Não podes ser de direita

Há uma evidência que tem de ser assumida, a direita circunscrita pelo sistema vigente não é a direita, mas um produto de contrafação. 

«Sou reacionário. Reajo contra o que não presta»
Nelson Rodrigues

Conceitos como esquerda e direita pareciam estar ultrapassados, mas regressaram ao debate contemporâneo e conhecem uma renovada acutilância com a polarização crescente na sociedade ocidental. Mas esse regresso está contaminado por falsidade, por exemplo, em países como Portugal, sempre que a doutrina oficial, política, mediática e académica usam o conceito de direita estão a proceder a uma deturpação grosseira intencional.

Estudar o conceito no Ocidente nos últimos 80 anos terá de partir de um facto óbvio que não é assumido. A história vigente sobre a direita é na maioria das vezes a história da sua demonização feita pelos que ideologicamente são de esquerda e liberais socialistas. Estes defendem, sim, um sistema sem alternativa, uma democracia de partido único que produz simulações de divergências controladas. É falso que só a doutrina liberal e o seu sócio, a nova esquerda, defendam a democracia e a liberdade.

Para essa falsa narrativa oficial há duas direitas, a boa e democrática que socialistas e liberais permitem (ou que a produzem) e a outra, que é adversária dessas ideologias e, portanto, rotulada de extrema-direita. A direita democrática não hiperliberal ou socialista surge assim demonizada como variante fascista e extremista e desse modo deve ser pensada como não aceitável nas alegadas democracias liberais. A diabolização da direita é repetida até à exaustão para formatar e desencadear processos pavlovianos cada vez que se ouve essa palavra.

Há uma evidência que tem de ser assumida, a direita circunscrita pelo sistema vigente não é a direita, mas um produto de contrafação. Essa farsa é bem visível nas figuras dos média que dizem representá-la, mas afinal não passam de socialistas e bloquistas envergonhados. Essa falsificação da direita é aquilo que Agustín Lage no seu livro La Batalla Cultural. Reflexiones Críticas para una Nueva Direita, referia como o lamentável centro-direita demoliberal tecnocrático e globalista. Esta agremiação assenta principalmente num centro sempre desesperado para ser admitido na família das esquerdas progressistas.

Não estamos a especular, mas sim no domínio da prova, por exemplo, o PSD é considerado de direita pela esquerda, a direita autorizada, e por isso sempre temente das acusações esquerdistas que se está a desviar do estabelecido. Mas será? Pedro Passos Coelho (Eco, dezembro de 2016) e Rui Rio (SIC, maio, 2021) reiteravam não considerar que o PSD fosse de direita, outro antigo líder do PSD, Francisco Balsemão, afirmava no 49.º aniversário do partido: «Queremos ser nós próprios. Um partido social-democrata de centro-esquerda, como sempre disse e defendeu (…) Francisco Sá Carneiro». Esse mesmo nome, figura mítica do PSD, escrevia a 6 de novembro de 1975 no Povo Livre: «Por outro lado, vai se nos fazendo justiça no reconhecer que somos um partido de esquerda empenhados na construção do socialismo democrático que Portugal merece e quer». O partido liberal também está sempre a afirmar que não é de direita, mas esse não precisa, já o sabemos.

Mas porque não se pode ser de direita?

Já algum país esquerdista funcionou ou teve êxito? E as receitas do novo liberalismo que impacto estão a ter no planeta e na vida das pessoas?