Dakar. Mais dunas e maior dureza

O Dakar continua a ser a maior aventura dos tempos modernos. A edição de 2025 começa sexta-feira e tem 12 etapas capazes de tirar o fôlego a pilotos e levar as sofisticadas máquinas ao limite. João Ferreira é piloto para andar na frente com o Mini JCW T1+.

A edição deste ano vai ser a mais longa e difícil desde que o Dakar se mudou para a Arábia Saudita. Ao longo de 8.000 quilómetros, sendo 5.200 feitos ao cronómetro, os pilotos vão encontrar dunas a perder de vista e rápidos estradões de terra e pedra, vão ter etapas maratona, dormir numa tenda no deserto profundo e receber ração de combate. Outra forma de entender a exigência do Dakar é pensar que tem a mesma quilometragem de uma época completa do Mundial de ralis, com 13 provas!

O conhecimento do país permitiu à Amaury Sport Organisation (ASO) aumentar o desafio para os concorrentes de automóveis, SSV, motos e camiões As dificuldades começam logo no início, com uma etapa de 48 horas sem assistência, seguindo-se a etapa maratona. Vão ser dias violentos, que podem ser determinantes para encontrar o vencedor da prova. Depois do merecido dia de descanso, a segunda semana vai ser igualmente intensa com a passagem pelo tenebroso Empty Quarter e com as últimas três etapas disputadas exclusivamente em dunas, antes de chegarem ao pódio final em Shubaytah.

A novidade principal são os percursos separados para automóveis e motos em cinco etapas. Esta decisão aumenta a segurança dos pilotos das motos, pois correm alguns riscos quando são ultrapassados pelos automóveis, e, por outro lado, obriga os copilotos a uma navegação mais apurada, já que deixam de ter a referência da passagem das motos. “Não será um Dakar de sprint, mas sim de endurance, isso satisfaz-me muito”, explicou David Castera, responsável da ASO, que sublinhou: “É o Dakar da maturidade na Arábia. Sem dúvida, é o melhor dos seis que fizemos aqui”. A ideia dos organizadores foi ter um percurso que mantivesse o interesse competitivo até final.

A prova principal conta com 339 veículos, sendo 63 automóveis, 136 motos, 45 camiões, 54 challenger, 39 SSV e 2 stock. À margem da corrida principal, vai disputar-se o Dakar Classic, com 76 carros e 19 camiões históricos, e o desafio Mission 1000, com cinco veículos que vão testar tecnologias inovadoras. No total, vão estar no terreno 807 participantes, incluindo 43 mulheres, de 70 nacionalidades.

Para ganhar Na categoria rainha Ultimate, a Toyota tem alguma vantagem face aos rivais, uma vez que o seu carro está mais testado. A marca japonesa alinha com seis pilotos, num misto experiência e juventude. Lucas Moraes e Seth Quintero defendem as cores da equipa oficial Toyota Gazoo Racing. A formação da África do Sul inclui Giniel de Villiers, Henk Lategan, Guy Botterill e Saood Variawa. A marca japonesa vai competir com a mais recente evolução do Hilux Evo, com chassis tubular, carroçaria em material compósito, motor V6 biturbo de 3,5 litros com 360 cv e caixa de velocidades sequencial de seis velocidades. Os Toyota vão utilizar gasolina 70% renovável da Repsol, que obrigou a modificações nos motores para garantir melhores performances, e se vencer será o primeiro construtor a fazê-lo com este combustível. “O Dakar é o maior teste para pilotos e máquinas. O percurso deste ano é dos mais difíceis de sempre. Desde as dunas do Empty Quarter até às desafiantes seções rochosas, cada dia será uma batalha”, afirmou Lucas Moraes, que adiantou que “com os melhoramentos feitos, estou confiante de que temos a máquina perfeita para o Dakar”.

A grande rival da Toyota é a Dacia, que se estreia nesta maratona com uma equipa de luxo, composta por Nasser Al Attiyah, pentavencedor do Dakar, Sebastien Loeb, nove vezes campeão do mundo de ralis, e Cristina Gutiérrez, que vão alinhar com o protótipo Sundrider, desenvolvido em parceria com a experiente Prodrive. O carro tem chassis tubular em fibra de carbono, motor V6 3.0 biturbo com 360 cv, que utiliza combustível sintético, e caixa sequencial de seis velocidades. A Dacia passou o ano a testar nas dunas de África e na primeira prova a sério, o Rali de Marrocos, Al Attiyah venceu sem dificuldade e mostrou que o Dacia tem andamento para ganhar o Dakar, resta saber se tem fiabilidade para tal. A dureza da prova é algo que preocupa o experiente Sebastien Loeb: “A primeira semana será repleta de dificuldades, especialmente a etapa de 48 horas, com mais de 900 quilómetros. Não vejo como será possível completar essa distância sem haver uma zona para troca de pneus porque há vários setores pedregosos. Basta olhar para o número de furos em etapas semelhantes em anos anteriores”, lembrou.

A Ford alinha com quatro pick up Raptor T1+, desenvolvidas pela M Sport, para Carlos Sainz, Nani Roma, Mattias Ekström e Mitch Guthrie. Está equipada com motor V8 5.0 atmosférico com 360 cv, associado a uma caixa sequencial de seis velocidades “é um Fórmula 1 do todo-o-terreno” afirmou Sainz, que venceu a prova por quatro vezes, sempre com carros diferentes. A marca fez mais de 10.000 quilómetros de testes em Marrocos e está bem preparada para o próximo desafio. “Será o Dakar mais competitivo dos últimos anos, com Ford, Mini, Dacia e Toyota a lutarem pela vitória. É um projeto ganhador, embora no primeiro ano seja sempre difícil. A equipa está determinada a fazer história e acabar com as estatísticas», afirmou Sainz, que, aos 62 anos, vai disputar o seu 18.º Dakar e tentar repetir a vitória do ano passado.

Na edição deste ano, a FIA vai controlar as performances dos carros da categoria Ultimate com o Torque Meter (medidor de binário do motor). O controlo da potência (limitada a 360 cv) era feito pela monitorização da pressão do turbo ou dos restritores. Agora, será feito pelo Torque Meter, que se encontra na saída da caixa de velocidades, e que tem por objetivo igualar o desempenho dos carros com motor turbo e atmosférico. Se numa etapa um carro ultrapassar o binário máximo estabelecido (Overtorque) tem uma penalização em tempo que pode ir dos 10 segundos aos 10 minutos, dependendo do número de vezes que a infração seja cometida ao longo da etapa.

Destaque para a presença de 13 pilotos portugueses em automóveis e camiões e quatro em moto. O campeão mundial de Bajas, João Ferreira, vai participar com o Mini JCW Rally T1+ da X-raid com o objetivo de lugar pelos primeiros lugares com um carro com motor 3.0 turbo a gasolina. “Estou muito feliz por disputar o terceiro Dakar consecutivo. É a primeira vez com um carro da categoria Ultimate e vou lutar com alguns dos melhores pilotos de sempre”, frisou. A equipa alemã vai ter outra equipa portuguesa com Maria Luís Gameiro a conduzir o X-raid Fenic.