A Europa de António Costa

António Costa tem a enorme vantagem de conhecer bem os seus colegas no Conselho Europeu, de poder dar um novo ímpeto ao que é urgente.

António Costa é hoje empossado como novo Presidente do Conselho Europeu. Depois do belga Herman Van Rompuy, do polaco Donald Tusk e do belga Charles Michel, é o quarto cidadão da União Europeia a exercer tais funções, todos eles ex-primeiros-ministros.


Inicia estas importantes funções naquele que é, como já referimos, o momento mais crítico da existência da UE no que se refere ao que sempre se considerou o seu maior sucesso: o ter conseguido, desde a criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço em 1951, mais de 73 anos de PAZ no nosso Espaço Comum!


As ações inconsequentes da UE e da OTAN desde que Putin começou a planear a sua aventura neocolonialista na Ucrânia têm vindo num perigoso crescendo. A invasão teria sido evitada se tivesse havido uma reação forte nos dias que a antecederam em que o ‘Ocidente’ tivesse deixado bem explícito que imporia uma no fly zone no espaço aéreo da Ucrânia. E a guerra teria tido outro impacto, caso o Kremlin se aventurasse a invadir, se os Aliados da Ucrânia tivessem concretizado essa mesma imposição da no fly zone.


Depois, durante estes penosos meses em que a Ucrânia tem lutado heroicamente pela sua sobrevivência, o curso da guerra teria sido novamente diferente se os Aliados tivessem fornecido a Kiev o armamento de que esta carecia, quando foi solicitado: foram sempre meses e meses de reservas até finalmente acederem! Nos veículos blindados, nos tanques, nos meios de defesa anti-aérea, nos caças, nos mísseis. A que nos conduziu esta falta de liderança, americana e europeia? A um escalar até ao clima de tensão que vivemos hoje, em que uma simples fagulha pode provocar algo apocalíptico! Se a culpa de tudo isto é de Putin, a responsabilidade do ponto a que chegámos é de Biden, von der Leyen, Michel, Macron, Scholz, etc.
É esta a Europa que António Costa herda, quando o que desejaríamos era que os líderes europeus se concentrassem no desenvolvimento económico para que se pudesse melhorar o nossso modelo social. Mais grave, se continuar a escalada da guerra, é uma Europa com as suas reservas de armamento esgotadas! Enquanto na Rússia as fábricas de material militar há anos que funcionam por turnos, 24 horas por dia, 7 dias por semana, no Ocidente laboram das 8 às 18 horas, de segunda a sexta. Irresponsáveis! Parece a guerra do saudoso Raul Solnado!


António Costa tem a enorme vantagem de conhecer bem os seus colegas no Conselho Europeu, de poder dar um novo ímpeto ao que é urgente. Com o eixo Berlim-Paris enfraquecido, com uma nova Comissão que, em muitos casos, ainda tem que conhecer os cantos à casa.


Outro fator de relevo é que, pela primeira vez, o Presidente do Conselho é um ex-deputado Europeu, mais ainda, um ex-vice Presidente do Parlamento Europeu. Também aqui a cooperação entre as Instituições pode melhorar substancialmente: Michel ignorava olimpicamente o Parlamento, certamente Costa fará bem diferente.


O sucesso de António Costa dependerá, essencialmente, do que for o seu empenhamento no restabelecer do precário equilíbrio europeu e no diálogo que conseguir manter com o futuro Presidente dos USA. Pode ser politicamente incorreto, mas na atual conjuntura, tal é muito mais importante que acalorados discursos sobre as alterações climáticas, deflorestação ou pautas aduaneiras. Para isso temos as Nações Unidas!
Sejamos realistas: ainda antes da defesa da dignidade humana, da democracia ou da liberdade, o nosso bem mais precioso é a vida! E porque temos a sorte de a tentar preservar sem capitular nos outros fatores inegociáveis, é a vida de todos, em particular a dos Europeus, que nos importa preservar. Em PAZ!

Politólogo