Nesta época do ano, um pouco por todo o mundo, cidades, povoações e lares enchem-se de luzes que criam atmosferas de encantamento e evocam sentimentos que vão da espiritualidade à nostalgia. A relação entre a luz e o Natal tem raízes profundas, combinando tradições ancestrais, simbolismo religioso e avanços tecnológicos.
Muito antes de haver Natal, a luz já tinha um significado especial nas celebrações do inverno. Festivais pagãos, como o Yule no Norte da Europa e a Saturnália em Roma, centravam-se no solstício de inverno, o dia com a noite mais longa do ano. Este fenómeno ocorre por volta de 21 de dezembro, quando o Sol atinge a sua maior declinação a sul do equador celeste, correspondendo ao ponto mais baixo da sua trajetória aparente no céu para os observadores no hemisfério norte. Tais festividades, que incluíam acender velas, fogueiras e tochas, assinalavam o gradual aumento dos dias e simbolizavam esperança e renovação.
Com o cristianismo, a luz adquiriu um novo significado: Jesus Cristo é descrito no Evangelho de São João como a ‘Luz do Mundo’. Os primeiros cristãos adotaram essa imagem, conotando-a com a ideia de orientação divina e de vitória do bem sobre o mal. O costume de acender o tronco de Natal, herdado da época pagã, manteve-se nas celebrações medievais, proporcionando calor físico e simbólico aos lares. Foi no século XVI, na Alemanha, que surgiu o hábito de decorar abetos com velas e maçãs. As velas representavam as estrelas do céu e a luz de Cristo, enquanto as maçãs, simbolizando abundância, renascimento e colheita, estavam associadas à fertilidade e à generosidade de Deus. É esta a origem da árvore de Natal.
A contribuição moderna para a relação entre luz e Natal deve muito às inovações tecnológicas do século XIX. Em 1879, a criação da primeira lâmpada incandescente prática e comercializável, pelo norte-americano Thomas Edison, revolucionou a iluminação, incluindo as celebrações natalícias. A primeira árvore de Natal com luzes elétricas surgiu em Nova Iorque, em 1882, graças a Edward Hibberd Johnson, um associado de Edison. Esta inovação, que oferecia uma alternativa mais segura às tradicionais velas, frequentemente responsáveis por incêndios, conquistou rapidamente popularidade. No início do século XX, as luzes elétricas de Natal já estavam amplamente disseminadas nos lares norte-americanos, expandindo-se depois para ruas e praças públicas.
As lâmpadas LED (Díodo Emissor de Luz) foram concebidas na década de 1960, mas foi apenas nas duas últimas décadas, sobretudo por razões de sustentabilidade, que o seu uso passou a ser incentivado politicamente. Como resultado, as velhas gambiarras de Natal tornaram-se preciosidades. Embora o menor consumo energético, a maior durabilidade e a reduzida emissão de calor das lâmpadas LED as tornem mais ecológicas do que as incandescentes, a intensidade e a frieza do seu brilho estão a alterar o ambiente luminoso do Natal. Enquanto as lâmpadas incandescentes emitem luz amarelada quando o seu filamento de tungsténio é aquecido pela passagem de corrente elétrica – processo que também gera calor (efeito Joule), resultando numa eficiência energética de apenas 5% (somente 5% da energia consumida é convertida em luz útil) -, as lâmpadas LED baseiam-se na junção P-N de dois semicondutores. O semicondutor de tipo P possui lacunas eletrónicas e o de tipo N, eletrões livres. A aplicação de corrente elétrica provoca a recombinação de eletrões e lacunas, resultando em eletroluminescência, com uma eficiência energética de 80 a 90%. A cor da luz emitida depende dos semicondutores utilizados.
As luzes de Natal das ruas portuguesas, permitam-me dizer, muitas vezes pouco têm de natalício, assemelhando-se mais a enfeites de parque temático. Para agravar a situação, são acompanhadas pela música incessante de altifalantes, gerando um suspiro coletivo de alívio quando, finalmente, são desligadas. Além disso, mudam todos os anos, acarretando custos significativos para o erário público. Nas cidades suíças, as iluminações, geralmente pertencentes às associações de comerciantes, são reutilizadas anualmente. Basileia (nas fotos) é um exemplo notável: as suas decorações luminosas datam de 1963 (agora em LED). Por cá, ao contrário da Suíça, o dinheiro parece não ser um problema: todos os anos, os municípios recorrem ao aluguer destes equipamentos, muitas vezes até sem concurso público, como exige a lei. Para justificar a prática, apelidam as luzes e feiras de Natal de ‘espetáculos artísticos’. Mas é Natal, e nada parece mal.
Químico