A Filatelia é o estudo e arte de colecionar selos postais que tem origem nas palavras gregas Philos (amigo) e Ateleia (taxa, marca, selo). Apesar de parecer não exigir muito conhecimento, a verdade é que quem o faz tem de ter uma grande capacidade de organização, de investigação, muita curiosidade e amor pela história e, sobretudo, dinheiro para investir. Lembre-se que até 1840 – antes da criação dos primeiros selos – as cartas eram pagas pelo destinatário. Ou seja, os carteiros, após entregar as cartas, transportavam algumas quantias monetárias. Isso fazia com que fossem, muitas vezes, assaltados. Segundo a Artbid, a principal leiloeira de Arte Online portuguesa, para evitar essas situações, o político inglês Rowland Hill, criou a reforma postal: a taxa passou a ser paga antecipadamente pelo remetente, evitando que os carteiros transportassem dinheiro.
Foi no dia 6 de maio de 1840 que o primeiro selo do mundo foi colocado em circulação. Chamava-se Penny Black, com a efígie da Rainha Vitória. Nos anos seguintes outros países instauraram o mesmo sistema.
Vício incorrigível e um grande investimento
«É um vício incorrigível, mas saudável», garante à LUZ, Rui Barreto de 65 anos. «Cresci em Moçambique, andei a passear por outros países de língua portuguesa e, depois do 25 de Abril, voltei para Portugal. Comecei como empregado de armazém quando saí da tropa – estive a estudar, mas depois não acabei –, e depois entrei para o Banco até me reformar», conta. O seu pai era um grande colecionador de minerais e fornecia, inclusive, os museus com a sua coleção que ficou toda em Moçambique. «Aliás, vieram alguns exemplares que eu tenho aqui em casa… Mas aquilo era tanto contentor que não podia vir para cá», explica.
Rui Barreto acredita que o pai acabou, inconscientemente, por lhe passar esse gosto. «Ele passou-me isso. É um vício desgraçado! (risos) É desgraçado, claro, porque nos sai do bolso! Vamos querendo sempre mais… Mais e melhor! Mas é saudável ao mesmo tempo», garante.
Começou a colecionar com apenas oito anos. «Nessa altura, colecionava selos, maços de cigarros e caixas de fósforos. Apanhava tudo! Quando viemos de Moçambique, a coleção dos maços ficou lá. Eram muitos, mas não prestava para nada! (risos). Trouxe as caixas de fósforos e os selos», continua. «Os selos são mesmo a minha paixão, apesar de também colecionar moedas. Houve uma altura em que queria tudo… Agora estou a apostar nos selos mais antigos que são os da Coroa Portuguesa. Também são os mais caros… Aos poucos as coisas vão-se compondo», revela.
O seu avô materno foi diretor geral dos Correios das Colónias e a sua irmã mais velha começou a colecionar selos. Quando perdeu o interesse, ofereceu-os ao irmão. «Deu-me aquilo tudo. Mas já nessa altura, eu andava muito interessado. Desde essa altura, que não há hipótese nenhuma! É a única coisa em que eu gasto muito dinheiro e com todo o prazer!», admite.
Interrogado sobre quantos possui, Rui Barreto garante que é impossível contar. «Não tem conta! Não sei… Tenho selos de todo o mundo. Tenho álbuns e álbuns… A maior parte estão na minha casa de Paço de Arcos. Ainda nem os trouxe para Santo André. Os selos são mesmo muitos milhares. Nunca os contei. Só selos novos – dos anos 40 até agora –, tenho todos em triplicado. Fora os usados, os repetidos, etc. Só em Santo André estão 50 álbuns… Se lhe digo que em Paço de Arcos estão muitos mais, imagine», detalha.
Sobre os preços: «Uma das séries que tenho é uma reimpressão dos primeiros selos portugueses, o D. Maria II de 1853. Além dessa reimpressão, eu tenho alguns desses primeiros selos, mas com carimbo. Um deles, em catálogo, já vai para aí nos dois mil euros. Só esse! O valor real, deve andar à volta de 60% disso», afirma. Mas há séries que Rui Barreto não tem capacidade para comprar, pois «são mesmo muito caras». «Nos EUA, comprei duas séries dos anos 30 e 20 que ainda não tinha. Os selos que saem todos os anos devem andar por volta dos 150 ou 200 euros. Tenho uma conta com os Correios e todos os selos que saem, eu recebo. Aliás, não é apenas o selo, é a pagela (uma folha A4 com os selos de uma emissão colados, um pequeno texto alusivo ao tema, os dados técnicos dessa emissão, blocos e carteiras de selos)». Segundo o ex-banqueiro, cada selo conta uma história e há imensas temáticas que vão desde escritores, a peixes, a carros do correio, a comboios, personalidades da cultura etc. «Só um álbum durante o ano, para pôr as emissões nacionais, já vai quase em 50 euros. Sem contar com os selos, claro. É uma loucura!», revela ainda.
Rui Barreto admite que, todas as semanas, compra selos em leilões. No entanto, não tem pretensão de vender. «Não sou capaz. É um investimento de uma vida», acrescenta. Além disso, mesmo se quisesse, acredita que estaria «tramado»: «Vou perder dinheiro. Mas eu não quero vender nada! Talvez o meu filho, que não se interessa nada por isto… Tenho aqui um grande investimento feito», frisa.