As paisagens portuguesas que inspiraram Winston Churchill

Winston Churchill passou 12 dias de férias na Madeira, em janeiro de 1950, e deixou marcas profundas no turismo da região. As fotografias que o mostram a pintar a baía e o ilhéu tornaram-se uma imagem de marca e o miradouro onde montou o cavalete de pintura tem o seu nome. Além disso, aproveitou essa…

Winston Churchill passou 12 dias de férias na Madeira, em janeiro de 1950, e deixou marcas profundas no turismo da região. As fotografias que o mostram a pintar a baía e o ilhéu tornaram-se uma imagem de marca e o miradouro onde montou o cavalete de pintura tem o seu nome. Além disso, aproveitou essa ocasião para provar os famosos vinhos Madeira e há casas que ficaram com uma marca da sua passagem.

Já fui cumprimentado por muitas pessoas neste mundo por quem fiz alguma coisa. Mas nunca, em toda a minha vida, fui tão entusiasticamente recebido por pessoas por quem nunca fiz nada», afirmou Winston Churchill depois de abandonar a Madeira, em 1950.
Tal como sabemos, o homem que foi primeiro-ministro do Reino Unido (entre 1940-1945 e entre 1951-1955) foi também jornalista, oficial do Exército Britânico, historiador e escritor, tendo recebido o Prémio Nobel de literatura em 1953, com as suas memórias da Segunda Guerra Mundial. Mas além disso, tinha uma outra paixão: pintar. E, a ilha da Madeira, serviu de grande inspiração para algumas das suas pinturas.
Este chegou ao cais do Funchal no dia 1 de janeiro de 1950, acompanhado pela sua esposa, Lady Clementine Hozier Spencer Churchill (1885-1977), pelo coronel William Deakin (seu assistente literário) e por dois secretários, hospedando-se no Reid’s Palace Hotel (atual Belmond Reid’s Palace) para umas férias, segundo o site Cultura da Madeira. O mesmo hotel endereçou o convite no verão de 1949, para assinalar a reabertura após a 2.ª Guerra Mundial. E Churchill aceitou. Com uma condição… Passar despercebido. Segundo o Best Guide Madeira, conseguiu, por exemplo, que não houvesse qualquer receção oficial, nenhuma cerimónia que o aborrecesse ou desse protagonismo às autoridades locais. A presença de Winston Churchill na Madeira foi, contudo, bastante divulgada na imprensa local.

Pintura e Vinho
Durante os tempos de lazer, dedicou-se à pintura, sendo sobejamente conhecidas as imagens captadas no miradouro do Espírito Santo (hoje miradouro de Winston Churchill, localizado à entrada da cidade de Câmara de Lobos), onde se vislumbra o pintor amador a representar a baía e o ilhéu. A presença do «homem que ganhou a guerra» passou a ser uma história contada aos visitantes. Além disso, Churchill era um grande apreciador de vinhos. Há relatos de que começava a beber ao pequeno almoço: um vinho branco alemão leve. «Tirei mais proveito do álcool do que o álcool tirou de mim», dizia. E claro que na sua passagem pela ilha, o primeiro-ministro britânico foi presenteado com os melhores vinhos.
A H.M.Borges foi fundada em 1877 por Henrique Menezes Borges, que dedicou toda a sua vida à procura de uma seleção de vinhos produzidos na Ilha da Madeira, com o intuito de proceder ao seu envelhecimento. Num dos cantos da sala em madeira – onde tanto a mesa como as cadeiras lembram barris – existe uma secretária com alguns artigos de jornais abertos sobre o negócio da família. Na parede, alguns documentos emoldurados. De acordo com Melissa Castro, Sales And Marketing Specialist do espaço, quando a LUZ visitou a ilha no final do ano passado, esse é o espólio da casa. «Temos aqui uma carta de Winston Churchill que visitou a Madeira em 1950, por exemplo. Durante a sua estadia foram-lhe oferecidos alguns vinhos e esta é uma carta de agradecimento», partilhou.

Estratégias de guerra
Com os Açores, a relação foi diferente. De acordo com o especialista em relações internacionais Luís Andrade, o Presidente dos EUA, Franklin Roosevelt e Churchill tinham um plano para invadir o arquipélago se Salazar não concedesse facilidades militares aos Aliados com a ameaça nazi. À Lusa, o mesmo já havia explicado que Salazar «protelou sistematicamente» a concessão de facilidades aos britânicos nos Açores porque pensava ser «relativamente cedo para que isso acontecesse, receando uma retaliação por parte da Alemanha nazi». Com a invasão aliada de África em 1942, o também professor catedrático explicou que «começou-se a desenhar, embora de forma ténue, que os Aliados pudessem ganhar a guerra», tendo, apesar de tudo, Salazar esperado até agosto de 1943 para a assinatura de um acordo formal com a Inglaterra que permitia às forças britânicas instalarem-se na ilha Terceira. «Quer o Presidente Roosevelt como o primeiro-ministro Churchill se, de facto, nesta altura, Salazar não tivesse acedido ao pedido britânico, já tinham planeada uma invasão dos Açores por parte dos Aliados», acrescentou.