Quantas vezes já ouvimos dizer a uma criança que teve um comportamento mais infantil que parece um bebé? Quantas vezes já ouvimos perguntar se precisa de uma fralda ou de uma chucha? Ou, pior ainda, que o irmão mais novo é tão crescido, enquanto ela… é tão bebé!
Se nós sabemos bem a diferença entre uma criança e um bebé, para os mais pequenos essa separação pode ser nebulosa e possivelmente carregada de algumas inseguranças e incertezas. A maioria dos miúdos quer livrar-se do estigma da ‘bebezice’ e estar a anos-luz desses seres tão passivos que, ao contrário deles, ainda não são capazes de fazer quase nada.
Na dúvida, é melhor deixarem a diferença bem clara e frequentemente esticam-se o mais que conseguem quando estão ao lado de alguém mais pequeno para que a diferença não deixe dúvidas. Qualquer criança que vá no caminho certo do crescimento, independência e autonomia não quer mesmo ser confundida ou comparada àqueles seres minúsculos que muitas vezes ainda nem sequer sabem andar, correr, falar ou jogar à bola.
Quando alguém diz à criança – que faz constantemente um enorme esforço para se afirmar e para mostrar que já é crescida – que é um bebé, sabe bem que esse não é um elogio. Mas na verdade não é uma crítica qualquer. É como pôr o dedo na ferida, naquele pequeno bichinho de incerteza e insegurança que ainda a faz sentir-se muito pequena em relação à maior parte das pessoas que a rodeiam, por mais que se estique. É como tirar-lhe alguns centímetros de altura. Ou seja, essa observação pode ser mesmo um pequeno atentado ao seu orgulho. Chamar-lhe bebé é fazê-la duvidar das suas capacidades, da progressão que todos os dias se esforça por fazer, é pôr em causa o caminho que está a ser feito com tanto empenho.
Se pensarmos, é natural que uma criança às vezes tenha atitudes mais infantis. Como nós seríamos com três, quatro ou cinco anos? Ou mesmo sete ou oito? Naturalmente ainda muito pequeninos e na idade mais do que certa para muitos comportamentos e atitudes mais imaturas. O crescimento não é linear e, por vezes, mesmo uma criança com maior maturidade pode ter comportamentos mais infantis.
Se num dia em que estamos com pressa e o nosso filho se recusa a andar ou a calçar os sapatos sozinho lhe chamamos bebé na tentativa de o apressar, o mais provável é chegarmos mesmo atrasados. Porque possivelmente isso só o vai deixar triste, zangado ou magoado. E, diga-se, não é nada justo. Com aquela idade já faz uma série de coisas dignas de diploma e tem-se esforçado imenso para sair da esfera dos bebés.
Se, por exemplo, queremos que a criança calce os sapatos mais rapidamente, o melhor será encorajá-la: ‘Deixa ver em quantos segundos já consegues calçar os sapatos’. Desafios como este vão fazer a criança sentir-se vaidosa e tentar mostrar a sua melhor performance.
Por outro lado, se a criança se encontra numa fase de maior insegurança e precisa de mais atenção e mimo, só temos de tentar perceber o que se passa e dar o conforto e o carinho de que precisa.
Nem todas as fases são ascendentes ou lineares, às vezes tem de se voltar para trás para se conseguir retomar o caminho com segurança. E nós só temos de os acompanhar e apoiar nesta longa e desafiadora caminhada.