Elon Musk. O titã da tecnologia que se virou para a política

Nasceu na África do Sul e a infância foi marcada por violência e bullying. A má relação com o pai deixou marcas e fê-lo ser forte e determinado. Aos 12 anos tinha criado um jogo de computador e vendeu-o por 500$. Não sonhava, nessa altura, que se iria tornar o homem mais rico do mundo.

É considerado por muitos a mente mais brilhante desta era. Um génio, futurista, o rei da inteligência artificial, dos carros elétricos, dos foguetes espaciais, da rede social X (antigo Twitter). Outros acusam-no de ser um megalómano obcecado pelo dinheiro e influências. A verdade é que é polémico e controverso, no entanto, ninguém pode negar o seu poder. Em 2022, segundo a Forbes, este tornou-se o homem mais rico do mundo. Atualmente, possui uma fortuna avaliada em 267,4 mil milhões de dólares. Acredita que temos de fazer coisas que chamem a atenção do mundo, se não, «ninguém acreditará em nós». E de tudo tem feito para que falemos dele…

A amizade com Trump

Foi o homem que prometeu doar 6 mil milhões de dólares para resolver a fome no mundo e nunca o fez. Recentemente, temo-lo visto de braço dado com Donald Trump depois do futuro Presidente dos EUA – que tomará posse a 20 de janeiro –, ter escolhido Musk para liderar, em conjunto com o empresário Vivek Ramaswamy, o futuro Departamento de Eficiência Governamental que visa «conseguir cortes drásticos nos gastos públicos do Governo federal». A sigla desta nova agência, «DOGE», é uma referência à moeda criptográfica favorita do multimilionário, a dogecoin. Em comunicado, Trump disse que Musk e Ramaswamy irão «abrir caminho para a sua administração desmantelar a burocracia governamental, reduzir o excesso de regulamentações, cortar gastos desnecessários e reestruturar agências federais».

Esta semana, os dois detalharam pela primeira vez o seu projeto «radical» para a reforma do Estado, que vai desde os despedimentos em massa de funcionários públicos à eliminação de subsídios. «A 5 de Novembro, os eleitores deram a Donald Trump um mandato claro para uma mudança radical e têm direito a isso», lê-se num artigo de opinião conjunto publicado recentemente no Wall Street Journal. Os dois comprometem-se a liderar uma nova «comissão de eficiência governamental», garantindo estar à procura de uma equipa de «cruzados especializados em small-government» e que incluem «algumas das mentes técnicas e jurídicas mais brilhantes da América».

Os autores do artigo lembram que são empreendedores e não políticos, sugerindo o corte de 500 mil milhões de dólares, o equivalente a cerca de 475 mil milhões de euros, em despesas que «poderiam ser eliminadas muito rapidamente cortando os subsídios à radiodifusão pública ou a organizações progressistas como a Planned Parenthood».

Além disso, no artigo, Musk e Ramaswamy prometem «reduções maciças de pessoal na burocracia federal». No entanto, asseguram que os funcionários públicos despedidos serão «apoiados na sua transição para o sector privado» ou beneficiar de condições de saída «decentes».

Amado por uns, odiado por outros

Recorde-se que Musk doou pelo menos 130 milhões de dólares para a campanha do republicano, além de ter deixado Trump voltar para a rede social X e ter feito aparições regulares nos comícios. No dia 20 de outubro, o empresário anunciou que iria sortear o pagamento de um milhão de dólares, o equivalente a 920 mil euros, por dia, até à data das presidenciais norte-americanas, entre os eleitores do Estado da Pensilvânia que assinassem a sua petição online de apoio à Constituição dos EUA. A petição destinou-se a qualquer eleitor registado nesse estado que se comprometesse a apoiar a primeira e a segunda emendas da Constituição norte-americana, que garantem «a liberdade de expressão» e o «direito à posse de armas». E desde então que os dois não se largam…

Recentemente o governante e o dono da Tesla assistiram juntos a um combate de UFC, de artes marciais mistas. Depois, o presidente eleito assistiu ao lançamento de um foguetão da empresa de Musk. Além disso, desde as eleições, o empresário tem passado o seu tempo com Trump na sua propriedade de Mar-a-Lago, na Flórida, participando mesmo em chamadas com líderes mundiais, incluindo uma com o presidente Zelensky.

Mas alguns apoiantes de longa data de Trump já se estão a mostrar incomodados com a presença e autoridade súbita de Musk.

