio das ruas, que contrasta com a multidão de pessoas que vi da última vez que cá estive. Os restaurantes e bares cheios, as lojas abertas, um ambiente caloroso e animado, impossível de estacionar. «É só fogo de vista! Pensam que esta zona está ‘a bombar’, mas a verdade é que a nível de comércio houve um grande declínio. As pessoas não vêm cá para comprar coisas. Querem ir para a praia, para os restaurantes, para os hotéis. Na pandemia, ao contrário do expectável, as vendas aumentaram. De há dois anos para cá, temos tido cada vez menos clientes», admite uma lojista que não quis ser identificada. «Eu vou-me embora… Não ganhamos milhões… Depois vamos aos supermercados, aos restaurantes, e os preços estão todos inflacionados por causa dos turistas. Está a ficar impossível, pelo menos para mim», admite. Ao longo dos quatro anos que está na Comporta, revela que já viu bastantes famosos, tanto nacionais como internacionais. «Vi o Jamie Dornan, o Mister Grey, do filme ‘As Cinquenta Sombras de Grey’ e o Designer de Conceito de Arquitetura e Interiores, Vincent Van Duysen. De portugueses, já passou por aqui quase tudo!», garante. «Só os estrangeiros é que conseguem comprar casa por aqui. Eles pedem 700 ou 800 mil euros por uma casinha pequenina. É impossível de gerir! Estão a estragar tudo!», frisa. «Diga-me uma coisa… Os famosos vêm para cá, tudo bem! Mas precisam de pessoas como nós, não é? Como é que nós conseguimos sobreviver?», interroga.
Do outro lado da estrada, uma outra lojista coloca uma cama de rede na parte de fora da loja. Pede-nos para não tirarmos fotografias. Gabriela tem 25 anos e mora no Carvalhal. Há três anos que trabalha na Comporta. «Para ser honesta, há uns anos tínhamos mais turistas. O ano passado houve mais pessoas do que este ano. São mais estrangeiros do que portugueses. Mas não compram muito», revela. Tal como a sua colega, Gabriela acredita que o turismo é bom para a economia do país, mas penaliza aqueles que ali moram, pelo aumento dos preços. «Os portugueses não conseguem acompanhar», lamenta. A lojista viu Meghan Markle no ano passado. «Veio bem disfarçada e com quatro seguranças. Foi super rápido. Quase ninguém percebeu que era ela. Também vi o Jamie Dornan», adianta.
Num dos cafés do centro encontra-se Tomás Alexandre, de 24 anos, membro do executivo da Junta de Freguesia da Comporta. «Principalmente na época sazonal, temos um crescimento do turismo que dispara brutalmente o que acaba por ser bom para o comércio. Cada vez temos mais empreendimentos de luxo, o que acaba por trazer muita mão de obra, mas que também não é de cá. Acabamos por ter então a região um bocadinho superlotada», desabafa. «Não temos capacidade para dar vazão aos vários pedidos que temos», revela. Neste período do ano, continua, há uma descida brutal do movimento. «Como vê, está tudo fechado, pouca gente se vê na rua. Acaba por existir uma grande discrepância», lamenta. Interrogado sobre medidas por parte da Junta para fazer face a aumento de custo de vida, Tomás Alexandre garante que não há muito que possa ser feito. «Não depende de nós. Depende mais das pessoas que ajudam que isso aconteça. Temos locais que acabam por vender as suas casas por preços exorbitantes isso acaba por influenciar aqueles que não querem vender», explica.

Madonna, Shakira e Ronaldo
Seguimos para a herdade dos Cavalos na Areia. Uma grande placa do lado direito da estrada indica-nos o caminho. «Venha connosco por belas florestas e campos agrícolas até às montanhas, ao litoral e aos rios. Experimente o esplendor da natureza a partir da sela, embarcando em explorações equestres únicas que exploram a paisagem e os seus elementos na sua forma mais pura», sugere o site oficial do projeto. Os passeios desenrolam-se ao longo dos campos de arroz, atravessam a floresta de pinheiros e dunas até chegar à praia.
