Kemi, a negra que se sente homem branco

Kemi, a negra que se sente homem branco

Omundo está cada vez mais estranho. Kemi Badenoch, negra de ascendência nigeriana, foi eleita líder do Partido Conservador inglês.
The Guardian não gostou. A colunista Nesrine Malik considerou que os conservadores elegem pessoas de cor apenas para evitar a crítica. Uma farsa, portanto. Kemi, disse a colunista, tinha opiniões desprezíveis sobre vários assuntos – entre os quais o colonialismo. The Guardian descobriu ainda que ela andava de avião e, volta e meia, comia um bife. Ou seja, Kemi estava ao nível de um bronco patriarcal branco – num dia em que a sua equipa de futebol tivesse perdido. Outros afirmaram que ela era uma marioneta da supremacia branca – uma espécie de pretinha salazarista como por cá se diz.
The Guardian e uma data de ativistas ingleses estão indignados com Kemi, a traidora. Ela estragou-lhes a narrativa de que os negros pensam todos da mesma forma– ao contrário dos brancos que têm opiniões diferentes. Andaram eles – os brancos que sabem o que é melhor para os negros – a ensinar-lhes como deveriam pensar, sentir e reagir, e vem agora esta Kemi pôr em causa as suas verdades raciais. É óbvio que a mulher não regula bem da cabeça, foi sujeita a uma lavagem ao cérebro, ou se vendeu por um prato de lentilhas.
Será que ela não percebe que o patriarcado branco inglês, os lordes da caça à raposa e das mansões vitorianas, aquela gente que parece saída do Brideshead Reviseted, a escolheu apenas para baralhar a Esquerda, confundir as minorias étnicas e, por fim, ridicularizar os negros? Será que ela não entende que o seu único papel é o de mordoma responsável por tornar apresentável a mansão Torie à sociedade inglesa?
Não bastava os negros americanos terem votado no Trump e vem agora esta nigeriana ingrata falar como se não tivesse cor, como se fosse apenas uma mulher, um ser humano. Ora isto não se admite numa sociedade progressista. Isto não se faz àqueles que, com tanto esforço e dedicação, andam há anos a preparar revoltas e guerras raciais. E se acabarem os tumultos nas ruas e as pedradas à polícia? E se os negros recusarem o papel de vítimas? E se se deixar de falar de raça? My God, onde é que isto vai parar?
Kemi deveria comportar-se doutra forma. Exigir uma indemnização por há séculos ter tido um antepassado escravo. Exigir a retirada das bibliotecas de A Cabana do Pai Tomás e a proibição de exibir E Tudo o Vento Levou. Impedir que os brancos usem tranças rasta e cozinhem Moamba de Galinha. E nem necessitaria dizer que era preciso matar o homem branco; uns grafitis na tumba do Churchill chegavam.
Em vez disso, a traidora Kemi recusa pertencer a uma tribo, recusa o que seus amos do The Guardian lhe dizem para pensar, e afirma-se como um ser humano livre.