Onde vamos parar?

Sente-se cada vez mais que Lisboa já não é propriamente uma cidade portuguesa…

Habitualmente, ando a correr para todo o lado, como, aliás, a restante população desta cidade de Lisboa. Entro no parque de estacionamento do Martim Moniz e, à minha frente, um jovem tenta fazer uma manobra para entrar no parque e não consegue.
Saio do meu carro, dou-lhe as instruções para posicionar devidamente o carro para, assim, poder entrar. No meio de todas aquelas manobras a cancela fechou. Tento tirar um bilhete e vejo que não consigo. Então toco no botão das informações e começo a falar com o funcionário que está do outro lado do mundo através dos altifalantes.
Estando eu numa amena cavaqueira com o tal rapaz do outro lado do mundo, forma-se uma fila enorme de carros, eles também, para conseguirem entrar no mesmo parque. Havia, no entanto, duas hipóteses: ou passavam por cima de nós ou teriam de esperar pacientemente. Ora, paciência é coisa que não temos…
Ouço, então, um berro, vindo da boca de um rapaz que estava à porta de um dos carros da fila, atrás do meu: ‘Ei! Chéfé!!! Chéfé’… com todos aqueles gritos, como poderia eu ouvir o homenzito que estava a dar as instruções para desbloquear a situação?
Tentava ouvir, mas o ‘Chéfé’ continuava a gritar. É então que, não conseguindo ouvir as instruções, dou também um grito: ‘Espera um pouco’. Então começou o princípio do apocalipse à porta do parque de estacionamento.
Dois homenzarrões enormes saem do carro e vêm na minha direção. Eu faço-me de desentendido e continuo a falar com o altifalante para que o carro à minha frente seguisse o seu caminho. Conversa para trás, conversa para a frente e, de repente, conseguimos que se abrisse a cancela… já pode seguir a fila de carros!
De volta para o meu carro, ignorando completamente os tais homenzarrões, eles metem-se à minha frente. O careca, alto, diz-me: ‘Tu num gritás comigo, estás a pércébér?’. Eu pergunto: ‘Porque estás tu aos gritos comigo? Não viste que não se conseguia ouvir nada?’. Impávido e sereno escuto eu da sua boca: ‘Eu não stó a grítá’. ‘Se não estás a gritar, nem te quero ouvir gritar’, respondo-lhe eu.
O outro, mais pequenino, enfrenta-me com o peito a crescer e diz-me: ‘Nós vái-te partir todo’. Pergunta então ao careca: ‘Pártimos o gájo áqui e mándámos pró Sánta Mária?’. Ao que o careca lhe respondeu: ‘Não! Não!’. Vira-se para mim e diz-me: ‘Nós vái-te partir tódo e mándar-te ao Sánta Mária’.
Nesse mesmo momento olho para eles e digo: ‘Amim vém du Catujal’. Entro no meu carro e vou embora. Furioso da vida…
Estou certo que se apresentasse queixa no SOS racismo ainda levaria um processo em cima por ter dado um grito… Estou também certo que tenho mais medo do SOS Racismo do que tenho destes rapazes… Afinal, eu também não sou santo nenhum… Amim vém du Catujal!
Encontro-me muitas vezes com este tipo de situações em Lisboa, nas minhas paróquias, nos sítios por onde vivo… Não sei como hei de explicar estas situações a quem nunca sentiu o que é viver na Baixa de Lisboa, pegar num carro, tentar chegar ao seu destino, ultrapassar Tuks que andam a 5km à hora…
Sente-se cada vez mais que Lisboa já não é propriamente uma cidade portuguesa… as autoridades não têm mais autoridade… a Polícia já não faz o que deveria fazer… e o Bronx está já aí…
Os Tuks invadiram as estradas… Os daquela etnia que ninguém pode nomear invadiram a baixa com a sua folha de louro prensada com caldos de Knorr e cócó de galinha… Vendem gato por lebre, isto é, vendem droga, mas na realidade é apenas folha de louro… Os assaltos nestes bairros não param de aumentar…
Mas está tudo bem… não sabemos onde isto vai parar… mas continuamos bem…