Anda aí o Velho do Restelo!!! A figura do pessimismo em Portugal

Essa atitude era comum entre muitos portugueses da época, preocupados com os riscos das explorações ultramarinas que, embora gloriosas, muitas vezes implicavam em sacrifícios humanos e económicos para as famílias e para o reino.

A expressão: Anda aí o Velho do Restelo, é bastante utilizada para nos referirmos a pessoas ou grupos que são excessivamente pessimistas, críticos ou reticentes quanto a projetos e mudanças ousadas. Esse termo tem origem na obra épica Os Lusíadas de Luís de Camões, onde aparece a figura do “Velho do Restelo” como símbolo do conservadorismo e da resistência ao espírito aventureiro e empreendedor dos portugueses dos séculos XV e XVI.

No Canto IV de Os Lusíadas, Camões descreve a partida de Vasco da Gama e a sua frota rumo às Índias, um marco histórico da expansão marítima portuguesa. Durante essa cena, um homem velho critica a expedição e os seus ideais. Esse velho, o “Velho do Restelo”, representa uma voz cética, que, em vez de ver na viagem uma oportunidade, vê nela apenas riscos, possíveis tragédias e desperdício de recursos que poderiam, em sua visão, ser mais bem utilizados no país.

O Velho do Restelo temia que as viagens marítimas trouxessem mais perdas do que benefícios, e que a busca pela glória e pela fama se transformassem em tragédia. Ele é a personificação do conservadorismo, do medo do desconhecido e da resistência à mudança. Essa atitude era comum entre muitos portugueses da época, preocupados com os riscos das explorações ultramarinas que, embora gloriosas, muitas vezes implicavam em sacrifícios humanos e económicos para as famílias e para o reino.

Ao longo dos séculos, o termo foi-se consolidando na cultura portuguesa como uma metáfora para pessoas que demonstram uma visão crítica e pessimista sobre iniciativas ambiciosas ou inovações. Quando se diz: anda aí o Velho do Restelo, o que se está a insinuar é que há uma presença de descrença ou resistência a um projeto, representando um pensamento antiquado que se foca mais nos riscos do que nas possibilidades de sucesso. No entanto, a crítica do Velho do Restelo também pode ser vista de forma positiva, como um alerta para os excessos e para os riscos de uma ambição excessiva.  Ele, o Velho do Restelo, representa o equilíbrio entre a ambição e a prudência, um conselho para agir com sensatez em tempos de mudanças.

Assim, a expressão: Anda aí o Velho do Restelo, continua a ser uma referência cultural e histórica em Portugal. Porém, apesar de simbolizar o pessimismo, o receio da mudança e o desejo de preservar a estabilidade face às incertezas do futuro, a expressão representa também um alerta para o perigo da ambição desmesurada e da falta de reflexão. O Velho do Restelo, na sua complexidade, faz parte da identidade portuguesa, espelhando o equilíbrio entre o desejo de explorar o novo e a necessidade de conservar o que é seguro e conhecido.

Afinal, como Camões nos lembra: o espírito aventureiro precisa da sabedoria e cautela. É provável que essa combinação ajude a definir o verdadeiro espírito português.  

Docente da Unidade Politécnica do Instituto Universitário Militar