Damas trabalha nos Cavalos na Areia há 10 anos. «Foi o proprietário, o José Ribeira que teve a ideia. Pensava numa atividade para a Comporta e ele lembrou-se deste negócio. Começou sozinho, com apenas sete ou oito cavalos, há sensivelmente 15 anos. Atualmente tem 70 cavalos. Foi crescendo progressivamente e claro que, com o aumento do turismo, o projeto foi evoluindo», conta, enquanto percorremos o estábulo. «Estamos a 1 km da praia… A costa são 66 km completamente contínuos. E nós temos o privilégio de estarmos inseridos na Herdade da Comporta, onde da praia do Carvalhal até à da Comporta, temos 10 km. A praia está sempre deserta, nunca tem ninguém», continua. «Agora estamos em época baixa, o preço está a 70 euros por pessoa. Inclui hora e meia de passeio a cavalo com guia. A maior parte das pessoas nunca andou a cavalo. É muito giro! No Verão, cobramos 110 euros. Há tours de grupo e outras privadas», explica.
Segundo Damas, há em média 30 a 40 clientes por dia, muitos deles, bastante famosos. «A evolução do negócio foi gigante. Isso vê-se pelo aumento do grupo de cavalos. O turismo evolui muito aqui e são cada vez mais as celebridades que nos procuram», assegura. Uma delas, foi a Madonna. «Ela comprou uma casa em Lisboa, como toda a gente sabe. Durante os três ou quatro anos que morou lá, veio cá quase todos os meses», revela. No ano passado, a artista esteve na Comporta dois dias, para comemorar o seu aniversário. «A rainha da pop até aqui tem um cavalo, é o Eco, saiu há pouco para um passeio. É um cavalo lusitano», acrescenta. «Recebemos muitos jogadores de futebol. Mas já cá veio mesmo muita gente», sublinha. A lista de clientes conta com nomes como Michael Fassbender, Shakira, Cristiano Ronaldo e Kelly Piquet, que namora o piloto de Fórmula 1 Max Verstappen.
Para Damas, claro que há um preço a pagar com todas estas «visitas». «Esta zona nunca foi muito barata, mas com todos estes investimentos, claro que os preços sobem e eu acho que tem tendência a aumentar ainda mais», afirma. «Quem está a investir diz que isto ‘ainda nem começou’», acrescenta. «Neste momento, os americanos estão loucos com esta zona. Temos mesmo muitos. Descobriram isto… Agora saiu um grupo de nove para um passeio», adianta. Damas já chegou a receber uma gorjeta de 500 euros. «Agora quando recebo uma de cinco, até me parece mal», brinca. Relativamente ao Costa Terra, é como se fosse «uma base militar». «Está tudo limpinho, tudo organizado. Tem tudo do melhor! É grandioso. E claro que os clientes são super bem tratados», assegura. O preço mais alto para uma casa ronda os 14 milhões de euros.

Uma região em crescimento
Segundo José Santos, Presidente do Turismo do Alentejo, não existe impacto negativo com a fixação destas figuras públicas na região. «Há um impacto positivo para uma indústria como o turismo que vive de comunicação, de marketing, de boas notícias… Portanto, o facto de um conjunto de figuras públicas mundialmente conhecidas visitarem a região – e nós só sabemos da metade, porque essas pessoas visitam a região e pernoitam precisamente porque ela é calma, pouco escrutinada, não há jornalistas -, é comunicação gratuita para o território. Não encontro nenhum lado negativo no facto da região receber essas celebridades», afirma ao telefone com a LUZ. «O que temos conseguido fazer é encontrar em conjunto – lado público e lado privado -, as respostas que permitam à região, beneficiar de uma forma sustentada e equilibrada desta exposição mediática que se reflete em mais visitas, em mais pessoas, mais carros, mais pegada turística», explica. Ou seja, «temos de ser capazes de gerir todas estas questões para tirar o melhor futuro e mitigar uma ou outra situação que seja mais negativa». «É bom para o território e estou convicto que esta zona do litoral se afirmará cada vez mais como um dos principais centros turísticos a médio prazo da Europa», acredita.
