Devemos ou não dizer que o Pai Natal existe?

O Pai Natal existe em cada família e será mais uma memória da infância que todos irão guardar com carinho e provavelmente alguma saudade.

Quando vemos crianças a usar tecnologias desde o berço, quando as canções infantis dão lugar aos vídeos do YouTube e os brinquedos são substituídos por telas, é gratificante ver que ainda assim a tradição, a ingenuidade e inocência se mantêm e que os mais pequenos continuam a acreditar e viver fantasias, como o velhinho das barbas brancas.
Não é por acaso. À parte de A Fada dos Dentes e do Coelhinho da Páscoa, não há muitas situações em que os adultos embarquem no sonho, invistam e alimentem uma fantasia deste calibre. E, dos três, o Pai Natal é sem dúvida o que tem mais protagonismo.
É delicioso não questionar como um velhinho com uma barriga tão grande consegue escorregar pela chaminé e, mais difícil ainda, voltar a subir. Ou será que sai pela porta? Não colocar dúvidas ao facto de as renas do Pai Natal voarem, dos presentes das crianças do mundo inteiro caberem no trenó ou de os duendes conseguirem fabricá-los todos.
É fantástico poder fazer parte desta história de encantar, alimentá-la, ornamentá-la e enchê-la de magia. Há quem tenha dúvidas se isso é correto. Se se deve ‘mentir’ às crianças. Se elas irão perdoar. Se irão continuar a acreditar nos pais.
Não devemos encarar este enredo como uma mentira. Muito menos uma mentira dos pais. Quando muito seria uma mentira coletiva. A mesma que nos contaram a nós. É uma fantasia que faz parte da nossa sociedade e é extraordinário podermos de vez em quando entrar neste mundo encantado para o viver com alegria com os mais pequenos. Deixar-nos embrenhar com eles nesta quadra mágica. Voltar a ser um pouco criança e a acreditar no Pai Natal, nas renas e nos duendes. Deixar que uma parte de nós se mantenha na dúvida e se deixe contagiar.
À medida que vão crescendo, ao mesmo tempo que as crianças começam a ouvir na escola essa afronta de que o Pai Natal não existe, a sua maturidade cognitiva leva-as a questionarem-se e a aperceberem-se de uma série de incongruências. De coisas que têm pouca relação com a realidade e que dificilmente seriam possíveis. Seria até um pouco assustador um estranho entrar em nossa casa a meio da noite quando todos estão a dormir. Nesse momento pode até ser reconfortante perceber que é tudo uma fantasia. Os pais só têm de os acompanhar na sua descoberta. Muitas vezes chega a uma altura em que ambos sabem a verdade que não chega a ser dita abertamente, nem totalmente desvendada, o enredo mantém-se, numa espécie de cumplicidade.
Descobrirem que os pais foram os responsáveis pelos presentes no sapatinho ao longo de todos aqueles anos, que mantiveram cuidadosa e carinhosamente o sonho, só os fará admirá-los mais e gostar ainda mais do Natal.
Não se preocupem aqueles que acham que os filhos não lhes vão perdoar por terem mentido, que é um mau exemplo, que será uma deceção.
Triste e quase imperdoável seria negar esta ou outra fantasia tão especial, não permitir acreditar e sonhar com o impossível, imaginar e fantasiar uma história tão cheia de magia que pode ser vivida em conjunto.
Na verdade, o Pai Natal existe em cada família, na forma como é idealizado, na tradição de cada casa: não importa se chega à noitinha ou se vem de madrugada, se é visto ou se vem quando estão todos a dormir, se entra pela chaminé ou se deixa os presentes à porta. Será mais uma memória da infância que todos irão guardar com carinho e provavelmente alguma saudade.
Um Santo e Feliz Natal!