Para quem não vive na realidade, mas no sofá, absorvendo as doses letais de um conformismo típico do pensamento único ministrado pelos canais televisivos da esquerda do bem, o tema deste mês foi a operação policial no Martim Moniz.
Essa operação foi de imediato diabolizada como fascista. A PSP não deve ser autónoma no Estado de direito, mas obedecer ao socialismo e à extrema-esquerda, pois caso não o faça é racista e serve a extrema-direita. Desta vez o móbil da operação seria investir contra pessoas, unicamente porque são imigrantes.
Assistimos nesses canais televisivos a uma autêntica carnavalização do acontecimento. A fauna de sempre desfilou durante alguns dias nesses espaços televisivos e dirigiu-se ao local sinalizando a virtude, acabando nos inevitáveis abaixo assinados e nas cartas abertas.
Só esta nova esquerda narcisista e televisiva é boa e justa e como na história de Lobo Antunes, do pobre que tinha dona, afirmam ser os únicos proprietários das vítimas do mundo.
Esta esquerda, este socialismo liberal, elitista e cortesão, que vive afastado do mundo real tem de dar prova de vida com os seus espetáculos com a vítima sazonal, o trans, o migrante, a ficção do racializado, o ‘gay’ perseguido, a mulher transformada em criatura incapaz de se defender, o bom selvagem da etnia x e y.
Pasolini, no maio 68, quando a polícia foi atacada afirmou estar do lado dos polícias, a classe trabalhadora perante o outro lado, a camarilha ociosa, parasitária e burguesa, que vivia numa bolha protegida com o dinheiro do papá, o subsídio da cultura e da universidade a brincar às ‘causas’. Hoje, por exemplo, vemos no PS a chegada ao poder dos antigos quadros das juventudes partidárias, gente que nunca trabalhou na vida e sempre viveu e viverá do partido e dos respetivos cargos.
Esta elite que constitui uma minoria totalitária, após a semana do tema imigrante, migrará para outro happening, e lá aparecerá de novo em todos os programas de comentário e noticias a exibir a sua superioridade ideológica e moralista na velha tradição jacobina e estalinista. Mas os problemas das pessoas permanecem, neste caso dos portugueses e dos que chegam. Nada muda, tudo é ‘show’ vazio e egolátrico.
A especificidade da imigração no século XXI na Europa é um problema local e global muito grave. Esta questão agudiza-se porque não existem políticas públicas boas e sérias, quer por incompetência (intencional?), quer por deformação ideológica. Os governos e câmaras são negligentes, deitam apenas algum dinheiro e propaganda para cima dos problemas. O Martim Moniz, exceto para o turismo ideológico é um gueto insuportável, tem dezenas de pessoas por metro quadro que vivem em condições indignas, onde se acumulam toneladas de lixo, não se vê uma mulher na rua, há caixas de restos de animais e dejetos espalhadas e paredes tingidas de sangue e vómito. Tudo falhou ali e as principais vítimas são esses imigrantes e quem com eles vive diariamente. Não há verdadeiras políticas públicas de integração e assimilação. Nem o que temos para dar é bom e digno, nem exigimos o que é fundamental. Devemos receber bem quem chega, de modo controlado, mas quem chega tem de se integrar e compreender a reciprocidade. Lisboa não é Daca e todas as pessoas devem viver com dignidade.
Já foi à rua do Benformoso?
A especificidade da imigração no século XXI na Europa é um problema local e global muito grave.