Reflexão sobre a “Libertação de Auschwitz”

A inação e o silêncio da sociedade da época permitiram que a máquina de extermínio nazista prosperasse. Este é um alerta para todos nós: a indiferença é o terreno fértil para a injustiça.

O mundo assinalou ontem o 80.º aniversário da libertação de Auschwitz, o mais infame campo de concentração e extermínio nazi. Este dia é também reconhecido como o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, uma data para recordar os milhões de judeus e outras minorias que pereceram às mãos do regime nazi

Tudo aconteceu no dia 27 de janeiro de 1945, quando o mundo testemunhou a libertação de Auschwitz, o maior campo de concentração e extermínio nazista, pelas forças do Exército Vermelho soviético. Este evento histórico, que revelou ao mundo as atrocidades do Holocausto, permanece como um marco incontornável da memória coletiva da humanidade. Mais do que uma data histórica, a libertação de Auschwitz convida-nos a refletir sobre os horrores do passado, a fragilidade da dignidade humana e a necessidade imperiosa de lutar contra a intolerância e o ódio.

Auschwitz tornou-se o símbolo do sofrimento infligido por um regime que procurou desumanizar milhões de pessoas. Homens, mulheres e crianças, em grande parte judeus, mas também ciganos, prisioneiros políticos, homossexuais e outros grupos perseguidos, foram arrancados das suas vidas e sujeitos a condições inimagináveis de trabalho forçado, fome, tortura e morte sistemática. Entre 1940 e 1945, estima-se que mais de 1,1 milhões de pessoas perderam a vida em Auschwitz. Cada número representa uma história, uma vida interrompida, uma perda irreparável.

Quando os portões de Auschwitz foram abertos, o mundo viu pela primeira vez as provas concretas do genocídio que até então muitos consideravam impossível de conceber. As pilhas de sapatos, roupas, óculos e cabelos das vítimas eram testemunhos silenciosos de uma crueldade sem precedentes. A libertação, no entanto, não apagou o sofrimento dos sobreviventes. Eles carregaram – e muitos ainda carregam – as marcas físicas e emocionais desse período traumático. As suas histórias, contadas através dos tempos, são lembretes vivos de que a memória é uma ferramenta poderosa contra a repetição do passado.

Hoje, ao lembrarmos a libertação de Auschwitz, somos desafiados a confrontar o papel do silêncio, da indiferença e da cumplicidade na perpetuação de tais horrores. O Holocausto não aconteceu de forma isolada, mas sim num contexto de propaganda, discriminação institucionalizada e aceitação gradual de ideologias de ódio. A inação e o silêncio da sociedade da época permitiram que a máquina de extermínio nazista prosperasse. Este é um alerta para todos nós: a indiferença é o terreno fértil para a injustiça.

A reflexão sobre Auschwitz é também um apelo à educação e à memória. Ensinar as novas gerações sobre os horrores do Holocausto não é apenas uma responsabilidade histórica, mas uma necessidade moral. Num mundo onde discursos de ódio, xenofobia e negação histórica ainda persistem, a lembrança de Auschwitz serve como um farol de advertência. Não podemos permitir que o esquecimento dilua as lições do passado.

A libertação de Auschwitz é, acima de tudo, um lembrete de que a humanidade tem uma escolha: o caminho do ódio, da discriminação e da violência, ou o caminho da empatia, da justiça e da solidariedade. Cada um de nós tem um papel na construção de uma sociedade onde atrocidades como o Holocausto nunca mais se repitam. Ao recordarmos os que perderam as suas vidas e os que sobreviveram a Auschwitz, reafirmamos o nosso compromisso com a dignidade humana e com a luta contra todas as formas de opressão.

A memória de Auschwitz não deve ser apenas um tributo ao passado, mas um guia para o presente e um apelo à ação para o futuro.

Docente da UP do Instituto Universitário Militar