Entrando dentro de mim…

Não temos momentos em que parece que a nossa cabeça não para, que os pensamentos não param, que a ansiedade nos domina?

Os que lerem esta coluna perceberão que a escrevi com alguma antecedência. Decidi faze-lo, antes de me retirar, por um mês, em silêncio no Mosteiro de Monte Oliveto, Siena, Itália. Não gostaria de ver em branco este espaço, deixando milhares de expectantes leitores das minhas crónicas.
Alguns perguntar-se-ão: por que razão alguém decide estar em silêncio e oração durante um mês? São muitos os que perguntam: porque o fazes? Para fazer um sacrifício? Para expiar os pecados? Para tomares decisões difíceis na tua vida?
A minha resposta é simples: Não! Apenas para novamente entrar dentro de mim e, como diria Santo Agostinho, encontrar-me mais constantemente com Aquele que há tanto já me habita – Deus.
Um amigo meu, que me conhece, quase melhor do que eu mesmo, disse-me: ‘Pede aos monges de Monte Oliveto que te ponham a trabalhar com eles. Tu sabes como é que és: os teus pensamentos começam a tomar conta de ti e depois começas a ‘parvar’’.
E é verdade!
Eu sofro com os meus pensamentos que me levam, às vezes, à exaustão. Mas não somos todos assim um pouco? Não temos momentos em que parece que a nossa cabeça não para, que os pensamentos não param, que a ansiedade nos domina?
Eu pensei: ele tem razão! No entanto, respondi-lhe: ‘Sabes, eu não vou para o mosteiro para pensar, mas para rezar’.
Na realidade, este é um dos nossos problemas! Como não sabemos rezar, começamos a pensar. Naturalmente, como começamos a pensar, somos dominados pelos pensamentos. Uma vez dominados pelos pensamentos, não há como parar a ansiedade.
E a oração não é pensamento. Eu não prescindo do pensamento, mas o pensamento precisa de ser domado para poder levar todas as dimensões da minha existência ao crivo da razão. Não que tudo seja razão, mas, uma vez crivado pela razão, o pensamento é depurado das loucuras e imaginações selvagens. Surge, então, uma relação amorosa dentro de mim, que faz uso do pensamento para lá do próprio pensamento.
Santa Teresa d’Ávila refere que ‘a imaginação é a louca da casa’!
Se não me custa entrar dentro de mim? Sim! Custa! Mas é um exercício necessário, para que não seja dominado pela minha ansiedade, porque eu sei que sou uma pessoa que se enerva com os nervos. Eu preciso não esquecer que tenho dentro de mim um mundo maior do que todo o universo.
Então, se a oração não é um pensamento, o que é?
Quando li o livro sobre a oração de Santo Afonso Maria de Ligório e escutei as catequeses sobre a oração, fez-se, dentro de mim uma luz. A oração é, fundamentalmente uma petição, porque Jesus diz: «Pedi e recebereis, procurai e encontrareis, batei à porta e abrir-se-vos-á. Porque todo aquele que pede, recebe, quem procura encontra e quem bate à porta abrir-se-lhe-á».
A oração é isto mesmo… uma petição constante da alma que clama a Deus noite e dia! Uma petição… um pedir, um procurar, um bater à porta!
Pedir o quê? Procurar o quê? Bater à porta de quem?
Nessa mesma passagem do evangelho de Mateus, diz Jesus: «Se vós que sois maus sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai que está no céu dará o Espírito Santo àqueles que Lho pedem».
Aqui está o que faço, em silêncio, recolhido, no recôndito do meu santuário interior, durante um mês… peço o Espírito Santo, noite e dia, sem cessar, para mim, para a Igreja e para o mundo! Depois, voltarei! E espero trazer comigo o Espírito Santo para mim, para a Igreja e para o mundo.