Uma das promessas eleitorais de André Villas-Boas foi realizar uma auditoria forense às contas da gestão do anterior presidente do FC Porto, Pinto da Costa. Passados sete meses, o estudo dessa auditoria foi tornado público no timing indicado e os resultados são chocantes. No total, o clube foi prejudicado em 59,1 milhões de euros nas últimas dez épocas, os números são assustadores, sobretudo para um clube que estava debaixo do fairplay financeiro da UEFA.
Gestão danosa
O presidente do FC Porto teve a coragem avançar com esta auditoria, que desvenda uma gestão danosa e vergonhosa que o clube não merecia e o futebol português também não. Houve muita gente a prevaricar nestes anos de bagunça financeira no clube e Villas-Boas já afirmou que «serei implacável com toda e qualquer pessoa que tenha lesado o FC Porto, ninguém é mais importante do que o clube», pelo que esta triste história não ficará pela divulgação da auditoria. Este documento é também um choque com a realidade para os adeptos do FC Porto, que verdadeiramente gostam e vivem o clube com genuína paixão. Vamos às contas. Segundo essa auditoria, o clube perdeu 50 milhões de euros em comissões, uma vez que pagava aos empresários comissões acima dos valores referenciais da FIFA ou dos padrões de mercado associadas a transferências de futebolistas na última década. Da análise feita pela Deloitte às 879 transações feitas pelo FC Porto, entre 2014/15 e 2023/24, o clube pagou um montante total de 158 milhões de euros em comissões, sendo que 46% têm a ver saídas, 37% com entradas no plantel, 16% referentes a renovações (16%) e uma ínfima parte relacionada com empréstimos e das rescisões. Até aqui tudo normal, a situação muda de figura quando se percebe que 27% das saídas e 61% das contratações foram realizadas com valores de comissões acima daquilo que era a referência de mercado, prejudicando o clube em 38,4 milhões de euros. Seguindo a mesma gestão ruinosa, 95% das renovações foram feitas com valores 3% acima do salário bruto, fazendo sair dos cofres do clube mais 11,5 milhões de euros. De referir também que dos 55 jogadores transacionados pelo FC Porto, 51 não dispunham de documentação de suporte, como relatórios de scouting ou justificações para contratação. Em contrapartida, dos 122 relatórios de scouting apresentados à SAD do FC Porto apenas um jogador foi adquirido.
As despesas de representação foi também um fartar vilanagem que ultrapassou em 3.6 milhões de euros o que estava no regulamento interno da SAD portista. Um administrador do clube gastou 4.999 euros para pagar cinco refeições, o que não é de todo aceitável, e que faz parte dos 700 mil euros em refeições profissionais sem justificação objetiva. Há ainda o registo de compras no valor de 70 mil euros em joalharias e relojoarias, que foram consideradas despesas de representação. Esse tipo de despesas implicou para a SAD custos fiscais no valor de 400 mil euros. No documento da Deloitte há ainda referência para 1,1 milhões de euros gastos em viaturas para usufruto de familiares. Foram ainda identificadas 5.120 despesas sem qualquer registo na plataforma de gestão interna, ou seja, “voaram” do clube 512 mil euros.
No reino do “Macaco”
Figura indiscutível durante a presidência de Pinto da Costa, Fernando Madureira, também conhecido por “Macaco”, liderava a claque portista e é um dos visados na auditoria. O clube perdeu 5,1 milhões em bilhética a favor dos Super Dragões, que ficaram com o dinheiro da venda dos bilhetes, e às casas do clube ao longo de cinco épocas. Os Super Dragões acumularam uma dívida de dois milhões de euros por ingressos não restituídos ao FC Porto. A claque tinha descontos não autorizados no valor dos bilhetes vendidos para os jogos no Estádio do Dragão o que fez o clube perder 850 mil euros, a que se junta a oferta indevida de ingressos com um prejuízo de 340 mil euros. Além disso, cerca de 1,45 milhões de euros foram utilizados de forma indevida para pagar viagens a membros e familiares da direção da claque para a destinos onde não havia jogos do clube, nomeadamente Cuba, Cancun, Maldivas ou Tanzânia. Posto isto, percebem-se as ameaças e agressões a quem não respeitava a ordem instituída pela “guarda pretoriana” de Pinto da Costa.
André Villas-Boas considerou que a conclusão desta auditoria marca o início de uma nova era para o FC Porto. «As evidências encontradas não só revelam desafios do passado, mas também permitem virar a página e construir um futuro mais sustentável e ético. Estamos a implementar mudanças estruturais para garantir que estas práticas não se repitam e que o FC Porto continue a honrar a sua história», afirmou o presidente do FC Porto.