Já a questão do aumento dos níveis dos preços, «é uma questão geral do país que, nalguns casos, o turismo pode, de facto, contribuir». «Eu creio que na zona da Comporta, continuamos a poder utilizar um conjunto de serviços diferenciados que estão acessíveis tanto ao visitante – tenha ele um poder de compra maior ou médio -, como ao residente. Restauração, pastelaria, lojas de luxo que abriram naquela zona, naturalmente serão menos acessíveis aos moradores, mas isso já acontece em geral em outras zonas do país e com toda a economia», garante José Santos. Sobre a questão das praias… «As praias daquela zona são muito movimentadas e muito frequentadas, mais frequentadas por não turistas. Olhamos para as praias da Comporta e do Carvalhal no verão e, às vezes, temos tendência para dizer que se estão a massificar e associamos essa massificação a pessoas que estão a pernoitar nesta região. Nada mais errado… Essas praias enchem-se de pessoas que vêm, por exemplo, da região de Évora, Beja… Há muitas praias acessíveis a todos os portugueses, que não estão ali hospedados», frisa o Presidente do Turismo do Alentejo.
Neste momento há um problema precisamente por esta afluência crescente de pessoas às praias, «mas que não está relacionado com a privatização das praias». «É preciso abrir mais praias. Há um grupo criado entre a Agência Portuguesa do Ambiente e a Câmara Municipal de Grândola por determinação da senhora Ministra do Ambiente, para que se estude a abertura de mais praias… Estamos a falar, na prática, de areais que existem, mas que não estão acessíveis, nem têm áreas concessionadas para receber mais turistas e mais visitantes», adianta. «Eu penso que essa perceção das ‘praias privadas’ que as pessoas têm, não é uma perceção correta. Eu desafio sempre a identificarem sempre as praias que estão privatizadas e que não há acesso de um qualquer comum. O que temos de fazer é garantir acesso a mais praias e criar aí zonas de apoio para que as pessoas possam ter maior leque de escolha», acrescenta.
Sobre a possibilidade de mudança dos príncipes de Sussex para a Costa Alentejana, José Santos admite que vários jornais ingleses já lhe colocaram a mesma questão. «O que eu sei é que os príncipes estiveram cá em setembro e adoraram a estadia e também sabemos que eles tinham uma intenção de comprar uma casa na Europa. Portanto, não me custa a acreditar que seja verdade que compraram casa na zona. Espero que sim!», afirma.
O Turismo do Alentejo faz um trabalho através da sua agência regional de promoção turística e que tem a função do marketing internacional, principalmente para atrair turistas. «Muitas das vezes quando se está nos mercados internacionais, ou quando recebemos operadores turísticos, fazemos promoção da região e, obviamente que ao fazer promoção do território, temos a noção que estamos também a atrair interesse de investidores e promotores. Diríamos que esse é um trabalho indireto. Esta dinâmica empresarial e atração de capital estrangeiro e investidores estrangeiros resultou muito também do desmembramento do império do grupo Espírito Santo. Acabou, pela sua própria dinâmica, por atrair quer bons empresários e grupos nacionais como o da Paula Amorim, como outros investidores internacionais», detalha ainda José Santos.
Interrogado se esta se tornará uma zona exclusiva, o Presidente do Turismo do Alentejo acredita que «de maneira nenhuma»: «É óbvio que o turismo em Portugal não começou na Comporta. Portanto, é por todo o país. E nós precisamos de mais turistas internacionais! Porque a prevalência e a proporção de dormidas de estrangeiros na região ainda é baixa. Ainda estamos em média nos 32%. Estes investimentos vão ser pagos com os turistas estrangeiros. O mercado português é um mercado limitado, até pela nossa própria demografia… O Alentejo tem cerca de 10% do mercado português. O ano passado tivemos 2,3 milhões de dormidas de portugueses e até fomos a região que mais cresceu no mercado doméstico. Não vamos crescer muito mais. Portanto, nós precisamos aumentar as dormidas de turistas internacionais e estes turistas procuram de facto projetos de grande qualidade. Aquela zona tem ainda pouca hotelaria. Felizmente isso está a mudar», explica. E remata: «Por isso é que a regulação do Estado, dos Municípios, tem de existir. Isso é muito importante para que o destino se mantenha atrativo, preservado e sustentado e que a questão da integração da comunidade seja uma realidade. Há desafios grandes… E aí o lado público tem de intervir e ser capaz de acompanhar a dinâmica do investimento privado».
A LUZ tentou contactar a Câmara Municipal de Grândola, bem como a Câmara Municipal de Alcácer do Sal. No entanto, até ao fecho desta edição, não obteve respostas.