Solidariedade e segurança são as duas faces da mesma moeda

A minha mensagem aos líderes que se reuniram em Munique é clara: a segurança sanitária global nunca será uma soma de resultado zero. A solidariedade e a segurança são as duas faces da mesma moeda.

Os líderes globais e decisores políticos que se reuniram esta semana em Munique para a Conferência de Segurança fizeram-no num contexto geopolítico que parece mudar de dia para dia, se não mesmo de hora para hora.


Muita da minha energia por estes dias é canalizada para o campo da saúde, e, com o nosso sistema multilateral a enfrentar um momento decisivo, acho que é altura de aceitarmos um facto fundamental: mais do que nunca temos de apoiar modelos de colaboração efetiva com provas dadas se queremos manter e capitalizar os ganhos conquistados nas últimas décadas.
Vivemos tempos desafiantes. No ano passado vimos surgir outra emergência sanitária global sob a forma da mpox, ou varíola dos macacos. Além disso, as alterações climáticas continuam a manifestar-se através de um aumento da incidência de doenças infecciosas que podiam ser evitadas através de vacinas, como a cólera.


Nunca foi tão claro que as abordagens tradicionais não são sustentáveis – a segurança depende tanto da prevenção e da resiliência como da nossa capacidade para responder às mais recentes contingências.
Os tempos de mudança são sempre uma oportunidade para reavaliar as ortodoxias, adotar novas abordagens, forjar novas parcerias e fortalecer amizades já estabelecidas.


Mas, em relação à segurança sanitária em particular, temos de estar preparados para reafirmar o argumento de que a nossa saúde e prosperidade coletivas só poderão ser asseguradas através da solidariedade e da união. É um cliché que as doenças não conhecem fronteiras, mas nem por isso deixa de ser verdade.


Vigor na solidariedade, parceria e cooperação
A história mostrou-nos por mais de uma vez que uma visão estreita dos interesses nacionais leva à fragmentação, acrimónia e insegurança. E também sabemos pela história recente que a saúde, a prosperidade e a segurança estão intrinsecamente ligadas.


As doenças infecciosas põem à prova as nossas defesas coletivas dia após dia. Vão explorar qualquer vulnerabilidade que encontrem, e acabarão por agravá-la. O fardo imediato é sempre sentido de forma mais aguda pelas populações mais pobres e marginalizadas, mas os custos das falhas na prevenção, preparação e resposta a emergências sanitárias acabarão por ser suportados por todos nós.


Continuamos a viver com as consequências, muitas vezes imprevisíveis, da pandemia de covid-19, mas há novas ameaças pandémicas no horizonte, da gripe das aves ao vírus de Marburgo.


Hoje ouvimos muitas vezes a máxima ‘paz através da força’. Temos de lembrar que também existe força real e duradoura na solidariedade, união e cooperação.


A Gavi, a aliança de vacinas a que presido, ajudou a vacinar mais de mil milhões de crianças nos 25 anos que decorreram desde que foi lançada, ajudando a reduzir para metade a mortalidade infantil em países de baixos rendimentos. É um modelo de colaboração que se tem adaptado e perdurado, tornando-se cada vez mais forte nos seus 25 anos de história.
A Gavi não se limita a administrar vacinas: enquanto parceria público-privada, ajuda países de rendimentos mais baixos a tornarem-se autossuficientes ao longo do tempo, custeando uma maior fatia dos seus programas de imunização à medida que se vão tornando mais ricos. Este é um círculo virtuoso que ajuda a construir sociedades mais fortes, economias mais fortes e um mundo mais saudável.


A saúde nunca será uma soma-zero
No quarto de século desde que a Gavi foi lançada, muitos dos países originalmente elegíveis para o apoio da Gavi tornaram-se capazes de financiar integralmente os seus programas de vacinação graças ao florescimento das suas economias. Alguns tornaram-se até mecenas da atual campanha de reposição da Gavi, contribuindo para a saúde, prosperidade e segurança das futuras gerações para lá das respetivas fronteiras.
Estarão a contribuir para uma organização que nos próximos cinco anos vai não apenas expandir os programas de vacinação para prevenir na origem doenças propensas a surtos, como também fazer o seu maior investimento até à data em stocks de vacinas contra doenças letais como o ébola, a cólera e a febre-amarela.


E através dos investimentos no Acelerador Africano de Fabrico de Vacinas, a Gavi vai contribuir para um mundo mais seguro e ao mesmo tempo para promover a inovação em África.


É assim que o nosso apoio sustentável baseado na solidariedade se traduz numa soberania nacional fortalecida, maior estabilidade nacional e crescimento económico.


É assim que criamos um futuro partilhado mais saudável e mais seguro no interesse de todos. Por isso a minha mensagem aos líderes que se reuniram em Munique é clara: a segurança global sanitária nunca será um jogo de soma-zero. A solidariedade e a segurança são dois lados da mesma moeda.