O profeta Isaías faz um anúncio: «Uma virgem conceberá e dará à luz um filho e o seu nome será Emanuel» (que quer dizer, Deus connosco). Esse filho, diz o profeta, será conhecido «Conselheiro Maravilhoso, Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz». As primeiras comunidades cristãs viram nesta Escritura o anúncio da vinda do Messias, que se cumpria com o nascimento de Cristo.
Naturalmente, sabemos que os judeus, esperando a vinda do Messias, não acreditam que Jesus seja o cumprimento das profecias. Algumas tenho falado com judeus que me dizem que Jesus não poderá ser o messias, porque as Escrituras – a Torah e os Profetas – anunciam que quando vier o Messias haverá uma grande paz. No dizer do profeta Isaías, será o Príncipe da Paz.
Seguindo o raciocínio destes meus amigos, uma vez que a paz ainda não dominou a terra, temos de admitir que os tempos messiânicos ainda não se cumpriram e, neste sentido, Jesus não seria o Cristo, isto é, o Messias. A terra de Jesus, Belém, está ela mesma em grande convulsão, em grande tormenta…
Como podem os cristãos dizer que estamos nos tempos messiânicos se, na verdade, a guerra aumenta?
Quando os anjos apareceram aos pastores disseram as conhecidas palavras: «Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens». É esse o princípio de um grande hino que a Igreja programa em todas as liturgias. Ao longo do novo testamento há um incomensurável número de vezes que os escritores se debruçam sobre o tema da paz. Aliás, depois da ressurreição, a primeira coisa que Jesus diz quando aparece aos discípulos é: «A paz esteja convosco».
Gostava de, no meio do turbilhão das muitas guerras que existem no mundo de poder olhar para as imensas guerras que se encontram em cada homem… no Evangelho de João, Jesus diz uma palavra que repetimos, também, em todas as eucaristias: «Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como a dá o mundo».
Há uma paz que nos é prometida pelo mundo e que poderá não ser permanente, porque pode acontecer que, não obstante um ambiente de paz, as guerras interiores de cada homem não cessem. É preciso que sejamos claros: podemos, apesar da paz exterior, não conseguir alcançar aquela interior.
O inverso também é verdade! Pode acontecer que aqueles homens e mulheres que vivem constantemente debaixo de bombardeamentos constantes encontrem a paz. Porque o facto de vivermos em Portugal numa relativa paz, não nos tem livrado de convulsões sociais e culturais incríveis. Temos paz militar, mas dentro de nós há um turbilhão de contradições que não nos deixa encontrar a serenidade.
O que está por detrás da guerra é o mesmo que está por detrás das convulsões sociais, das greves, das manifestações, etc: o dinheiro. Porém, mesmo que ganhemos todo o dinheiro do mundo seria sempre pouco…
Dentro de alguns dias teremos o Natal. Será bom… Vamos telefonar para tanta gente a desejar saúde e paz neste tempo…
Temos, no entanto, de afirmar que, mesmo que tenhamos saúde, podemos não ter paz e mesmo que tenhamos paz podemos estar em guerra. Quantas pessoas vão passar este Natal em paz apesar das suas doenças… Quantas pessoas sem dinheiro vão encontrar o Natal em paz apesar das guerras em que vivem… Porque a paz não é algo que apanho, mas uma busca constante do interior de cada homem.
Não havia lugar na hospedaria…
Como podem os cristãos dizer que estamos nos tempos messiânicos se, na verdade, a guerra aumenta?