Segundo o site Axios, o multimilionário opõe-se à escolha do proeminente advogado e conselheiro de Trump, Boris Epshteyn, e sobretudo à influência que este terá nas nomeações para o novo gabinete de Trump. O mesmo site escreve que durante um desses jantares na casa daquele que será o próximo Presidente dos EUA, no Mar-a-Lago, Musk teve uma reação «explosiva», acusando Epshteyn de estar a «libertar informação para a imprensa». De acordo com as mesmas fontes, o advogado respondeu ao empresário que «este não sabia daquilo que estava a falar». Recorde-se que Epshteyn foi uma das 18 pessoas acusadas por um grande júri no Arizona pelo seu alegado envolvimento no esquema para criar uma lista de falsos eleitores para Donald Trump nas eleições presidenciais de 2020.

Uma infância de violência

Mas, afinal, quem é realmente Elon Musk e o que esconde o passado daquele que é o homem mais rico do mundo? O jornalista Walter Isaacson – autor das biografias de Steve Jobs, Albert Einstein e Leonardo Da Vinci – acompanhou durante dois anos a sua rotina com o objetivo de escrever a sua biografia com o seu nome, lançada no ano passado. O escritor participou em reuniões, esteve nas fábricas do multimilionário e entrevistou-o a ele, à sua família, amigos, colegas de trabalho e adversários. Segundo a editora, a obra tem como ponto de partida a questão: «Os demónios que movem Musk são aquilo que é preciso para se chegar à inovação e ao progresso?».

Em 1971, na África do Sul, nascia uma criança destinada a desafiar os limites da capacidade humana na terra. Filho de Errol, um engenheiro sul-africano, e Maye, uma modelo canadiana e nutricionista, Elon é o mais velho de três irmãos: Kimbal Musk e Tosca Musk, que também possuem um grande espírito empreendedor. Kimbal é fundador de três empresas de alimentos, enquanto Tosca é diretora, produtora e proprietária da Passionflix, um serviço de streaming de séries/filmes de romance. Os seus pais divorciaram-se em 1980, pouco antes do seu 9º aniversário.

Musk começou a demonstrar, desde muito jovem, interesse por tecnologias. Aos 12 anos, aprendeu a programar e não foi preciso muito tempo para desenvolver o seu primeiro jogo de computador, chamado Blastar. Na altura, vendeu-o por 500 dólares. Apesar de ter crescido numa família de classe média alta e ter a companhia dos irmãos, a sua infância não foi fácil, já que na escola sofria de bullying e a relação com o pai – com quem vivia –, não era boa. Uma vez, o pequeno Elon levou uma tareia tão grande dos seus colegas que, segundo o seu irmão, ficou desfigurado. O rosto ficou como «uma bola de carne tão inchada que quase não dava para ver os olhos». «O bullying era considerado uma virtude», afirmou Kimbal numa conversa com o biógrafo, acrescentando que o irmão perdeu cinco quilos nessa altura.

«Ele tinha dificuldade em entender sinais sociais. A empatia não era algo natural, e ele não tinha o desejo, nem o instinto, de tentar agradar. Como resultado, era regularmente provocado pelos valentões, que se aproximavam e lhe davam socos. ‘Se nunca levaste um soco no nariz, não tens ideia de como isso te afeta para o resto da vida’», lê-se no livro. No entanto, a maior cicatriz que ficou, foi a falta de cuidado e preocupação do pai. Escreve Isaacson que depois desse «ataque», Errol deu razão à criança que espancou o filho. «O menino tinha acabado de perder o pai, que se suicidara, e o Elon chamou-o de burro», contou Errol. «Ele tinha o hábito de chamar as pessoas de burras. Como é que eu podia culpar aquela criança?», interrogou.

Quando o filho recebeu alta e foi para casa, segundo o próprio, o pai repreendeu-o durante uma hora. «Tive que ficar em pé durante uma hora enquanto ele gritava comigo. Chamou-me de idiota e disse que eu era um inútil», recordou Elon. Kimbal, que testemunhou o episódio, diz que é «a pior lembrança da sua vida». «O meu pai simplesmente perdeu o controlo, como frequentemente acontecia. Ele não tinha compaixão», garante o irmão mais novo. Ambos deixaram de falar com o pai há uns anos.

Uma mente brilhante

Musk estudou em escolas na África do Sul, mas, aos 17 anos, decidiu mudar-se para o Canadá, em parte para evitar o serviço militar obrigatório sob o regime do apartheid. Entrou para a Queen’s University, em Ontário, onde estudou durante dois anos. Depois, foi transferido para a Universidade da Pensilvânia, nos EUA, onde obteve dois diplomas: um em Economia e outro em Física.

