Os meses de vida intrauterina e os primeiros anos de vida de uma criança são fundamentais para o seu desenvolvimento, bem como para a sua saúde ao longo da vida adulta. Um dos factores com maior impacto para a saúde nesta fase da vida é, sem dúvida, a alimentação. Se é verdade que uma alimentação rica, variada e equilibrada é essencial para uma vida saudável, mais essencial se torna durante o desenvolvimento infantil.
A Direcção-Geral da Saúde recomenda que o açúcar e o sal não sejam introduzidos na alimentação das crianças antes destas completarem o primeiro ano de vida. Por sua vez, a Organização Mundial da Saúde vai mais longe, recomendando que esses ingredientes não sejam incluídos na dieta de qualquer criança até que complete os dois anos de idade.
No final de Dezembro, um estudo do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge revelou que a maioria dos produtos alimentares destinados a crianças em Portugal não cumprem os critérios de um perfil nutricional saudável. Estes produtos também não atendem aos requisitos definidos pela Estratégia Integrada para a Promoção da Alimentação Saudável, devido ao elevado teor de açúcar e sal na sua composição.
Entre os 247 alimentos abrangidos pelo estudo, 89% não respeitam os valores-limite estipulados pela Direção-Geral da Saúde. Os produtos identificados como inadequados incluem iogurtes aromatizados, papas de farinha láctea, bolachas simples e cereais de pequeno-almoço. Estes alimentos estão comumente disponíveis e, frequentemente, fazem parte da alimentação diária nas creches portuguesas.
Portugal é um dos países onde as crianças até aos três anos de idade passam mais tempo na creche e onde realizam pelo menos metade das suas refeições diárias. Neste cenário, as creches têm um papel acrescido na promoção hábitos alimentares saudáveis.
As escolhas alimentares têm um papel determinante na saúde e no bem-estar das pessoas. No caso dos bebés e crianças, em particular, opções saudáveis e nutritivas são fundamentais para um desenvolvimento equilibrado nos primeiros anos de vida e para o fortalecimento do seu sistema imunológico, capaz de prevenir doenças crónicas ao longo da vida. Além disso, é nesta fase precoce que são introduzidos e consolidados muitos dos hábitos alimentares, bem como o paladar e as suas preferências futuras.
Um indicador preocupante em Portugal é o aumento da obesidade infantil. Atualmente, cerca de um terço das crianças com idades compreendidas entre os cinco e os nove anos apresenta excesso de peso. Destas, 13% sofre de obesidade. O consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, ricos em ácidos gordos saturados, açúcar e sal contribuem significativamente para “engordar” estes números. É fundamental combater este problema a montante de modo a mitigar as complicações futuras que daqui poderão advir na vida adulta. Para isso, é crucial que os berçários e creches adoptem ementas atualizadas, nutricionalmente equilibradas e diversificadas, desenvolvidas com o apoio de nutricionistas, à semelhança do que acontece no ensino pré-escolar.