A campanha deste ano do Banco Alimentar destaca o lema “Para mais de 380 mil portugueses, o melhor presente é a sua ajuda”, em alusão ao número de pessoas que receberam apoio alimentar no último ano por meio de 2.400 instituições de solidariedade social.
Os voluntários estão presentes nas lojas participantes, disponibilizando sacos do Banco Alimentar para quem desejar contribuir, com as associações a pedirem “bens alimentares não perecíveis” como leite, conservas, azeite, açúcar, farinha e massas.
Além da recolha presencial, a iniciativa Ajuda Vale também está em andamento, permitindo apoiar através dos supermercados ou online, pelo site www.alimentestaideia.pt. Com esta opção, é possível contribuir mesmo sem sair de casa ou estando fora do país.
“É importante não nos esquecermos de que há, infelizmente, pessoas que precisam de ajuda para comer, principalmente numa altura como o Natal, em que a mesa da consoada faz parte de uma ideia de felicidade que gostamos de ver concretizada”, sublinhou Isabel Jonet, presidente da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares Contra a Fome, em comunicado divulgado sobre a campanha.
No ano de 2023, foram recolhidas 25.759 toneladas de alimentos, um volume considerável, mas que ainda assim não foi suficiente para atender a todas as necessidades identificadas.
Segundo as associações, os 21 Bancos Alimentares em operação no país distribuíram 24.262 toneladas de alimentos, avaliadas em cerca de 39,4 milhões de euros, num ritmo médio diário de 97 toneladas em dias úteis, seja em cabazes ou em refeições já preparadas.
Recorde-se que, em 2022, no âmbito do arranque da 62.ª campanha de recolha de alimentos promovida pelo Banco Alimentar Contra a Fome, Isabel Jonet esteve à conversa com o i. “Gostava que o Banco Alimentar fechasse porque significaria que não é necessário. Infelizmente, não vejo que isto aconteça nos próximos tempos”, confessou Isabel Jonet, refletindo sobre a persistência da pobreza em Portugal.
Isabel Jonet também traçou um panorama das carências no país, destacando a persistência da pobreza estrutural. “Ainda temos muitas famílias que não têm todos os dias uma refeição completa […] Um milhão de pessoas vive com menos de 250 euros por mês e 2 milhões de pessoas vive com menos de 450 euros por mês”.
Além da pobreza, a precariedade habitacional também foi apontada como uma preocupação crescente. “As pessoas precisam de ter uma habitação condigna a um preço razoável. E aquilo que eu diria que é que as pessoas não podem passar frio em casa e não ter dinheiro sequer para comprarem uma bilha para um radiador de gás”.
A pobreza intergeracional foi outro tema abordado pela presidente do Banco Alimentar. Apesar de avanços na qualificação da população, Jonet alertou para as dificuldades enfrentadas pelos jovens. “Era necessário que a economia gerasse empregos melhores e mais bem remunerados. Ainda que tenhamos pessoas mais qualificadas, elas não encontram lugar no mercado de trabalho e não têm salários que lhes permitam ter uma vida desafogada”.
Isabel Jonet destacou ainda o papel crescente do voluntariado e das parcerias com empresas. “Hoje em dia, a cultura do voluntariado, em Portugal, é diferente daquela que existia antes. Aliás, o Banco Alimentar teve um grande papel nisso ao trazer os jovens para o voluntariado”.
A colaboração com empresas também foi apontada como essencial para o sucesso das campanhas. “Nunca tive nenhuma empresa que não nos quisesse ajudar. Há muita confiança porque o processo é transparente: acreditam que podemos cuidar da marca delas, dão-nos os produtos e entregamo-los às famílias mais necessitadas”.