A maioria dos jovens ocupa uma parte muito significativa do seu tempo nas redes sociais. Se antigamente jogavam à bola na rua, ficavam na escola à conversa até tarde ou horas esquecidas ao telefone quando chegavam a casa, hoje a grande companhia dos adolescentes são as redes sociais.
Estas plataformas foram surgindo, avançando e tomando conta da vidas dos nossos filhos sem que muitos pais se apercebessem ou debruçassem sobre este assunto. A maioria dá-lhes livre acesso sem noção do que ali se passa e das consequências que podem ter no seu desenvolvimento, nomeadamente ao nível da saúde mental, como o aumento da ansiedade, baixa autoestima, distúrbios de sono ou problemas ao nível da capacidade de concentração. Já para não falar dos casos em que os jovens se colocam em perigo e chegam a perder a vida tentando replicar desafios perigosos.
Teríamos receio de deixar os nossos filhos com um estranho, mas paradoxalmente não nos preocupamos em deixá-los entregues a aplicações que não controlamos, repletas de desconhecidos, por tempo ilimitado e com acesso a todo o tipo de conteúdos.
Durante a adolescência os jovens passam por inúmeras transformações tanto físicas como psicológicas que conduzem a uma espécie de redescoberta de si mesmos. O corpo em constante mudança passa por fases mais difíceis, que podem causar alguma ansiedade e levar a uma maior necessidade de reconhecimento, que é muitas vezes procurada nas redes sociais. A autoimagem é um dos fatores mais importantes nesta fase e pode sofrer oscilações relevantes de acordo não só com a aparência real, mas sobretudo com a forma como esta é sentida e reconhecida pelos outros. É uma fase de alguma vulnerabilidade, em que os jovens são muito suscetíveis e permeáveis à opinião dos pares e à forma como são vistos.
Assim, mesmo para adolescentes socialmente integrados e com relações sociais saudáveis, o impacto das redes sociais pode ser muito negativo. Por um lado, porque se expõem demasiado e com pouca inibição a um público muito vasto e desconhecido, ficando sujeitos não só a comentários favoráveis, mas também a todo o tipo de comentários maldosos e cruéis. Por outro lado, porque estão em constante comparação – sobretudo as raparigas, mas também os rapazes – com corpos esculturais, roupas fantásticas e ideais de beleza que só podem ter um impacto negativo na sua autoestima.
Com base neste desfasamento entre a realidade e a ‘realidade virtual’ o Tik Tok decidiu restringir os filtros de beleza a menores de idade. De facto, temos estado a criar uma espécie de dois mundos paralelos que cada vez se tornavam mais distantes. Por um lado, o suposto mundo perfeito do TikTok que através dos seus ‘filtros’ transforma quase todos em top models, com requintes de luxúria arrasando o comum dos mortais, que se acanha e envergonha atrás do ecrã com o seu corpo e vidas que sente como miseráveis. E por outro as relações cada vez mais distantes e superficiais entre as pessoas reais que de manhã se confrontam com o espelho da casa de banho sem filtros e se esforçam desmesuradamente e à custa, muitas vezes, de algum sofrimento, por quando chegarem à escola corresponderem aos ideais enganosos e inalcançáveis dos instantâneos das redes sociais.
É bom sinal que comece a haver maior sensibilidade e que se procurem e tomem medidas para o impacto negativo que as redes sociais estão a ter nos jovens. Mas temos de fazer muito mais do que esperar que as plataformas tomem medidas como abolir filtros de beleza. Não podemos deixar os jovens sem qualquer controlo do que ali se passa e devem ser os pais, educadores e sociedade a estarem atentos e a serem os maiores filtros. Para que toda uma realidade feita de jovens fantásticos e imperfeitos não se deixe dominar por uma outra que pode ser muito doentia e falaciosa, assente no exibicionismo e carente de aprovação.
Tik Tok sem filtros
Neste desfasamento entre a realidade e a ‘realidade virtual’ o Tik Tok decidiu restringir os filtros de beleza a menores de idade