Em 1994, fez dois estágios: um na inovadora startup de armazenamento de energia Pinnacle Research Institute e outro na startup Rocket Science Games. Depois disso, foi aceite num doutoramento em Física Aplicada e Ciência dos Materiais na Universidade de Stanford. No entanto, abandonou o curso apenas dois dias após o início para se dedicar ao empreendedorismo no campo da internet e tecnologia.

Começou em 1996 com a Zip2 – uma empresa de software que licenciava software online de guias metropolitanos para jornais. Em 1999, a Compaq adquiriu a Zip2 por cerca de 300 milhões de dólares e foi nesse momento que Musk começou a ter notoriedade no universo dos negócios. Com o dinheiro que conseguiu com a venda da empresa fundou a X.com, outra empresa de serviços financeiros online, que mais tarde se tornaria o PayPal, após fusão com outra startup.

Em 2002, tal como aconteceu com a Zip2, o PayPal foi vendido por 1,5 mil milhões de dólares. Depois disso, Musk fundou empresas que atualmente trabalham todos os dias para o futuro da tecnologia: como a SpaceX (em 2002), a Tesla (da qual se tornou CEO em 2008) e a Neuralink, além de projetos ambiciosos como o Hyperloop.

12 filhos

Novamente no campo pessoal, o empresário tem 12 filhos, de relações com diversas mulheres. O magnata conheceu aquela que viria a ser a sua primeira mulher, Justine Musk, na Queen’s University, no Canadá. O casal casou-se em janeiro de 2000 e, em 2002, teve o seu primeiro filho, Nevada Alexander Musk. Infelizmente, este faleceu com apenas 10 semanas, vítima de síndrome de morte súbita infantil (SMSI).

Depois do desgosto, Justine e Elon recorreram a tratamentos de fertilização in vitro e, em abril de 2004, nasceram os gémeos Griffin e Xavier Musk. Há dois anos, Xavier, que fez a transição de género e adotou o nome Vivian Jenna Wilson, renunciou ao apelido do pai. Esta não quer estar associada a Musk.

O casal voltou a recorrer à fertilização in vitro e desta vez foram três. Em janeiro de 2006, nasceram Kai, Saxon e Damian. O empresário e a escritora canadiana divorciaram-se dois anos depois. 

Elon foi ainda casado com a atriz Talulah Riley e teve um breve relacionamento com a também atriz Amber Heard. Mas em 2018, começou um novo amor com a artista canadiana Grimes. Em 2020, o casal teve o primeiro filho de ambos, um rapaz chamado X AE A-XII Musk – uma combinação de variáveis e símbolos que representam amor, inteligência artificial, e um avião favorito do casal, o SR-71 Blackbird. Em 2021 nascia o segundo filho do casal com um nome igualmente polémico: Exa Dark Sideræl Musk, nascida através de uma barriga de aluguer. Em setembro de 2023, foi revelado que o casal teve um terceiro filho, chamado Techno Mechanicus, ou «Tau».

E não se ficou por aí… Um mês antes do nascimento da segunda filha com Grimes, Elon Musk foi pai de gémeos, Strider e Azure, com Shivon Zilis, uma diretora de operações e projetos especiais da Neuralink, uma das suas empresas

Depois de se separar de Grimes, o magnata começou um relacionamento com a atriz australiana Natasha Bassett. O casal começou a namorar em fevereiro de 2022. No entanto, o relacionamento terminou em julho do mesmo ano.

Muito por conta da aliança entre Musk e Trump, falasse cada vez mais do multimilionário e sobre curiosidades da sua vida.

Os seus livros preferidos, por exemplo, são O Guia do Mochileiro das Galáxias, de Douglas Adams, e Fundação, de Isaac Asimov. Elon já admitiu que estes acabaram por moldar as suas visões sobre tecnologia e exploração.

No que diz respeito ao cinema, é um grande fã da série X-Men. Lembre-se que o empresário deu aos robôs de montagem da Tesla o nome de personagens dos X-Men, como Xavier, Wolverine e Cyclops. Diz-se ainda que o retrato da personagem Tony Stark (e interpretado pelo ator Robert Downey Jr.) nos filmes do Homem de Ferro foi inspirado, em parte, em Elon Musk. Este fez uma breve aparição no Homem de Ferro 2.

Além disso, o empresário é obcecado com a letra X, já lançou o seu próprio perfume que descreve como «a melhor fragrância da terra».