Novos métodos para a atuação da PSP

A Polícia deve ter uma abordagem humanista e inclusiva para com os supostos criminosos. Em vez de os encostar à parede, deveria convidá-los para tomar chá na esquadra.

A recente rusga da PSP em Lisboa, na qual os agentes encostaram à parede dezenas de transeuntes, produziu um upgrade na qualidade da Democracia portuguesa. Ou seja, melhorou a identificação de fascistas. O nosso regime democrático só sobrevive graças a uma deteção permanente de indivíduos que, embora pareçam normais, quando chegam a casa vestem camisas negras e fazem saudações de braço esticado ao espelho.
Felizmente, o Big Brother democrático está de olho neles.
Antes do 25 de Abril havia dez milhões de fascistas; no dia 26 de Abril passou a haver dez milhões de antifascistas; depois da criação dos partidos de Direita todos os seus apoiantes passaram de novo a ser fascistas, quando a AD venceu as eleições os fascistas perderam a vergonha e celebraram a vitória nas ruas; quando Passos Coelho venceu as eleições tivemos o governo mais fascista de sempre; o aumento de deputados do Chega mostrou que há cada vez mais fascistas; e a atual Governo está prestes a criar um novo Estado Novo.
A rusga da PSP trouxe um novo método para a identificação de fascistas: são aquelas pessoas que já foram assaltadas e agredidas, que não gostam de ser assediadas por traficantes de droga e não apreciam ver seringas espalhadas no chão. Em suma, são cidadãos que se sentem inseguros na via pública e reclamam a proteção das forças da ordem. Além disso, também se preocupam com a vida dos polícias.
Já os antifascistas, embora tão pouco lhes agrade terem navalhas apontadas ao pescoço e serem roubados, propõem métodos diferentes de lidar com a criminalidade inspirados em países antifascistas como Cuba e a Coreia do Norte. Afinal, eles sabem mais do que a própria Polícia. Quanto à vida dos agentes, há coisas mais importantes, não há?
A Polícia deve ter uma abordagem humanista e inclusiva para com os supostos criminosos. Em vez de os encostar à parede, deveria convidá-los para tomar chá na esquadra. No caso de Lisboa, depois de lhes oferecer também umas fatias de Bolo-Rei, far-lhes-ia algumas perguntas.
Primeiro, quer ser tratado por homem, mulher, ou numa linguagem neutra?
Depois, costuma fazer tráfico de droga? Costuma assaltar pessoas? Em caso afirmativo, recorre à violência ou só faz ameaças? Já matou alguém?
Seguindo este método policial antifascista, a PSP poderia facilmente identificar traficantes, ladrões e assassinos sem incomodar ninguém. Depois, aqueles que tivessem confessados os seus crimes assinariam uma declaração onde se comprometeriam a tornarem-se cidadãos exemplares. É assim que funciona em Cuba e na Coreia do Norte onde, como é sabido, o crime foi erradicado.
No entanto, este procedimento antifascista comporta riscos. Além de um dos métodos mais eficazes de identificação de fascistas se tornar obsoleto, os comentadores antifascistas ficariam igualmente privados dos seus rituais de indignação televisiva.
Como tal, convém não exagerar na erradicação do Fascismo. Porque sem fascistas não haveria antifascistas e, sem estes, não haveria Democracia, Liberdade e algum pagode. Assim sendo, o melhor é a PSP encostar alguém à parede de vez em quando.

Escritor